A Arábia Saudita comemora sua aproximação com o Brasil, especialmente nos últimos cinco anos, com aumento de investimentos mútuos. Em entrevista com Correspondência, o Vice-Ministro dos Assuntos Mineiros da Arábia Saudita, Khalid Saleh al-Mudaifer, destacou a complementaridade entre as economias dos dois países. Enquanto os sauditas vendem parte considerável dos fertilizantes utilizados aqui, os produtos brasileiros estão presentes nos mercados de lá, principalmente carne e soja. O reino também busca minérios brasileiros para abastecer sua economia em expansão, como ferro, lítio, estanho, níquel e nióbio. Há também interesse na experiência do Brasil com mineração, já que a Arábia Saudita entrou recentemente no setor, após a descoberta de importantes reservas em seu território, como ouro, fosfato e minérios raros. Incluindo também a cooperação com outros sectores, como o turismo e o aeroespacial, o vice-ministro acredita que a relação beneficia a modernização e a transição energética em ambos os países. Al-Mudaifer acompanha o ministro da Indústria e Recursos Minerais, Bandar Alkhorayef, e outras autoridades sauditas em uma delegação que já passou por São Paulo e Brasília. O grupo ainda segue para o Rio de Janeiro e Santiago, no Chile, esta semana. Estão na agenda reuniões com ministros, empresários e investidores brasileiros. Confira os principais trechos da entrevista, realizada na embaixada da Arábia Saudita:
Como é a relação bilateral?
A relação entre a Arábia Saudita e o Brasil está crescendo ao mais alto nível e há um grande desejo dos líderes de ambos os lados de aumentá-la. Existem muitas complementaridades nos negócios entre a Arábia Saudita e o Brasil. Temos bons investimentos na indústria alimentícia aqui. Investimos cerca de US$ 1 bilhão em proteínas, aves, carnes e agricultura. O Brasil é o maior exportador de soja e açúcar para a Arábia Saudita, com cerca de 60% do mercado. Também na avicultura, entre 60% e 70% do mercado saudita é composto por produtos brasileiros. Na carne vermelha, isso representa quase um terço do mercado.
Que oportunidades a Arábia Saudita vê no Brasil?
A Arábia Saudita também tem interesse no mercado brasileiro de fertilizantes. Atingimos o patamar de quarto maior exportador para o Brasil, com 16% das vendas. Então, temos essa complementaridade: estamos exportando fertilizantes e importando carne vermelha, aves e agropecuária. Além disso, o Brasil é o segundo maior produtor de ferro; o primeiro de nióbio; e está entre os maiores em lítio, estanho e níquel. Tudo isto é uma grande oportunidade para a Arábia Saudita, que tem uma economia em crescimento. A nossa procura de ferro duplicará até 2030 e há interesse na produção de aço verde, como investimentos em hidrogénio azul (baixo carbono), hidrogénio verde (zero carbono) e energias renováveis.
Você faz parte da delegação saudita que veio ao Brasil para uma série de reuniões com autoridades e empresários. A visita deve render novos investimentos?
Agradecemos muito a acolhida, a aceitação e o interesse do setor empresarial aqui. E também do setor governamental. Construímos uma boa base de relacionamento até o momento, com investimentos na indústria alimentícia, como Minerva e BRF. No setor mineral, a Manara Minerals (mineradora saudita) possui uma joint venture com a Vale, no valor de cerca de US$ 2,5 bilhões. Então, nos últimos cinco anos, houve um crescimento enorme nos investimentos. Haverá outros nos sectores mineiro e alimentar, mas também, talvez, no aeroespacial.
No setor de mineração, recente em seu país, o que a Arábia Saudita busca do Brasil?
A Arábia Saudita acaba de entrar no setor mineiro. Estamos a aproveitar a experiência de outros países, em sustentabilidade, assistência social e relações com as comunidades. Estamos atraindo grandes empresas de exploração. Do Brasil podemos aprender boas práticas, mas também práticas não tão boas que foram usadas historicamente, para mitigá-las aqui e ali. Queremos também aliar as energias renováveis, a utilização das reservas de água e o relacionamento das comunidades com o setor mineiro. Estas são coisas que incluímos agora na nossa nova lei mineira e fomos classificados como o sétimo melhor país em termos de investimentos em mineração nos últimos cinco anos.
Irá o país reduzir a sua dependência do petróleo?
A Arábia Saudita tem a sua Visão 2030, a transformação que começou há cinco ou seis anos e que está a ter muito sucesso. Baseia-se na diversificação da Arábia Saudita, operando todos os motores da economia, como o petróleo e o gás, que são muito importantes agora e serão muito importantes no futuro. Mas também o turismo, a mineração, as indústrias e os novos setores que estão a surgir agora, incluindo megaprojetos, como o NEOM (cidade inteligente e sustentável em construção em território saudita), que mudarão a forma como o mundo lida com a sustentabilidade, o ambiente e a governação. Já atingimos a maior parte dos objectivos do nosso planeamento, e isto dá-nos confiança de que alcançaremos a Visão 2030 ainda antes de 2030. A partir daí, construiremos uma economia ainda maior.
Um dos objetivos da visita ao Brasil é divulgar o Fórum Minerais do Futuro, que terá sua quarta edição em janeiro e reúne ministros de diversos governos e empresários. Quais são suas expectativas para o evento?
É um fórum importante, que está agora a tornar-se o maior fórum para os governos, para os ministros, se reunirem e discutirem o tema. No ano passado, quase 80 países se uniram para definir a agenda para o futuro. E esperamos este ano ter mais ministros, mais empresas, mais CEOs e mais ONGs, mais académicos. A intenção é que todos se unam e encontrem melhores tecnologias para a sustentabilidade, o meio ambiente, a sociedade e o uso da água. Mas também procuramos soluções para fornecer mais minerais ao mundo; aumentar a resiliência da cadeia de abastecimento, minerais; apoiar a transição para fontes renováveis; e (garantir) o futuro de baixo carbono.
Depois de passar pelo Brasil, a delegação segue para o Chile. A agenda abordará os mesmos temas?
O Chile, assim como o Brasil, também possui um forte setor mineral. Eles têm cobre, lítio, mas também uma longa experiência em mineração. A Arábia Saudita está a construir-se para ser um centro regional – ou internacional – de minerais, e também como ligação entre a Ásia, a Europa, a África e o mundo.
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