Depois de uma semana nervosa, o dólar fechou em alta nos últimos cinco dias. Ontem, fatores externos contribuíram para a nova alta histórica da moeda norte-americana, cotada a R$ 6,07 — maior valor de fechamento de toda a série histórica, alta de 1,09%.
Durante a tarde, o câmbio chegou a R$ 6,09, mas caiu levemente no final do dia. Os principais assuntos que tomaram conta do mercado durante o dia foram o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, assinado ontem após uma espera de mais de duas décadas, além dos dados relativos ao mercado de trabalho nos Estados Unidos, que trouxeram boas notícias para os americanos, com as contratações em ascensão e a taxa de desemprego estável.
O payroll — relatório sobre empregados e desempregados — foi divulgado ontem de manhã pelo US Bureau of Labor Statistics (BLS) e revelou um ligeiro aumento da taxa de desemprego em novembro face aos meses anteriores, registando 4,2%, contra 4,1% em outubro. e setembro. No mês passado, a taxa de desemprego era de 3,6%.
Por outro lado, os dados mostram também que houve um aumento nas contratações líquidas, com a criação de 227 mil novos empregos, acima das expectativas do mercado, e consideravelmente superior a outubro, quando eventos climáticos e greves trabalhistas impactaram o resultado mensal .
Em relação aos salários, o crescimento também foi ligeiramente superior ao esperado, com um aumento de 0,4%, mesmo valor apresentado em outubro e significativamente inferior ao registado em novembro de 2023, quando se registou um aumento de 4%, que segundo analistas de mercado , deverá gerar menos pressão inflacionária. Segundo a plataforma FedWatch do CME Group, a probabilidade de o Federal Reserve (Fed) — Banco Central dos EUA — realizar um novo corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros na próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) ), passou de 68,4% para 91%, após a divulgação da folha de pagamento.
Na avaliação do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, os números do relatório de emprego de novembro mostram que o mercado de trabalho norte-americano segue robusto e confirmam o cenário de pouso suave dos juros no país. “Após a divulgação dos indicadores, cresceu o consenso em torno da expectativa de que o Fomc faça mais um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros em sua última reunião do ano, deixando em curso possíveis mudanças para 2025, depois de conhecermos melhor a política econômica medidas da nova administração Trump”, avalia.
Por conta disso, a valorização do dólar frente ao real não foi exceção. Pelo contrário, a moeda dos EUA beneficiou de dados positivos sobre os salários. O Índice DXY, que mede a força do dólar em relação às principais moedas do mundo, avançou 0,32%, aos 106.055 pontos. Desde o início da semana, quando estava a R$ 6, o dólar comercial valorizou 1,26% frente ao real.
Percepção
Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, os investidores observaram o mercado brasileiro se distanciando do mercado americano, com a divulgação dos resultados do mercado de trabalho, o que, como ele destaca, não altera o consenso que mantém a expectativa de corte de 0,25 % em duas semanas, quando ocorrer a próxima reunião do Fomc.
“O mercado brasileiro piorou com a perspectiva de que haja resistência no Congresso em cortar gastos. Isso indica que poderemos ver propostas desidratadas ao longo do processo e que é improvável que vejamos apertos, como, por exemplo, mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou reformulação do seguro-desemprego”, considera.
O economista e sócio da Bluemetrix Asset Renan Silva avalia que, com o aumento das curvas de juros futuras no mercado financeiro, intensifica-se a probabilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manter uma política monetária mais restritiva por mais tempo. Nesse sentido, ele acredita que o comitê poderá aumentar a alíquota em até 1% nos próximos meses, o que, conforme destacou o economista, seria ainda mais prejudicial à atividade econômica do país.
“Os agentes também estão muito preocupados com o pacote tributário, que não surtiu nenhum efeito e com a possibilidade de ainda estarem bastante desidratados. Também o passado trocou sinais, principalmente em relação à isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas que têm renda de até R$ 5 mil, não soava bem para o mercado financeiro, o que contribuiu para um estresse ainda maior”, avalia Silva.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) operou em patamar negativo no último dia da semana e encerrou a sessão com forte queda de 1,5%, aos 125.945 pontos. Apesar da queda, a bolsa brasileira manteve os ganhos ao longo da semana e acumulou alta de 0,22% nos últimos cinco dias. Na próxima semana, o mercado estará atento aos dados de inflação, com a publicação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, além da última reunião do Copom do ano, a última presidida por Roberto Campos Neto, que deixa o cargo depois de quase seis anos à frente do município.
Em janeiro, a autoridade monetária será presidida por Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária. Ex-secretário executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o futuro presidente do BC também é motivo de preocupação do mercado, pela estreita ligação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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