O setor sucroalcooleiro continua crescendo, com importância significativa para a economia mineira, superando os impactos das mudanças climáticas. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a previsão é que na safra 2024/2025 Minas Gerais atinja uma produção de 6 milhões de toneladas de açúcar, consolidando-se como o segundo maior produtor nacional, com crescimento esperado de 10,3% em relação para a safra 2023/2024. Caso a previsão se confirme, será a maior produção de açúcar de Minas Gerais desde o início da série histórica (2005/2006), segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
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Com área plantada de 950,7 mil hectares de cana-de-açúcar, o estado tem previsão de produção de 81,9 milhões de toneladas de matéria-prima, aumento de 0,6% em relação à safra anterior. O estado também é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país, respondendo por 12% da produção nacional.
Essa safra também garante a Minas um patamar de destaque na produção de etanol, sendo o quinto maior produtor nacional. Na safra 2024/2025, a produção de álcool em Minas Gerais está estimada em 3 bilhões de litros, embora neste caso com redução de 8,3% em relação à safra 2023/2025 (3,3 bilhões de litros), informa Seapa, com base na previsão da Conab .
O presidente da Associação das Indústrias Açucareiras e Energéticas de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mario Campos, destaca que a colheita de mais de 80 milhões de toneladas de cana prevista para a safra 2024/2025 no estado é muito significativa e é o resultado de novos investimentos no setor, mesmo diante dos desafios das mudanças climáticas.
“Nos últimos anos, a atividade canavieira aumentou em Minas, com aumento da área plantada e investimentos para aumentar a produtividade agrícola. É claro que os números da colheita final dependem muito do clima. A safra 2024/2025 está sendo caracterizada por uma estiagem, talvez a maior que já vimos na história do estado em áreas agrícolas e isso certamente prejudicou o nosso potencial”, relata Campos.
“Poderíamos até ter moído mais que no ano passado, se não tivéssemos enfrentado essa seca. Mas nós, do setor sucroenergético, já estamos acostumados com isso. Na verdade, o que temos visto nos últimos anos é a utilização de novas tecnologias e diferentes formas de produção, para que possamos reduzir os efeitos das alterações climáticas”, afirma.
Tecnologia para superar o mau tempo
O representante da Siamig Bioenergia destaca que o setor agrícola tem enfrentado variações climáticas muito pronunciadas – “às vezes chove muito, às vezes há secas muito severas”. Diante da instabilidade climática, destaca ele, uma das medidas adotadas pelas usinas sucroalcooleiras é o investimento na irrigação, utilizando, além do pivô central, outras técnicas voltadas ao uso racional da água, como o gotejamento ou o hidro roll, um estrutura que permite a movimentação do sistema de mangueiras utilizadas na irrigação em diferentes áreas do canavial.
O presidente do Comitê Técnico Cana-de-Açúcar da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Carlos Márcio Guapo, destaca a relevância do crescimento do segmento. “O setor sucroenergético se consolidou como um dos mais importantes do agronegócio mineiro, contribuindo significativamente para a economia, a sociedade e o meio ambiente”, aponta Guapo, lembrando que o estado é responsável por 13% da produção nacional de açúcar e 11 % de etanol. Brasileiro. Guapo destaca ainda que em termos de exportações, o setor representa 12% das vendas externas do agronegócio mineiro.
O representante da Faemg também chama a atenção para o aumento significativo da produtividade da cana-de-açúcar em Minas. Em 2023, a produtividade média passou de 70,5 para 81 toneladas por hectare nos canaviais mineiros, enfatiza.
Carlos Guapo lembra que, além dos benefícios económicos, o setor tem investido na formação e qualificação profissional. Atualmente, o Sistema Faemg/Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) oferece 40 cursos voltados ao desenvolvimento tecnológico e ao conhecimento na cadeia produtiva. “Esse trabalho, além de garantir avanços na produtividade, é fundamental para a sustentabilidade e responsabilidade social do setor”, destaca.
Combater incêndios é um desafio nos canaviais
Ao longo do ano surgiram relatos de incêndios em canaviais em diversas regiões brasileiras. O presidente do Comitê Técnico Cana-de-Açúcar da Faemg afirma que o combate às queimadas nas áreas de plantio das usinas é uma “preocupação constante” em Minas.
