O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, nesta sexta-feira (19/12), que o pacote fiscal aprovado ontem à noite pelo Congresso não sofreu desidratação, segundo planilha interna do departamento, e o maior impacto nesse sentido foi o retirada do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) dos cortes de gastos propostos e sinalizou novas medidas a partir do próximo ano.
Pelas estimativas do ministro, o impacto do texto aprovado pelos parlamentares entre a proposta do governo, de R$ 71,9 bilhões em dois anos, foi uma redução de cerca de R$ 1 bilhão no mesmo período.
“O impacto do pacote aprovado e o número previsto pelo governo estão muito próximos. Não houve desidratação no nível que se imaginava e, assim que o Senado deliberar, publicaremos uma planilha com estimativa de R$ 1 bilhão e pouco impacto”, disse Haddad, em café da manhã com jornalistas.
“Eu diria que o Congresso respondeu dentro das suas possibilidades, porque estamos numa democracia. E você tem que entender isso”, completou. “O Congresso respondeu dentro dos limites da democracia. O que a democracia nos permitiu deliberar foi ao encontro do que imaginávamos”, acrescentou.
Haddad, de certa forma, reconheceu que esperava uma hidratação das medidas, mas elogiou o empenho dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e disse que ele pretende ligar para ambos para agradecer o apoio. Sobre os parlamentares da base aliada que votaram contra a proposta, ele não comentou.
Segundo o ministro, a planilha contém perdas e ganhos do governo e, apenas a retirada do FCDF resultou em R$ 400 bilhões acumulados em dois anos. “O que mais afetou essa conta foi o saque do Fundo do Distrito Federal”, lamentou.
O ministro fez um balanço positivo das matérias aprovadas pelo Legislativo. “Em relação a 2023, tivemos um resultado melhor que 2024, mas acredito que o saldo de aprovação no Congresso, como a regulamentação da reforma tributária, a conclusão do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, o quadro de garantia fiscal, o pacote de transição ecológica, entre outros, são coisas que nos orgulham”, afirmou.
Ele destacou que, com a aprovação do projeto de regulação da inteligência artificial, por exemplo, o país poderá atrair data centers que consomem muita energia, com foco em fontes renováveis. “Precisamos buscar medidas estruturais que aumentem a capacidade do Brasil de crescer ainda mais”, afirmou.
Durante quase duas horas de entrevista, ele afirmou que o texto enviado foi o que foi possível enviar para ser aprovado no curto espaço de tempo do ano e que outros ajustes ainda virão. “Também ouço críticas de que o pacote não é suficiente. Mas, chegando ao fim do último dia do Legislativo, ou mandaríamos a primeira leva de ajustes ou deixaríamos o pacote robusto para o ano que vem e geraríamos incerteza”, afirmou, defendendo que um processo de acomodação, tanto de receita quanto de das despesas terá de ser prosseguida.
“O trabalho que queremos fazer é transformar a revisão de gastos em rotina, porque sempre há muito o que fazer. Tivemos que tomar mais medidas. Mas gostaria que isso virasse rotina no governo”, afirmou.
O ministro lembrou que o projeto de reforma do Imposto de Renda, que isenta quem ganha até R$ 5 mil, será enviado no próximo ano, pois a Receita Federal encontrou inconsistências no modelo e está refazendo os cálculos.
Ao comentar a alta do dólar para mais de R$ 6, Haddad reconheceu que houve problemas na comunicação do governo, e minimizou o momento atual, citando que em 1999, “foi muito pior” a desvalorização máxima do real.
“Houve um fortalecimento da moeda norte-americana em todo o mundo, mas houve problemas de comunicação para que o dólar tivesse uma valorização mais forte que outros pares”, destacou, reconhecendo que, no Brasil, é preciso corrigir esse problema “em várias medidas”.
Em relação ao aumento da desconfiança do mercado e ao aumento do trabalho do Banco Central em fazer um ajuste monetário mais duro para conter as pressões inflacionárias. Vale lembrar que, para 2025, algumas estimativas já apontam para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima de 5%, ele evitou falar em metas cambiais.
Para ele, o Banco Central sempre tem que buscar o equilíbrio e agir quando há alguma disfunção no câmbio e no mercado de juros. “O Banco Central deve promover correções, não buscando uma meta sobre qual é o valor adequado (do dólar), mas corrigindo disfuncionalidades”, disse.
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Haddad negou a possibilidade de uma nova candidatura à Presidência da República, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja candidato em 2026. “Não me entendo como candidato em 2026 e não pretendo perseguir qualquer política de estímulo fiscal”, afirmou.
Para ele, o impacto da alta dos juros sinalizada pelo Banco Central poderá ser rápido e não afetar as atuais projeções do Tesouro de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, de 2,5%. “Estamos crescendo 3,5% e, para o próximo ano, a desaceleração está prevista. Por vezes, a política monetária olhará para a actividade económica e imagino que responderá quando a trajectória da inflação for descendente, em algum momento num futuro próximo. O BC vai recalibrar a trajetória dos juros para acomodar esse tipo de efeito”, afirmou.
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