Sem alarde, o Senado Federal aprovou, na semana passada, um “jabuti” — jargão legislativo para trechos que pegam carona no projeto original sem relação direta com a pauta — no projeto de lei Combustível do Futuro, que prevê benefícios para o setor de energia solar . Uma alteração de última hora ampliou de 12 para 30 meses o prazo para que os minigeradores de energia solar concluam as instalações dos painéis e obtenham subsídios em suas contas, encargos que são pagos pelos consumidores de todo o país. As tarifas já tornam a conta de luz do Brasil a mais cara do mundo, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apesar da matriz energética ser menos poluente.
Para se enquadrarem nessa categoria, os geradores devem ter capacidade instalada de 75 kW (quilowatts) a 3 MW (megawatts) —agentes que são, em grande parte, empresas que oferecem energia solar por assinatura, modalidade que está atualmente em uso. na mira do Tribunal de Contas da União (TCU).
A legislação estabelece regras para a geração distribuída de energia, que ocorre principalmente por meio de painéis solares, aprovada em 2022, estabelecendo que esses geradores precisam concluir suas obras em até 12 meses após a aprovação do projeto pelas distribuidoras de energia elétrica para receberem subsídios.
A alteração amplia o período de transição previsto no marco legal da geração distribuída e aumenta o número de projetos que terão subsídios pagos por todos os consumidores. Os subsídios são isenções do pagamento de taxas de distribuição e transmissão pelos beneficiários. A medida busca destravar uma série de projetos aprovados que estão atrasados e poderão ter acesso a incentivos financeiros. Os encargos, porém, acabam sendo pagos por quem não utiliza energia solar, o que aumenta a conta de luz em geral.
A Frente Nacional de Consumidores de Energia informou que ficou surpresa com a emenda apresentada de última hora e rapidamente aprovada no Senado. “Sem debate, sem maiores explicações e com uma velocidade incrível, os senadores votaram a favor de ajustes nas regras para beneficiar a minigeração distribuída solar e aumentar o volume de recursos que os consumidores de todo o país terão que pagar na conta de luz”, destacou. a entidade em nota oficial.
Segundo a entidade, a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) — que inclui subsídios para projetos de geração distribuída — atingiu R$ 40,3 bilhões em 2023, o equivalente a 13,5% da tarifa dos consumidores residenciais. “Esses subsídios em benefício de poucos têm sacrificado milhões de consumidores de energia elétrica no país. Graças a iniciativas como essa e muitas outras que são propostas no Poder Legislativo a todo momento, o Brasil dá ao mundo mais um certificado de incoerência e ineficiência “, criticou.
Inflação pressionada
A indústria também está avaliando os impactos da alteração no setor. O movimento União pela Energia, que reúne 70 associações, afirmou que esta é “uma iniciativa repentina e sem qualquer debate ou avaliação transparente, pega a indústria brasileira de surpresa” e que tem potencial para contribuir para a inflação, dado que os cursos da Energia Elétrica é repassada para todos os segmentos.
A energia elétrica é o segundo componente mais importante do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, com peso superior a 4%. O maior impacto é da gasolina. “Mais uma atitude contra a competitividade da indústria, contra a criação de empregos e com potencial para contribuir para a inflação elevada. O setor produtivo perde e os produtos e serviços ficam mais caros à medida que aumenta o custo da energia no país”, afirmou o Sindicato em uma nota.
A entidade defendeu que o Congresso não avance com a medida. “Em vez disso, deputados e senadores tomam consciência de que o custo da energia no Brasil precisa diminuir e não aumentar, que nossas políticas públicas precisam ser praticadas em benefício da comunidade e não de poucos, e que não há mais espaço para conduzir de tais mudanças relevantes sem transparência e debate”, considerou o documento.
O PL Combustível Futuro, de autoria do governo, visa descarbonizar a matriz energética e prevê aumento na mistura de etanol com gasolina e biodiesel com diesel. Apesar de comemorar a aprovação, o Planalto já sinalizou que trabalhará para derrubar a emenda na Câmara dos Deputados na próxima etapa de tramitação. Procurada pelo Correio, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) não comentou a alteração até o fechamento desta edição.
