Criar um negócio ou investir em um empreendimento é o sonho de muitos brasileiros e, para 20 milhões de microempreendedores, isso já é realidade. Segundo o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Décio Lima, a entidade está “perplexa” com os indicadores recentes da economia do país, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com alta de 1,4% no segundo semestre do ano — acima das expectativas do mercado.
Lima está otimista com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e não acredita que a inflação suba muito no segundo semestre. “Só neste ano já registramos 2,8 milhões de novas micro e pequenas empresas criadas. Então, não acredito que haverá inflação, porque os números mostram um cenário positivo”, afirmou Lima, aos jornalistas Denise Rothenburg e Ronayre Nunes , em entrevista ao PodCast do Correspondência.
Um dos maiores desafios do Sebrae, segundo Lima, é convencer os microempreendedores a formalizar o negócio, porque é importante e dá credibilidade.” Ele ainda destacou o ganho nesse processo para o Microempreendedor Individual (MEI). que se formalizam como MEI aumentam sua renda em até 25%, além de poder se proteger de possíveis situações, porque passam a ter Previdência Social e passam a ser protegidos pelo Estado”, afirmou.
Na entrevista, Lima destacou que o objetivo do Sebrae é espalhar crédito para micro e pequenas empresas e, para isso, a agência ampliou sua carteira de crédito para R$ 30 bilhões este ano – valor bem acima dos valores recorrentes por ano, de R$ 30 bilhões. US$ 1 bilhão. Ele destacou que muitos microempreendedores não sabem que é possível obter crédito quirografário para montar um negócio no Sebrae.
“Nós do Sebrae criamos um Fundo Garantidor, onde micro e pequenos empreendedores podem ter garantias de investimentos. Com a garantia do Sebrae o risco cai automaticamente e os juros também”, afirmou Lima.
Abaixo estão os principais trechos da entrevista ao Podcast Correspondênciaonde Décio Lima explicou como o Sebrae facilita a vida dos microempreendedores.
A chegada do projeto Brasil Mais Produtivo, que visa introduzir inteligência artificial nos negócios, inclusive para microempreendedores. Como o Sebrae ajuda esse empreendedor a tornar seu negócio mais tecnológico?
Hoje, no Brasil, trabalhamos com os conceitos de economia sustentável e economia globalizada, que se universalizou junto com a inovação, não há mais limites e fronteiras onde o mundo está integrado. Mesmo dentro de um processo de compra e venda existe essa revolução mágica que é a inteligência artificial. É claro que a inteligência artificial precisa de estar envolvida em todos os eventos de desenvolvimento económico. Não há mais longevidade para a economia analógica, inclusive para os microempreendedores.
Como o Sebrae representa isso?
O Sebrae representa todo esse desenvolvimento. Por exemplo, na política de crédito que tínhamos para pequenas empresas, a recorrência anual era de R$ 1 bilhão, e a carteira que lançamos este ano era de R$ 30 bilhões, prática pertinente ao Sebrae para espalhar pela pequena economia brasileira. Mas mesmo assim, 88% dos MEIs não acessam créditos. Agora imagine que numa economia como a nossa, onde 95% das empresas são micro e pequenas (empresas), o que corresponde a 55% dos empregos formais, o setor não mantém acesso ao crédito, ou seja, somos nós que estamos excluídos daí um ambiente tão importante para fortalecer a longevidade dos negócios e a escala com a economia brasileira.
Então, agora temos essa grande porta para empreendedores, e o Sebrae vem com uma experiência rica para levar o que é importante para os microempreendedores. Micro e pequenos empreendedores são aqueles homens e mulheres que acordam de manhã e vão à luta, mas se deparam com um mercado que não foi feito para eles, se deparam com um mercado burocratizado que foi feito para acumular riquezas. O Sebrae acolhe justamente essas pessoas, para dar condições para que invistam em desenvolvimento e inovação.
Como os microempreendedores podem ir atrás desse crédito do Sebrae?
Esse é um grande desafio que temos, porque o Brasil não tem uma cultura de crédito. Então, quando o microempreendedor encontra essa porta de oportunidade de crédito, ele pensa que esse lugar não foi feito para ele, porque não tem garantia. E, num país como o Brasil, ainda temos um processo cultural muito cruel, não temos a cultura de apoiar uns aos outros, não temos o espírito de solidariedade quando se trata do mercado financeiro.
