Diante de uma seca recorde no país, o governo avalia a volta do horário de verão, suspenso em 2019. O Ministério de Minas e Energia deverá concluir, nos próximos dias, um estudo sobre a necessidade e viabilidade da medida.
O Comitê de Acompanhamento do Setor Elétrico (CMSE) também se reúne hoje para retomar a discussão sobre medidas de combate à falta de chuvas e ao impacto nos reservatórios. O último boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado na sexta-feira, elevou a previsão para a carga energética nacional em setembro, ao mesmo tempo que apontou para um nível inferior ao anteriormente esperado para os principais reservatórios de energia. hidrelétricas do país no final deste mês.
A agência projetou um crescimento de 3,2% na carga de energia do SIN (Sistema Interligado Nacional) em relação a setembro de 2023, para 79.679 megawatts médios, contra 1,5% estimado há uma semana.
Quanto aos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, a expectativa é que atinjam apenas 46,9% da capacidade ao final deste mês, ante 47,4% previstos na semana anterior.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já vem dando sinalizações sobre a volta do horário de verão. Ontem, ele reforçou que deve propor a medida à Casa Civil. Sem mencionar datas, considerou que será necessário um amplo planejamento.
“Vamos avaliar o contexto e é muito provável que proponhamos o horário de verão ao governo como decisão final”, disse em entrevista à Rádio Itatiaia.
Escassez de água
A prática de adiantar os relógios uma hora durante os meses de primavera e verão é adotada em vários países e visa aproveitar ao máximo a luz solar e, consequentemente, reduzir o consumo de energia elétrica.
No Brasil, foi instituído em 1931, em decreto assinado pelo então presidente Getúlio Vargas. Ao longo dos sucessivos governos houve alternância entre sua aplicação ou não. A partir de 1985, o presidente José Sarney tornou permanente o horário especial.
Os governos seguintes o mantiveram. O fim do horário de verão foi oficializado durante o governo Jair Bolsonaro, em abril de 2019. A justificativa foi a avaliação de que a redução da economia de energia no período não foi suficiente para justificar os efeitos negativos produzidos no relógio biológico da população.
Agora, Silveira dá outra interpretação e diz que, sim, é preciso reavaliar ou não sua adoção. “O horário de verão se torna uma realidade muito premente. Com essa escassez hídrica, nos horários de pico, entre 18h e 20h, quando perdemos energia solar e a eólica diminui, precisamos despachar energia térmica”, explicou Silveira.
O ministro lembrou que a situação atual é diferente de anos atrás, porque há R$ 9 bilhões em dinheiro para investir nas distribuidoras, mas que é preciso aumentar a segurança e a resiliência do sistema, além do planejamento para 2026. “O O efeito do horário de verão não se trata apenas da segurança energética, porque não temos o risco de uma crise energética, mas temos que aumentar a segurança e a resiliência do sistema, para garantir energia para todos os brasileiros e também temos que planejar para 2026”, enfatizou. . Apesar da orientação do MME, a decisão final depende do Palácio do Planalto.
O ministro disse ainda que o regresso da hora de verão, além de ser necessário para a segurança energética, deverá também dinamizar sectores económicos como o comércio e o turismo, impulsionando a actividade no período em que os dias são mais longos.
Eficácia
A eficácia do horário de verão divide opiniões. Muitos acreditam que prolongar a luz solar alterando o horário é positivo, mas também há quem acredite que a mudança de horário, além de não apresentar resultados significativos no consumo de energia, também é prejudicial à saúde.
O professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes, destacou que o consumo de energia elétrica continuou elevado em 2024 devido às altas temperaturas e à falta de chuvas.
“Tradicionalmente, o nosso consumo é muito elevado durante o verão, devido ao uso mais intensivo de aparelhos de ar condicionado e ventiladores, e reduz significativamente no inverno”, disse ao jornal da instituição. “O que aconteceu este ano é que o consumo subiu muito, por causa do calor, das temperaturas de um período muito quente, e isso fez com que o consumo subisse muito.
Um dado importante é que o consumo mínimo, que vimos este ano em agosto, foi maior que todos os picos de consumo que tivemos nos anos anteriores”, destacou. Apesar do cenário, embora ainda exista pico de consumo no final da tarde e início da noite, o professor lembra que o maior consumo de energia atualmente ocorre no meio da tarde, devido ao uso do ar condicionado.
“O horário de verão, até a última vez em que foi adotado, ainda apresentava alguns resultados em termos de economia de energia. Não tão significativo proporcionalmente como tinha sido nos anos anteriores, mas ainda assim ocorreu”, avaliou.
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