O mercado de tecnologia da informação (TI) no Brasil enfrenta um desafio, que é a crescente escassez de profissionais qualificados. Um relatório do Google for Startups, de 2023, prevê que o Brasil terá um déficit de 530 mil profissionais de TI até 2025. Esse déficit se deve a um desequilíbrio entre a oferta de empregos e a disponibilidade de talentos.
Uma das principais causas é a procura progressiva por serviços e soluções tecnológicas. À medida que empresas de diversos segmentos buscam digitalizar e adotar novas tecnologias, a necessidade de profissionais capacitados em áreas como desenvolvimento de software, segurança da informação, análise de dados e infraestrutura de redes aumenta exponencialmente.
O sistema educacional brasileiro também apresenta déficit na formação profissional. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), de 2021 a 2025, anualmente, apenas 53 mil profissionais se formarão.
No Distrito Federal, onde há necessidade de proteger dados críticos do governo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, até 2025, será necessária a formação de mais de 100 mil profissionais só no DF.
Outro ponto relevante é a falta de profissionais seniores. Muitas vezes o mercado não consegue reter talentos experientes, o que dificulta a transferência de conhecimento e a formação de novos especialistas, como explica Ciro Jacob, fundador e CEO do Meu RH 360.
“Com o aumento da procura por profissionais da área e a desvalorização do real, quem trabalha com tecnologia e está mais preparado, com inglês fluente, acabou sendo assediado por multinacionais, por empresas que estão em outro país e que acabam pagar por esse recurso tão barato. É barato para os americanos contratarem no Brasil ou na Índia”, explica Jacob, que afirma que isso acaba ajudando a esvaziar o mercado nacional.
A pandemia teve um papel importante na necessidade de aceleração da automação de processos, o que aumentou muito a demanda por pessoas especializadas em desenvolvimento de software, criação de infraestrutura, segurança e tudo que envolve a questão do desenvolvimento e automação.
“Juniorização”
Segundo Jacob, com a grande demanda e escassez de profissionais, observou-se uma tendência à “juniorização” entre os disponíveis. “Alguns dizem-se seniores, mas na realidade estão no nível júnior ou pleno. Se não tomarmos medidas, esse défice continuará a crescer. Veremos cada vez mais profissionais juniores, sem experiência, no mercado nacional , enquanto nossos talentos mais qualificados buscarão oportunidades em empresas estrangeiras”, destaca.
Para tornar o mercado nacional mais atrativo, o CEO acredita que é necessária maior organização. “Devem ser coibidas ações que envolvam múltiplos empregos e empregos, profissionalizando o mercado e contratando mais profissionais em regime CLT. Um plano de desenvolvimento e carreira claro, com metas bem definidas, além de pacotes de benefícios atrativos, contribuiriam para essa mudança”, ele afirma.
“Atualmente, a maioria dos empreiteiros da área são funcionários corporativos, o que impede o acesso aos benefícios tanto para eles quanto para seus familiares. Essas medidas certamente tornaram o mercado mais atrativo”, acrescenta.
As áreas que deverão ser mais afetadas por esse déficit são desenvolvimento de software, segurança da informação e inteligência artificial, afirma o professor Washington Fábio de Souza Ribeiro, coordenador dos cursos de Tecnologia da Informação do Centro Universitário Uniceplac.
Inteligência artificial
Uma pesquisa recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que 37% dos empregos no país poderiam ser afetados pela IA, e isso equivale a cerca de 37 milhões de brasileiros impactados. “Setores como segurança da informação e inteligência artificial são particularmente vulneráveis devido à sua importância estratégica”, destaca Spuza Ribeiro.
Em Brasília, ele afirma que a necessidade de proteger dados governamentais críticos “torna a escassez de especialistas em segurança cibernética um risco significativo”. “Além disso, a falta de profissionais formados em inteligência artificial pode limitar a capacidade de implementação de tecnologias inovadoras que são essenciais para melhorar a eficiência e eficácia dos serviços públicos”, explica.
Outra questão é como os profissionais podem se qualificar melhor para atender às necessidades do mercado. Para Riveiro, a qualificação contínua é fundamental para que os profissionais de TI mantenham sua relevância no mercado. Ele explica que é necessária atualização constante por meio de cursos, certificações e participação em eventos do setor.
“Além disso, o networking e a participação ativa em comunidades tecnológicas podem abrir novas oportunidades e ajudar os profissionais a manterem-se atualizados sobre as últimas tendências e inovações”, conclui.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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