Mas, nós do Sebrae criamos um Fundo Garantidor, onde micro e pequenos empreendedores podem ter garantias de investimentos. Com a garantia do Sebrae, o risco cai automaticamente e os juros também.
O Sebrae vai pegar na mão do microempreendedor e fazer com que ele contrate o crédito com a garantia de que terá a consolidação do seu negócio e saberá que não irá à falência no dia seguinte.
Já é possível observar que as importações brasileiras não vêm mais de grandes conglomerados, qual a avaliação do Sebrae?
Hoje, quando falamos de importação e exportação, de economia globalizada, a grande maioria pensa que isso é coisa de grandes produtores, mas, na verdade, qualquer pessoa pode comprar produtos do outro lado do mundo através do celular, das redes sociais e de inteligência artificial. Mas também estamos levando pequenos e microempreendedores para venderem sua inteligência para o outro lado. Quando olhamos para o grande varejo, hoje, 80% do processo produtivo dessas lojas é feito por pequenos produtores.
Qual a importância do MEI para o Sebrae?
Quem se formaliza como MEI aumenta sua renda em até 25%, além de poder se proteger de possíveis situações, pois passa a ter provisões e passa a ser protegido pelo Estado. Ser formalizado traz mais credibilidade ao negócio. É um desafio permanente para o Sebrae convencer os empresários a se formalizarem, porque é importante para o negócio.
Como o Sebrae avalia o cenário do mercado financeiro com essa alta do PIB acima do esperado?
Quando o Presidente Lula regressou para o seu terceiro mandato, o Brasil tinha claro que não poderia ter um modelo neoliberal de economia, o que seria a ausência de um Estado. Em 2016, éramos a sexta maior economia do mundo. Com a autonomia do Banco Central chegamos à 13ª economia do mundo, voltamos a ser um cenário visível de desemprego, o Brasil voltou ao mapa da fome, com 50 milhões de brasileiros neste ambiente miserável.
Agora, pouco mais de um ano e meio após o retorno de Lula, vemos a maior empregabilidade dos últimos 10 anos. Passamos de 13% de desemprego para 6,8%. Recuperamos o crescimento económico que hoje nos leva a ser a 8ª maior economia do mundo. Por exemplo, com o crescimento de 14% nas vendas de veículos em relação ao ano passado, o Brasil se tornou o segundo país do mundo a receber investimentos internacionais e, agora, no último trimestre. Além disso, o PIB do Brasil ficou em segundo lugar no mundo, com crescimento de 1,4% (no segundo trimestre deste ano). Esses números, aliás, estão nos deixando perplexos no Sebrae, pois, só neste ano, já registramos 2,8 milhões de novas micro e pequenas empresas criadas. Então, não acredito que haverá inflação, porque os números mostram um cenário positivo.
Há críticos que dizem que o cenário positivo é apenas uma onda que o país atravessa, como você avalia isso?
Essas ondas estão atingindo com muita força o país, mas essas ondas não são por acaso, elas se devem à construção do conceito de inclusão e do estado social, do olhar que temos que ter para o Brasil, como um país plural e de riqueza extraordinária. Outros eventos são importantes para recuperar a credibilidade institucional do Brasil, como a presidência do Mercosul. Um ambiente de democracia ajudou a reconstruir o país.
Qual a sua avaliação sobre a posição do governo brasileiro em relação à Venezuela?
O presidente Lula tem a democracia como principal valor, por outro lado tem que ter a cautela de um estadista. A Venezuela é a maior reserva de petróleo do mundo. Portanto, temos que encontrar um caminho que não permita que a soberania latino-americana se perca. Ora, nunca imaginemos que a defesa da América Latina esteja fora dos valores da democracia.
E em relação à polêmica em torno da suspensão do X, como você avalia isso?
O Brasil não se conformou em curvar a cabeça diante de um bilionário (Elon Musk, dono do antigo Twitter). Fico feliz com a decisão do ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal), porque ela protege a autoridade brasileira e os princípios da soberania da nossa nação, mas não gostaria que tivesse chegado a esse ponto.
*Estagiário sob supervisão de Rosana Hessel
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