Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento (MPO) apresentam, nesta sexta-feira (22), o relatório de avaliação de receitas e despesas do 5º bimestre. Os dados observados no período obrigarão a equipa económica a realizar um novo bloco de despesas no Orçamento deste ano.
Segundo fontes governamentais, esse bloqueio adicional deverá valer cerca de R$ 7 bilhões e não há previsão de contingência. A contenção de gastos visa cumprir a meta fiscal prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que permite um déficit primário de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), ou R$ 28,8 bilhões. Esse é o piso da meta perseguida pelo governo. O relatório bimestral anterior já continha previsão de redução de R$ 40,5 bilhões em despesas que ficarão de fora do cálculo, como pagamento de precatórios, auxílio financeiro contra enchentes no Rio Grande do Sul e combate a incêndios florestais.
Os gastos são bloqueados quando a estimativa de despesas ultrapassa o limite definido no quadro fiscal. A contingência depende da revisão por parte do governo das estimativas de receitas e despesas para os últimos dois meses do ano. Na edição anterior, o governo fez malabarismos contábeis entre liberações e contingências e anunciou uma contenção adicional de R$ 13,3 bilhões.
Na noite desta quinta-feira (21), ao deixar o ministério, o ministro Fernando Haddad disse aos jornalistas que a receita continua “em linha com o que foi projetado pelo Tesouro e as despesas exigirão novos bloqueios”. Afirmou que o bloqueio está em linha com o valor que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, havia adiantado, cerca de R$ 5 bilhões, “mas um pouco superior”.
Os analistas também prevêem receitas extras que poderão ajudar o governo com este orçamento a cumprir a meta fiscal deste ano, tais como dividendos de empresas estatais e a partilha de despesas planeadas que não foram executadas. Segundo cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), por exemplo, para cumprir o piso dessa meta fiscal, o governo precisaria de um corte adicional de R$ 13,6 bilhões. E, se a equipe econômica liderada por Haddad voltasse a perseguir a promessa de fechar o buraco nas contas públicas do governo federal, a economia necessária seria maior, de R$ 42,3 bilhões.
O diretor da IFI, Alexandre Andrade, destacou que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de bloquear as emendas do Pix ajudou o governo a conter despesas de cerca de R$ 16,5 bilhões, o que contribuiu para que o novo bloqueio de despesas acabasse sendo menor . O técnico lembrou que “podem surgir novas fontes de recursos”, como os cerca de R$ 20 bilhões em dividendos de estatais federais já anunciados.
Segundo estimativas de Manoel Pires, coordenador do Núcleo de Política Fiscal e Orçamento Público do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), aliado ao novo bloqueio, o contingenciamento total de despesas orçamentárias poderá ultrapassar R$ 20 bilhões. “Este é um número elevado para os padrões históricos”, destacou.
Pacote fiscal
Enquanto o governo tenta equilibrar as contas de 2024, o mercado continua esperando o novo pacote fiscal prometido pelo ministro Haddad desde o final de outubro e cujo anúncio está previsto para a próxima semana, na segunda-feira, segundo o ministro Haddad. “Já avançamos algumas medidas para alguns parlamentares e alguns líderes e é suficiente para reforçar o quadro fiscal”, afirmou Haddad.
A expectativa do mercado é de um corte em torno de R$ 70 bilhões, mas analistas ainda esperam que esse pacote fique desidratado quando for ao Congresso. Segundo Manoel Pires, do Ibre, ainda existem duas dimensões do que significa “resolver” a questão tributária. “A primeira é como o mercado deve encarar isto e o impacto nas taxas de juro e nas taxas de câmbio. Se o pacote ajudar a flexibilizar essas duas variáveis teremos um bom resultado, porque a economia tende a melhorar. Acho que o governo busca principalmente isso. A segunda é se resolve as pressões do quadro daqui para frente e o problema fiscal”, alertou.
Segundo ele, o pacote poderá dar uma boa melhoria no cumprimento do quadro em 2025/2026, “embora, talvez para 2026, seja um pouco apertado”. “Mais tarde, outras coisas poderão ser necessárias, mas este pacote não pretende ser uma solução milagrosa. O fiscal é sempre pensado como uma solução em construção em que as medidas são ajustadas ao longo do tempo”, destacou. Na avaliação de Tiago Sbardelotto, economista da XP Investimentos, o mercado já considera que o novo quadro não é sustentável. “Será necessário discutir regras de gastos. As atuais não são sustentáveis se, a cada quatro anos, o governo decidir mudar a regra”, lamentou.
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