No ano em que a imigração italiana para o Brasil completa 150 anos, o comércio bilateral continua crescendo a dois dígitos, enquanto o total das exportações brasileiras encolheu 5,3%, de janeiro a outubro deste ano.
Na opinião do embaixador italiano no Brasil, Alessandro Cortese, as comemorações que acontecem ao longo deste ano são uma oportunidade para ampliar os laços entre os dois países. O diplomata, que acaba de completar um ano à frente da representação italiana no país, saúda o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
“Assim como aconteceu com o Canadá, há 20 anos, esse acordo tende a ampliar o comércio bilateral, depois de retirados alguns obstáculos”, afirma, em entrevista ao Correspondência. Segundo ele, no caso do Brasil e da Itália, há um grande potencial de crescimento no comércio, porque não há concorrência direta entre os produtos brasileiros e os italianos na Europa. “Nosso saldo é formado por produtos complementares”, enfatiza.
Para Cortese, é questão de tempo para que esse acordo seja assinado, apesar da resistência da França, do lado europeu, e da Argentina, do lado sul-americano. “Os dois blocos não têm voz única. Mas acho que, no final, os problemas serão resolvidos de alguma forma”, afirma.
Na opinião do embaixador, a vitória do republicano Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos deverá ajudar na retomada das negociações para a conclusão do acordo UE-Mercosul. Com Trump no poder, os EUA tendem a ser mais protecionistas, o que tende a acelerar a aproximação de outros blocos comerciais. “Esta poderia ser uma oportunidade para lançar o acordo entre a UE e o Mercosul”, afirma.
Segundo o diplomata, com o acordo de livre comércio UE-Mercosul, produtos italianos, como vinhos e queijos, poderão chegar ao Brasil muito mais baratos. Atualmente, acabam custando “praticamente o dobro” do que custam na Itália devido às tarifas de importação.
comércio próspero
A balança comercial entre Brasil e Itália é favorável ao país europeu. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), as exportações brasileiras cresceram 16,2% de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2023, totalizando US$ 3,9 bilhões. Os embarques de produtos brasileiros com destino à Itália aumentaram 10% nos primeiros 10 meses do ano, para 5,4 mil milhões de dólares, resultando num défice comercial de 1,5 mil milhões de dólares no mesmo período.
Cortese destaca que, este ano, pela primeira vez desde Silvio Berlusconi, em 2010, um primeiro-ministro italiano visita o Brasil. Giorgia Meloni chegou ontem à noite ao Rio de Janeiro para participar na cimeira do G20 — grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta, mais a União Europeia e a União Africana —, que se realiza amanhã e terça-feira.
Após receberem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em junho, na sede do governo italiano, Meloni e Lula devem agora se reunir na capital fluminense. O presidente brasileiro agendou diversas reuniões bilaterais com chefes de estado e de governo nos próximos dias. O primeiro-ministro italiano está nesta lista, assim como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jinping.
Quando questionado sobre a questão da tributação dos super-ricos — uma das propostas do governo brasileiro na cúpula do G20, Cortese é bastante diplomático e evita comentar porque não participou das conversas ministeriais. “De modo geral, acho que o Brasil fez um excelente trabalho como presidente do G20. E acho que o combate à fome e o problema do meio ambiente são temas importantes para a governança global e são temas que também aparecem na agenda do G7 e da Itália também compartilha dessas preocupações”, destaca Cortese.
Ele lembra que o governo italiano detém a presidência, este ano, do Grupo das Sete economias mais industrializadas do planeta —Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, Itália e Canadá.
Eventos comemorativos
A embaixada tem organizado feiras e exposições em comemoração aos 150 anos da imigração brasileira, além de organizar a exposição de arte “Oltreoceano” em julho de 2024, em parceria com o Museu de Arte de Brasília e a Frente Parlamentar Brasil-Itália. A exposição, com obras de artistas brasileiros de origem italiana, como Alfredo Volpi, Alfredo Ceschiatti, Candido Portinari e Anita Malfatti, realizada no salão negro do Congresso Nacional, contou com a visita do presidente da República Italiana Sergio Mattarella durante sua visita Visita de Estado ao Brasil, este ano.
Dando continuidade às comemorações no Brasil, a embaixada realizará a 5ª edição do “Vini D’Italia — Salão do Vinho Italiano no Brasil”, no dia 21, em evento fechado, voltado ao público especializado do setor, na sede da representação diplomática. O evento busca promover a excelência do vinho italiano e fortalecer os laços vínico-gastronômicos e comerciais entre os dois países.
A iniciativa faz parte da IX Edição da Semana da Cozinha Italiana no Mundo organizada pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália e busca estimular a promoção e comercialização do vinho italiano no Brasil, mercado com enorme potencial para esse consumo. .
As importações de vinhos italianos para o Brasil estão crescendo. De janeiro a outubro de 2024, houve aumento de 9,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 7,9 milhões de litros e aumentando a participação da Itália no mercado brasileiro de vinhos para 6,3%. No mesmo período, as importações de vinhos espumantes italianos aumentaram 12,4%, atingindo 796,2 mil litros, com a quota italiana a subir para 14,9%.
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