Peso das cobranças
Mesmo com abundância de fontes de energia renováveis, provenientes da água, do vento e do sol, o Brasil tem o maior custo de eletricidade residencial em relação à renda per capita entre 34 países da OCDE.
Ranking elaborado pela Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace Energia) mostra que, no orçamento familiar, o impacto dos gastos com energia pesa mais sobre os brasileiros do que sobre os consumidores que vivem em economias de maior renda. mais elevadas, como os Estados Unidos e a Espanha, e mesmo entre aqueles que vivem em países emergentes, como o Chile e a Turquia.
O indicador foi construído considerando dados de tarifas residenciais do Brasil, tarifas residenciais de países da OCDE e Produto Interno Bruto (PIB) per capita, segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Agência Internacional de Energia (AIE) e da Agência Monetária Internacional. Fundo (FMI).
Segundo os dados, cerca de 60% da fatura de eletricidade está ligada à geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. O restante é composto por taxas que financiam políticas públicas, subsídios e impostos. “O que torna a energia no Brasil tão cara, infelizmente, é o peso que foi incluído na tarifa final por meio de políticas públicas e subsídios”, disse o diretor de energia elétrica da Abrace, Victor Hugo Iocca.
Hoje, o principal encargo setorial que capta os recursos financeiros para custear essas políticas públicas é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). “A CDE está estimada atualmente em cerca de R$ 30 bilhões que serão cobrados dos brasileiros agora em 2024”, projetou Iocca.
Na conta de luz, o dinheiro do consumidor garante recursos para diversos setores e fundos, muitas vezes alheios à área de energia elétrica. Há recursos destinados, por exemplo, aos segmentos rural e de irrigação, água, esgoto e saneamento. O maior gasto é com o CDE.
Segundo Iocca, as cobranças não são direcionadas apenas às fontes renováveis, mas também às fontes fósseis. “Há quase 50 anos, todos os brasileiros pagam um subsídio para geração de energia a carvão no sul do país, que equivale a pouco mais de R$ 1 bilhão por ano, apoiado por todos os consumidores”, afirmou.
“Então, mesmo que a geração de energia no Brasil seja altamente renovável e barata, a conta final de luz do consumidor é muito cara”, destacou o diretor da Abrace, que ressalta que “o principal desafio para conseguir tarifas mais baixas para o consumidor é fazer com que o Legislativo mudar a forma como se pensa as tarifas de energia elétrica no Brasil”.
Retorno da bandeira vermelha
A partir deste mês, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou aumento na conta de luz devido ao acionamento da bandeira vermelha, que sinaliza que o custo de geração de energia é elevado, geralmente causado pela maior dependência de usinas térmicas, devido à à falta de chuvas e às altas temperaturas no país.
Inicialmente, a nova bandeira tarifária era vermelha nível 2, o que implica um aumento de R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Porém, nesta quarta-feira (4), a Aneel informou que o nível de bandeira vermelha era 1, devido a uma correção de informações do Programa Mensal de Operação (PMO) de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS).
A nova classificação representa um adicional de R$ 4,46 a cada 100 kW/h. As bandeiras tarifárias têm como objetivo sinalizar ao consumidor os custos variáveis de geração de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN). “As cores verde, amarelo e vermelho, este último dividido em dois níveis, indicam se a energia custará mais ou menos dependendo das condições de geração. A bandeira vermelha representa o maior custo, enquanto a bandeira verde não agrega custos extras ao fatura de energia”, destacou Felipe Uchida, chefe do departamento de análise quantitativa e sócio da Equus Capital.
Com a volta da bandeira vermelha, o especialista reforça a importância do consumo consciente de energia. “O uso responsável da energia elétrica é fundamental para evitar desperdícios, preservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade do setor elétrico”, enfatizou.
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