“Podemos dizer que hoje fizemos um bom trabalho nesse sentido. O estado conta com uma estrutura de combate e prevenção que conta com 800 caminhões-pipa e equipes treinadas tanto pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) quanto pelas próprias indústrias, em parceria com o Corpo de Bombeiros. Apesar dos desafios, o setor sucroenergético mineiro tem demonstrado resiliência e compromisso crescente com práticas sustentáveis”, garante Carlos Guapo.
Receita e investimentos
Segundo o governo do estado, o valor bruto estimado da produção de cana-de-açúcar em Minas Gerais na safra 2024/2025 é de R$ 14,6 bilhões (2,3% superior ao da safra passada). O complexo sucroalcooleiro está entre os cinco principais produtores do agronegócio exportados pelo estado. Em 2023, o setor registrou receita de US$ 1,8 bilhão em exportações, com volume vendido de 4 milhões de toneladas ao mercado externo. O Brasil é o maior exportador mundial de açúcar.
O setor sucroalcooleiro também tem atraído investimentos para o estado. Em abril deste ano, por exemplo, foi anunciado o investimento de R$ 3,5 bilhões da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) para ampliar a moagem de cana-de-açúcar e a capacidade de produção das três unidades do grupo no Triângulo. Mineiro.
Conforme anunciado pelo governo do estado, o investimento foi previsto para um período de seis anos, com expectativa de viabilizar a abertura de 3 mil empregos diretos. Na semana passada, a Siamig informou que a CMAA, uma de suas afiliadas, mantém o ritmo de investimentos.
A Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) lembra que em setembro de 2023 foi feito o anúncio de um investimento de R$ 11 bilhões no setor mineiro de bioenergia. O aporte foi anunciado por 12 grupos econômicos, com foco principal no Triângulo.
O governo mineiro garante que o estado continua atraindo investimentos no setor de bioenergia. Para tanto, apresenta como atrativos a disponibilidade de áreas cultiváveis, a localização geográfica e a organização do setor. Destaca também a parceria entre o setor sucroalcooleiro e o poder público.
Seapa informa que diversos fatores estão sendo criados pelo poder público para incentivar e atrair investimentos no cultivo da cana-de-açúcar e na produção de açúcar e etanol. “O governo de Minas, tanto no âmbito Executivo quanto no Legislativo, tem buscado apoiar e contribuir com iniciativas que incentivem os investimentos no setor no estado”, afirma.
Como exemplo, a secretaria cita a Lei estadual 24.652/2024, que tem como tema o slogan “Na hora de abastecer, escolha o etanol”, de autoria do deputado estadual Raul Belém, que cria a Política Estadual de Incentivo ao Consumo de Etanol.
Perspectivas para os próximos anos
O presidente da Associação das Indústrias Açucareiras e Energéticas de Minas Gerais, Mário Campos, destaca que nos últimos anos houve um aumento nos investimentos de empresas do setor gaúcho, com usinas que antes só produziam etanol e também optavam pela produção de açúcar. Ele lembra que o estado possui 35 unidades mistas, equipadas para a fabricação de açúcar e etanol. “Observamos que grande parte das usinas que produziam apenas etanol também passaram a produzir açúcar, o que é muito normal na atividade canavieira”, comentou.
O representante da Siamig vê boas perspectivas para o setor nos próximos anos, com as fábricas investindo na expansão de suas fábricas. “Hoje vemos plantas ultrapassando a marca de 4 milhões de toneladas (por safra). A maior do estado colhe mais de 7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Então, estamos falando de unidades em uma escala muito maior do que no ano passado. Temos esse crescimento vertical das unidades existentes.”
Entre as empresas do setor sucroalcooleiro que investem na expansão em Minas Gerais, Mário Campos cita, além da CMAA, a Prata Bioenergia, que, este ano, anunciou a construção de uma nova unidade no município de Prata, no Triângulo Mineiro.
Safra nacional se aproxima de recorde
A estimativa para a produção brasileira de cana-de-açúcar na safra 2024/2025 é de 689,8 milhões de toneladas. O volume, se confirmado, será o segundo maior colhido na série histórica acompanhada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), atrás apenas da produção obtida na safra anterior. Segundo a Conab, a atual safra tem área plantada estimada em 8,63 milhões de hectares de cana-de-açúcar. A produtividade esperada é de 79.953 quilos de cana por hectare, queda de 6,6% em relação ao período anterior devido aos baixos índices pluviométricos e às altas temperaturas no Centro-Sul do país.
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