O pacote de corte de gastos do governo deverá incluir também o Ministério da Defesa, departamento sob o comando de José Múcio Monteiro. O Executivo, porém, enfrenta resistência dos militares que ficaram à margem da discussão e foram poupados na Reforma da Previdência em 2019. A maior preocupação dos integrantes das Forças Armadas é com as mudanças nas regras da Previdência Militar —conhecida como o sistema de proteção social. Argumentam que sofreram com a perda de benefícios nos últimos anos e que contingências não poderiam ocorrer agora.
O orçamento da Defesa é o quinto maior da Esplanada. Para o próximo ano, a proposta orçamentária enviada ao Congresso prevê R$ 133,6 bilhões para o departamento. Desde o início dos debates sobre a revisão dos gastos, a equipe econômica defende a revisão da aposentadoria militar, mas a agenda não avançou e o departamento liderado por Múcio ficou de fora das reuniões entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os demais ministérios. que entrou na terceira semana.
Uma das alternativas é acabar com a pensão vitalícia para filhas solteiras de militares. O benefício foi extinto em 2001, mas mantido para militares que ingressaram nas Forças Armadas até 2000. O gasto, porém, ainda é de bilhões. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), os militares arrecadam cerca de R$ 9,1 bilhões para o sistema de proteção social, enquanto os gastos chegam a R$ 58,8 bilhões.
O presidente Lula se reúne hoje com José Múcio e representantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Os militares indicaram que não consideram justa a exclusão da pensão para filhas solteiras, pois o benefício foi conseguido através de um desconto extra no salário militar —mas aceitam negociar reajustes específicos.
Mistério
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantiu que o tamanho do corte deverá ser deliberado antes do feriado de sexta-feira. O chefe da equipa económica fez mistério ao anunciar que um novo departamento seria chamado para participar no plano de revisão de despesas obrigatórias. Os interlocutores de Lula avaliam que as restrições orçamentárias aos militares compensariam os cortes nas áreas sociais, potencialmente impopulares entre o eleitorado mais pobre. Por enquanto, segundo fontes consultadas pelo Correio, estão descartados cortes em benefícios sociais, como Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou alterações no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), recolhido diretamente pelas empresas e guardado em conta atribuído a cada trabalhador.
Tanto o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, quanto o ministro da Previdência Social, Wellington Dias, afirmam que não aceitam cortes que penalizem a população mais vulnerável. Entendem que estas medidas — que incluem a desindexação do BPC e da Segurança Social do salário mínimo — contradizem a agenda prometida durante a eleição do governo.
Para o economista e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Benito Salomão, o ajuste fiscal não deve afetar apenas a área social nem poupar militares. “É claro que não estamos falando de um ajuste que afetará apenas os militares. Outras áreas serão afetadas. Esta é a dificuldade da austeridade fiscal nas democracias.”
“O vilão da história”
O tema também causou repercussão nas redes sociais. Ele escreveu que o governo decidiu “atacar” esse direito nos integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e quer apresentá-los, segundo o senador, como o “vilão da história”.
O senador foi bastante criticado por outros usuários da rede. Alguns perfis relembraram dados compilados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em junho deste ano, que indicam que a aposentadoria militar provoca um déficit per capita 16 vezes maior do que o registrado pelos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
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