A reforma tributária entrou na pauta do Senado neste quartona sexta-feira (12/11) para votação. Em meio ao debate sobre o tema, o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Mateus Ordine, conversou com o Correspondência sobre os impactos que esta aprovação poderá trazer para os negócios dos pequenos empreendedores, uma das classes que serão mais impactadas pelo novo modelo de carga tributária.
Segundo a análise da associação, o novo regime fiscal tende a reduzir a competitividade dos pequenos e médios empresários e a aumentar o desemprego. O Simples Nacional, sistema de tributação simplificado adotado por micro e pequenos empresários, deverá se tornar inviável.
“Das 24 milhões de empresas do país, aproximadamente 9 milhões estão incorporadas ao Simples Nacional e 14 milhões são microempreendedores individuais (MEIs). Caso a proposta de Reforma Tributária seja aprovada no Congresso Nacional, muitas empresas deste porte sofrerão danos irreversíveis e, consequentemente, as repercussões serão percebidas na economia”, informou o relatório da ACSP.
Confira a entrevista completa:
Como funcionará a reforma previdenciária para os pequenos empresários?
Todos nós queremos uma reforma tributária, há um consenso sobre isso. Mas esta reforma que foi aprovada não é o nosso sonho. Simplifica a união dos impostos indiretos, como ICMS, IPI, ISS (IBS) e contribuições, que é o CBS. Isso é bom. Mas a sua implementação exigirá dois controlos, um do passado e outro do futuro. Assim, os pequenos e médios empresários ter um custo duplicado.
Incluindo o setor de serviços?
Este será um dos mais afetados. A pequena alíquota, que varia de setor para setor, nunca ultrapassou 12%. Com a reforma, passará para 26% ou 27%. Um médico, por exemplo, tem clínica própria e realiza consultas cobrando R$ 500. hoje ele paga cerca de R$ 30 de imposto, e agora vai aumentar para R$ 130. E essa repercussão tributária para o prestador de serviço é gravíssima.
Esse valor impactará o consumidor final?
Dizem para passar para a próxima fase, mas isso não existe. O que vai acontecer é uma diminuição dos lucros com o aumento da tributação.
Como é o comércio?
A situação lá também é complicada. As tarifas para empresas cadastradas no Simples Nacional aumentarão significativamente. Alguns tercondição iônica para sobrevivência.
Esses empresários poderiam sair do Simples e passar para o regime normal de tributação?
Sim, mas assim ele não vai ter preço para competir com grandes empresas. Por exemplo: um grande atacadista consegue comprar mercadorias por um preço menor, porque compra em quantidades maiores. O Simples compra menos, por isso não tem os benefícios de descontos que os grandes compradores têm. Então, seu lucro será menor.
Os proprietários de pequenas empresas estão em um beco sem saída.
Cerca de 9 milhões de empresas estão cadastradas no Simples. Essas empresas empregam de 2 a 10 funcionários. Então, se pegarmos uma média de 5 funcionários para cada estabelecimento, vemos que 45 milhões de empregos são gerados por esse nicho. Caso não haja proteção ao Simples, esse número deverá diminuir.
Que benefício trouxe a criação do Simples Nacional, em 2006?
A Receita Federal entende que a existência do Simples é uma renúncia fiscal. E não é verdade, Simples é inclusão social. No passado, os pequenos comerciantes e empresários geralmente trabalhavam de forma mais informal. Ele não teve o benefício dessa inclusão social, então nem pagou impostos e, portanto, não teve proteção para si e sua família, como a aposentadoria. A criação do Simples foi uma forma de incluí-los no mercado, torná-los mais competitivos e, assim, poder entrar no mundo das empresas. Então, além de ter acesso aos benefícios previdenciários, passaram a contribuir para o pagamento de impostos e arrecadações governamentais.
Você pode fazer uma comparação com como funciona a tributação no exterior?
Vou dar o exemplo do IVA, que também temos aqui, o Imposto sobre o Valor Acrescentado. Em toda a Europa é de 10%. Em alguns países chega a 15%. O Brasil começa com 25% e chega a 27% dependendo do setor. Nos EUA o sistema é um pouco diferente. Tem valor agregado mas é repassado ao consumidor final, quem paga é ele. Portanto, existem dois impostos diferentes. Mas nenhum deles tem impostos tão altos como aqui.
