O desemprego caiu para 6,4% no trimestre de julho a setembro de 2024, atingindo a segunda menor taxa de desocupação da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012. A menor taxa de desocupação foi registrada no trimestre encerrado em dezembro de 2013, 6,3%, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O índice caiu 0,5 ponto percentual frente ao registrado no trimestre de abril a junho, 6,9%; e ficou 1,3 ponto abaixo da taxa de 7,7% registrada no mesmo trimestre de 2023.
Segundo dados do IBGE, a taxa de ocupação no país bateu novo recorde, totalizando 103 milhões. Esse dado é resultado do aumento de 1,2% da população ocupada no trimestre, um aumento de 1,2 milhão de trabalhadores. Na comparação anual, o aumento foi de 3,2%, ou 3,2 milhões de pessoas ocupadas a mais.
É o caso da vendedora Raíssa Guimarães, de 29 anos, que ficou um ano desempregada e decidiu voltar a procurar emprego, após um ano sem trabalho, quando se dedicou aos estudos. “Pedi a demissão para estudar. Mas, consegui uma oportunidade numa empresa que tem possibilidade de emprego e crescimento. Por isso aceitei o cargo. Para ter possibilidade de crescer”, explicou. Agora empregada, ela está focada em consolidar uma nova etapa profissional.
O analista operacional Danilo Rocha, 28 anos, conquistou uma vaga no mercado de trabalho após ficar desempregado por apenas 20 dias. O tempo afastado do mercado foi curto, mas a experiência trouxe aprendizados que o fizeram repensar o futuro. Ele trabalhou por dois anos e meio em uma locadora de veículos até ser surpreendido com sua demissão. Porém, encontrou um novo cargo em outra empresa do mesmo setor. “Só mudei de empresa, mas o cargo continuou o mesmo. Meu conhecimento me ajudou a conseguir uma oportunidade novamente. Não esperava ser demitido, mas acabou me tirando da zona de conforto”, refletiu.
Com a demissão inesperada, Danilo redobrou o desejo de buscar estabilidade no setor público. “A CLT não deixa a gente sossegar. Temos que esperar sempre a possibilidade de perder o emprego. A carreira pública é a única coisa que traz estabilidade”, acrescentou.
Por outro lado, a melhora no mercado de trabalho fez com que quem trabalhava por conta própria voltasse em busca de oportunidade com carteira assinada, como a maquiadora Janaína Ribeiro, 43. Para ela, que também tem loja, o desemprego nunca foi um problema. realidade, porém, decidiu voltar ao regime CLT, aproveitando a quantidade de oportunidades de emprego por conta das festividades de final de ano. “Trabalhar como freelancer estava afetando minha vida financeira, porque é preciso um bom planejamento. Caso contrário, a falta de capital de giro atrapalha”, disse ela.
Mesmo de volta ao trabalho formal, Janaína pretende continuar trabalhando como freelancer nas horas vagas, buscando ampliar sua loja e atender mais clientes. “A CLT traz essa estabilidade, mas você não pode se acomodar. Não é garantia de que você terá emprego para sempre”, afirmou.
Diante da queda do desemprego, o número de desocupados em busca de emprego subiu para 7 milhões, o menor desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. O resultado mostrou quedas significativas em ambas as comparações: -7,2% no trimestre, ou 541 mil menos pessoas procurando trabalho e -15,8% em comparação com o mesmo trimestre móvel de 2023, ou 1,3 milhão de pessoas a menos.
Na avaliação de Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, a tendência de queda do desemprego resulta da contínua expansão do número de trabalhadores que estão sendo demandados pelas diversas atividades econômicas.
Maior contingente
Indústria e comércio foram as atividades que impulsionaram o aumento da ocupação no trimestre, com aumentos, respectivamente, de 3,2% e 1,5% em seus contingentes. Juntos, absorveram 709 mil trabalhadores, na comparação trimestral (416 mil da indústria e 291 mil do comércio). Além disso, a população empregada no comércio atingiu um recorde histórico, atingindo 19,6 milhões de pessoas. Os demais grupos mantiveram estabilidade na comparação trimestral. “Em especial, a indústria registrou aumento do emprego com carteira assinada. No comércio, embora o emprego formal também tenha aumentado, o crescimento predominante foi pelo emprego sem carteira assinada”, explicou o técnico do IBGE.
Analistas apontam que a queda do desemprego representa um avanço histórico no mercado de trabalho, mas alerta para que o Banco Central mantenha uma política monetária mais restritiva. Em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o novo ciclo de aumento da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,75% ao ano.
“Essa melhora no mercado de trabalho ocorre em um ambiente macroeconômico delicado, onde a inflação e o custo do crédito podem exigir uma resposta mais intensa do Banco Central nos ajustes da Selic, principalmente se o aumento do número de trabalhadores pressionar consumo e dificulta o controle inflacionário”, disse Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus.
Especialistas lembraram ainda que o mercado de trabalho mais aquecido ajuda a pressionar a inflação, pois aumenta o consumo das famílias devido ao maior poder aquisitivo da população, deixando a demanda aquecida. “Embora isso seja positivo para a renda familiar, o aumento do consumo, aliado à inflação, pode exigir que o Banco Central tenha uma política de juros ainda mais restritiva. Essa medida, se necessária, poderá desacelerar os investimentos e afetar o crescimento, sinalizando um período de desafios para equilibrar a expansão do emprego com a estabilidade económica”, alertou Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest.
Folha salarial
“Embora a renda média tenha permanecido estável no trimestre, o crescimento em relação ao ano passado reflete uma ligeira recuperação na capacidade de consumo da população. Este cenário de queda do desemprego, aumento de salários e criação de empregos formais pode apoiar o consumo interno, impulsionando setores da economia que dependem de demanda interna”, destacou Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
Na avaliação de Lima, no contexto da política monetária, esses resultados poderiam pressionar o Banco Central a permanecer cauteloso nas decisões do Copom. “Com o recente aumento e a sinalização de novos aumentos nas taxas de juros, a autoridade monetária tem focado no controle da inflação, mas o fortalecimento do mercado de trabalho e o aumento dos salários, embora positivos, podem contribuir para uma pressão inflacionária de longo prazo. Dessa forma, a decisão do Banco Central de manter o ciclo de aumento da taxa Selic se justifica como um mecanismo de equilíbrio para conter uma potencial aceleração dos preços, enquanto o mercado de trabalho permanece aquecido”, acrescentou.
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