Após dois meses de espera, a Câmara dos Deputados concluiu a votação dos destaques do Projeto de Lei Complementar (PLP) 108/24, que institui o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (CG-IBS). Este é o segundo projeto de regulamentação da reforma tributária que segue para apreciação do Senado.
O texto principal do projeto havia sido aprovado em agosto, por 303 votos a 142. Porém, a análise de sete emendas propostas pelos partidos ficou pendente para ser decidida em votação. A agenda foi paralisada pela falta de acordo quanto às emendas e pelo esvaziamento do Congresso no período das eleições municipais. Os deputados rejeitaram por 262 votos a 136 o destaque que instituiu o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), destinado a bens de valor igual ou superior a R$ 10 milhões.
A proposta visava tentar reduzir as desigualdades econômicas e garantir que os contribuintes com maior capacidade financeira contribuam proporcionalmente mais para os cofres públicos.
A maioria dos partidos desaconselhou a alteração. Um dos argumentos centrais em oposição ao imposto é a dificuldade histórica de muitos países em implementá-lo eficazmente sem prejudicar o ambiente económico ou encorajar a evasão fiscal. “Os milionários têm um ótimo corpo contábil e jurídico e obviamente não vão deixar o dinheiro na conta. O que fazem em todos os países é retirar dinheiro do país, em vez de aumentar a arrecadação”, destacou Gilson Marques (Novo-SC). “As pessoas parecem ter inveja de quem é rico no Brasil”, disse a deputada Eliza Virgínia (PP-PB), que afirmou que o imposto desestimularia o investimento. “Os milionários são responsáveis por grande parte da criação de empregos no país. Quanto mais riqueza houver, mais empregos haverá e as pessoas crescerão igualmente. É sabido que quando se tributa grandes fortunas as pessoas migram para outros lugares”, rebateu.
O tema polêmico, defendido pelo Executivo, foi alvo de divergências dentro da própria base governista, o que libertou a bancada das pautas de voto. Pela proposta, o imposto seria anual, com alíquotas de 0,5% para bens entre R$ 10 milhões e R$ 40 milhões; de 1% acima de R$ 40 milhões para R$ 80 milhões; e 1,5% acima de R$ 80 milhões. O relator do grupo de trabalho da reforma na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), argumentou que a tributação das grandes fortunas já tem previsibilidade constitucional.
“Os 38 países mais ricos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) tributam o dobro do que o Brasil tributa sobre renda e patrimônio. Portanto, o Brasil fez uma escolha histórica de tributar os mais pobres”, destacou. Apesar da derrota, o parlamentar disse acreditar que o tema avançará no âmbito do G20 —grupo das 19 maiores economias do planeta, mais a União Europeia e a União Africana. A proposta de tributação global dos chamados “super-ricos” é o principal foco do Brasil, que ocupa a presidência rotativa do grupo.
Transição
O Comitê Gestor será responsável por coordenar a arrecadação, fiscalização e recolhimento do IBS, que substituirá o ICMS e o ISS. Ele liderará a transição do modelo tributário atual para o novo modelo. De acordo com o texto aprovado, o conselho será uma entidade pública em regime especial, com independência orçamental, técnica e financeira, sem ligação a qualquer outro órgão público. A lógica desse mecanismo é evitar a chamada “guerra fiscal”, fenômeno resultante da disputa entre estados e municípios para oferecer maiores benefícios fiscais ao setor produtivo, prática que acabou comprometendo o orçamento de diversas unidades do país. federação. A composição deste comité, contudo, é também um tema delicado. Os partidos de oposição, que têm posições contrárias à reforma tributária, afirmam que a entidade tira a autonomia do Legislativo e dos entes federados, acumulando autoridade em um órgão central.
“É o fim do Federalismo, o fim do Congresso Nacional e da capacidade autônoma para decidir sobre os tributos locais”, disse o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), vice-líder do PL. Embora a coordenação seja de responsabilidade do comitê gestor, a efetiva fiscalização, lançamento, cobrança e registro da dívida ativa do IBS continuará a ser realizada pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. Entre outros pontos, o projeto também regulamenta a incidência do Imposto sobre Morte e Transmissão de Doações (ITCMD) e permite a utilização de contribuições de iluminação pública para pagamento de câmeras de vigilância.
O primeiro texto da regulamentação, aprovado em julho na Câmara e em tramitação no Senado, definiu os alimentos da Cesta Básica Nacional isentos de impostos, como será o cashback para as famílias de baixa renda, além do regras para cobrança dos três impostos sobre o consumo. (IBS, CBS e Imposto Seletivo) criados pela reformulação do sistema tributário. Com a aprovação do PLP 108, a Câmara finalizou a análise do segundo projeto regulatório. A aprovação da reforma tributária depende agora inteiramente da análise dos senadores. Porém, caso os projetos sofram alterações, precisarão passar por nova análise dos deputados.
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