O Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (6), aumentar a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 11,25% ao ano, em meio a crescentes preocupações com o aumento das pressões inflacionárias, com um cenário externo mais incerto e a piora da situação fiscal, sem uma definição do novo pacote de corte de gastos do governo.
A decisão foi unânime, mas o BC não sinalizou quando pretendia encerrar o ciclo de alta dos juros, iniciado em setembro. Na reunião anterior, em setembro, a Selic havia subido 0,25 ponto, para 10,75% ao ano, após três reuniões de estabilidade.
Após a decisão, os analistas fizeram novas projeções para as taxas de juros ao final deste novo ciclo de alta. Agora, a taxa de juros real (descontada a inflação) no Brasil subiu para 8,08% ao ano, considerando a inflação projetada para os próximos 12 meses, segundo dados da MoneYou. O país fica atrás apenas da Turquia e da Rússia, cujas taxas de juros reais anuais são de 15,18% e 12,19%, respectivamente.
No comunicado informando o resultado da reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC fez poucas alterações em relação à nota da reunião anterior, mas piorou a perspectiva para a inflação futura e elevou de 4,36% para 4,60% a inflação deste ano previsão — acima do limite máximo de 4,50%. Para 2025 e primeiro trimestre de 2026, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passaram de 3,7% e 3,5% para 3,9% e 3,6%, respectivamente.
O painel reforçou a preocupação com a questão fiscal e com o aumento das incertezas no mercado externo, que aumentam as pressões inflacionárias e fazem com que o Copom continue sem sinalizar quando pretende encerrar o ciclo de aumento dos juros. Segundo a nota, o mercado interno continua marcado pela persistência dos efeitos da incerteza sobre o cenário fiscal e pela desancoragem das expectativas de inflação. Os dados da atividade económica e do mercado de trabalho continuam a mostrar dinamismo e a inflação corrente, bem como os seus núcleos, estão acima da meta de 3%, até ao horizonte relevante, ou seja, até ao primeiro trimestre de 2026. “O ritmo dos ajustamentos das taxas de juro futuras e a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergir a inflação para a meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”, destacou a nota do Comitê.
O aumento no ritmo do aperto monetário era esperado pelo mercado e os analistas começaram a aumentar suas previsões para a taxa Selic ao final do ciclo de alta dos juros. Segundo o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o piso da taxa terminal Selic deverá ser de 12,50% ao ano. “A justificativa para esse aumento dos juros, segundo o Banco Central, tem a ver com a piora do equilíbrio de riscos. A desancoragem das expectativas continua. A inflação dos serviços não apresenta convergência e, o mais importante, ainda há uma dinâmica cambial desfavorável”, afirmou.
Segundo Padovani, devido ao cenário global e às incertezas fiscais locais, é possível que o Banco Central continue aumentando os juros em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões de dezembro e janeiro, encerrando o ciclo com alta de 0,25 ponto percentual , para 12,50%. “O cenário do Banco BV, que considera alguma medida de ajuste fiscal e desaceleração econômica em 2025, funciona com corte de juros a partir do segundo semestre, com a taxa básica encerrando o ano em 11,50%, afirmou.
Caio Megale, economista – chefe da XP Investimentos, elevou de 12% para 13,25% ao ano, devido à piora nas projeções de inflação do Copom. “O comunicado pós-reunião manteve conteúdo semelhante ao anterior, destacando os riscos para as perspectivas de inflação e mantendo um tom duro (hawkish, no jargão econômico) em relação ao futuro da política monetária”, destacou Megale. Segundo ele, considerando as incertezas que temos pela frente, “faz sentido manter as possibilidades abertas”. Ele prevê mais quatro aumentos de 0,50 ponto percentual na Selic nas próximas reuniões do Copom.
“A declaração foi dura na mensagem ao governo e foi dura ao mostrar que a política monetária terá que ser mais rígida do que o precificado no Focus. Portanto, a menos que tenhamos um pacote de ajuste fiscal que reverta as expectativas do mercado quanto ao compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas, os cenários em que as taxas de juros tenham que ultrapassar 13% ao ano ou sejam mantidas acima de 12%% ao ano por mais tempo, ganharão força”, disse Luis Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Na opinião de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não havia espaço para o BC fazer outra coisa senão aumentar a taxa Selic para o novo patamar. “A inflação continua pressionada nas expectativas. Não havia justificativa para que fosse diferente e o BC reforça que a mudança na trajetória das expectativas fiscais é fundamental para pensar em maior controle da inflação e dos juros no futuro”, afirmou. Ele estima que a taxa Selic encerrará o ciclo de aumento dos juros em 12,75% ao ano.
José Francisco de Lima, economista-chefe do Banco Fator, destacou que, no comunicado, a maior preocupação continua a ser o cenário fiscal, responsável por afetar, “de forma relevante, os preços dos ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o risco de prêmio e a taxa de câmbio”.
Setor de produção
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o novo aumento da taxa Selic foi “excessivo”, dado o atual cenário inflacionário. “Dados recentes sobre a inflação oficial do país mostram que, em 12 meses, tanto o índice geral quanto os itens mais sensíveis às taxas de juros estão dentro da meta para 2024”, destacou a nota da entidade. Segundo a Firjan, o nível atual de taxas de juros é elevado e “inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria, especialmente da indústria de transformação, que registra queda na produção há dois anos consecutivos” e compromete os investimentos, “que continuam abaixo do a média mundial”. “As incertezas relacionadas à condução da política de comércio exterior a ser adotada pelo novo governo americano tornam o cenário de médio prazo ainda mais desafiador”, acrescenta o comunicado.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a decisão do Banco Central e disse ter recebido “com indignação” o comunicado do Copom, que vai contra outros países, que estão reduzindo os juros em vez de aumentá-los. “Além de equivocado, o movimento de alta se intensificou, pois o Banco Central aumentou a taxa de aumento em 0,25 ponto percentual em relação à reunião anterior”, afirmou a nota da CNI.
Na avaliação da entidade, a decisão do Copom foi “extremamente conservadora”, porque o patamar em que a Selic estava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle. “É importante notar que a inflação foi impactada por fatores sobre os quais a política monetária não tem efeito. Portanto, o aumento da Selic só trará perdas desnecessárias à atividade econômica, com consequências negativas em termos de geração de empregos e renda para a população”, completou.
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