No último dia da semana em que atingiu o maior valor de sua história, o dólar voltou a cair pelo segundo dia consecutivo, mas não foi suficiente para devolver a intensa alta dos três dias anteriores. Nesta sexta-feira (20/12), a moeda norte-americana registrou queda de 0,87%, cotada a R$ 6,07, em dia marcado por novo leilão de linha do Banco Central, além de declaração do presidente da República ao lado do próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo.
No vídeo em que aparece ao lado de Galípolo e dos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, Rui Costa, da Casa Civil, e Simone Tebet, do Planejamento, Lula manda um recado ao futuro presidente da autoridade monetária: “Saiba que nunca haverá haver, por parte da presidência, qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no BC”.
Apesar do câmbio cair ao longo do dia, a repercussão do vídeo de Lula não agradou tanto o mercado, segundo especialistas. Para Guilherme Macêdo, sócio da Vokin Investimentos, a postura de Lula deve se refletir em atitudes, e não apenas em palavras. “Se nada acontecer (fiscalmente) na próxima semana, vai voltar ao patamar anterior. Então o mercado está atento a essas afirmações, mas muito mais do que as afirmações, o que precisa ser feito agora é atitude”, destaca.
Para o economista-chefe da Ecoagro, Antônio da Luz, o vídeo de Lula com Galípolo poderia gerar mais dúvidas em relação à autonomia do Banco Central, em vez de contê-las. “Se ele (Lula) der entrevista coletiva com Haddad, com Simone Tebet e disser claramente ao mercado: ‘Entendo, tenho certeza que o governo brasileiro vai cumprir as metas fiscais que criamos e faremos tudo o que pudermos à nossa capacidade de equilibrar as contas’, evita a maior crise econômica da história do Brasil”, comenta.
O dólar começou a operar já em queda, devido a um novo leilão realizado pelo Banco Central, que ofereceu US$ 3 bilhões ao mercado. Isso fez com que a moeda registrasse queda de mais de 1% pela manhã, cotada a R$ 6,05, mas que logo foi contida ao longo do dia. Mais dois leilões de linha que venderiam US$ 2 bilhões cada foram cancelados pelo BC, por problemas no sistema que controla as operações.
Durante a semana, o BC ofereceu sete leilões no valor de bilhões de dólares para conter a alta do câmbio “Os leilões de câmbio são tão necessários quanto são necessários os aumentos da taxa Selic, para conter a inflação, mas ambos são remédios para baixar a febre, mas eles não tratam a infecção, não tratam a causa da febre. Tanto os leilões de câmbio quanto o aumento da taxa Selic são consequências da mesma doença, que é o desequilíbrio fiscal”, aponta o economista da Ecoagro.
No exterior, o dia também foi de alívio. O índice DXY caiu 0,73% num dia marcado pela desaceleração da inflação nos EUA. Na análise da gerente de pesquisas do Nomad, Paula Zogbi, os dados mostram que a inflação americana caminha em direção à meta. “As altas taxas de juros nos EUA tendem a fortalecer o dólar, atraindo mais capital para títulos do Tesouro dos EUA livres de risco”, explica.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) registrou a segunda alta consecutiva, desta vez de 0,75%, e atingiu 122.102 pontos. Apesar da alta no último dia de operações da semana, a bolsa acumulou forte queda de 2,01% nos últimos cinco dias. Ações de bancos e varejistas ajudaram a salvar o dia do Ibovespa na semana que antecedeu as festividades de fim de ano.
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