Por que é assim aqui?
Primeiro porque nosso estado é muito grande. Cada grande estado tem de apoiar a sua máquina. Existem centenas e milhares de empregos e propriedades públicas que precisam ser mantidas. Nos EUA e na Europa, a máquina estatal, ou seja, os funcionários e a estrutura pública como um todo, é muito menor que a do Brasil. Hojeprincipalmente pelo sistema eletrônico, é necessário um sistema automático e enxuto para que essa máquina custe menos para a sobrevivência do Estado. Nosso legislativo, executivo e judiciário tem um custo altíssimo para o ente federativo. Isso é latino, não se limita ao Brasil, essa questão de proteger o estado com a população. Mas é um sistema caro de manter e a forma como é mantido é através da carga tributária.
O que deveria ser feito?
Precisamos de uma reforma administrativa e política, para reduzir o tamanho do Estado e depois fazer uma reforma tributária para atender aos anseios e necessidades do Estado. Se não desenvolvermos proteção para as pequenas empresas, os benefícios para as pequenas empresas e os pequenos empresários acabarão. Gerará encerramento de empresas, desemprego e, os que permanecerem, tornar-se-ão informais ou deixarão de cumprir as obrigações fiscais, porque não ter dinheiro para pagar tanto imposto.
Leia mais: Brasil bate recorde de exportação de café em 2024 com venda de 46,4 milhões de sacas
Não é mais possível reverter o que já foi aprovado. E agora?
Agora é hora de tentar reduzir o máximo possível de impactos negativos. Como? Ainda não sabemos. Precisamos encontrar uma solução que seja boa para o Estado e para o contribuinte.
Posso alterar a taxa?
Acho isso muito difícil. Porque já foi aprovado. E, se a alíquota for reduzida, não atenderá às necessidades do Estado.
Então, você acredita que o Estado pode acabar arrecadando menos se o empresário não tiver mais condições de contribuir com os impostos.
Exatamente. Todo mundo perde. E com um agravante: o empresário que descumprir suas obrigações de sobrevivência será autuado, multado e, em última instância, não conseguirá sobreviver.
Por que não tributar as grandes empresas?
Nossa máquina inchada criou muitas ramificações e é cara. Para você reduzir esse custo, é preciso criar mecanismos de sobrevivência. O tamanho do Estado deve ser reduzido através da reforma administrativa e, com base nisso, deve-se encontrar um caminho para que a reforma tributária seja simplificada e crie oportunidades para todas as empresas competirem e sobreviverem no mercado.
O mandato começa em 2025?
Sim, ainda não vai ter fiscalidade, mas já está a começar a ter algumas obrigações duplas, dois controles. O antigo imposto diminui e o novo e mais elevado imposto aumenta. O prazo para esta transição é inicialmente de 10 anos.
O balcão não manterá seu preço.
Ele nem consegue, porque o trabalho vai dobrar. Obviamente vai ter muitas acomodações, mas ele vai ter cobrar mais caro, porque se ele tem um funcionário para fazer isso e vai precisar contratar outro, aí ele vai precisar repassar isso para o cliente. Então, é um ciclo vicioso.
Na sua análise, o funcionamento da máquina estatal é o único responsável?
Este é o principal, mas não só. A outra é também o funcionamento do nosso sistema tributário. Temos tributação federal, estadual e municipal. Então, os três entes federativos precisam ser apoiados. Então, se ele cobrar um imposto pequeno, causar inadimplência, ele teria que escolher o que pagar. Então, a reforma tributária é necessária, traz alguns avanços mas, no contexto geral, vai criar uma situação difícil. Nem mesmo aqueles de nós que convivemos diariamente podem imaginar o que acontecerá daqui a 10 anos.
Acompanhe o canal Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
ra soluções financeiras
blue cartao
empresa de crédito consignado
download picpay
brx br
whatsapp bleu
cartão consignado pan como funciona
simulador crédito consignado
como funciona o cartão consignado pan
ajuda picpay.com