Antes mesmo de começar 2025, o Banco Central já tem um novo comandante, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, desde o dia 20. Ele terá que superar uma série de desafios para cumprir a principal missão da autoridade monetária: preservar o valor do real. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, passou o bastão ao sucessor em entrevista a jornalistas de sua gestão, durante apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) no dia 19.
Na ocasião, Campos Neto anunciou que entraria em recesso e entregaria internamente a presidência para Galípolo e, a partir de janeiro, assumiria automaticamente o cargo. Ambos aproveitaram o evento para transmitir diversas mensagens ao mercado. Garantiram que a independência da autarquia será preservada e reconheceram até que a questão fiscal é um dos maiores desafios que a autoridade monetária enfrenta. Neste sentido, Galípolo disse que não há milagres para resolver este problema, que deverá persistir nos próximos anos. “Sim, há problemas fiscais a serem resolvidos. Nenhum programa será uma solução milagrosa e não é possível procurar falsos atalhos”, disse o diretor do BC aos jornalistas. Admitiu mesmo que “a fasquia é muito alta” para evitar alterar o rumo da política monetária e, por isso, será necessário manter as taxas de juro mais altas “enquanto for necessário”.
Analistas apontam que o tripé macroeconômico não se sustenta com uma de suas pernas fracas: a busca por superávit primário (poupança para pagar juros da dívida pública), algo que não ocorre desde 2014. As outras duas bases do tripé — flutuante taxa de câmbio e meta de inflação — precisam que as contas públicas estejam equilibradas, e os analistas não veem isso acontecendo neste mandato. Com isso, a desconfiança no mercado financeiro aumenta e tem se refletido na taxa de câmbio.
Desde 28 de outubro — quando as tensões aumentaram com os adiamentos do governo para a divulgação do pacote fiscal, previsto para após o segundo turno das eleições municipais — o estoque de reservas internacionais do BC foi reduzido em US$ 34,4 bilhões, para US$ 339,11 bilhões no 24. Desse montante, pouco mais de 30 mil milhões de dólares foram queimados só em Dezembro.
E, para tentar acalmar o mercado, no dia seguinte à divulgação do RTI, Lula fez um pronunciamento ao lado de Galípolo, no Palácio do Alvorada, prometendo que respeitará a autonomia do BC. Mas o dólar não recuou. Continua negociado acima de R$ 6, mesmo com intervenções do BC. E, pelas projeções do Bradesco, esse novo patamar deverá persistir até o final de 2026, o que será um desafio adicional para a autoridade monetária fazer a inflação convergir para a meta de 3% neste período.
Portanto, na avaliação dos analistas, a atuação de Galípolo à frente do BC será mais desafiadora do que a de Campos Neto, que não conseguiu cumprir a meta em três anos desde 2019, quando assumiu a presidência do BC. Além de 2021 e 2022, neste ano, o BC admitiu que não conseguirá cumprir a meta elevando a previsão de inflação oficial de 4,3% para 4,9% e reconheceu que, em 2025, as chances do Índice de Preços para Consumidor Amplo (IPCA) para romper o teto da meta é de 50%.
Segundo a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a desconfiança do mercado será mantida porque a economia desacelerará e Lula não deixará de aumentar os gastos para ser reeleito em 2026. Segundo ela, apesar do Comitê de Política Monetária (Copom) ter sinalizado mais dois aumentos de 1,0 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 12,25% por ano, ainda há certa desconfiança na autonomia da nova diretoria, que terá sete dos nove conselheiros indicados por Lula.
“A sinalização dos dois aumentos nas próximas reuniões do Copom não significa que o BC, de fato, já tenha credibilidade. Mas ganhou mais tempo e talvez, colha mais rapidamente o resultado desse aumento dos juros na inflação expectativas com a atividade econômica desacelerando mais rapidamente devido a esse choque nas taxas de juros antecipadas”, afirma o economista do Ibre. Ela lembra que a inflação de curto prazo deve demorar um pouco mais para esfriar, principalmente com o dólar mais valorizado. “A demanda continua forte e isso significa inflação mais alta, então o BC precisará agir para evitar a contaminação. Mas a dúvida que fica é se o governo entende a dimensão do problema ou se tentará dobrar aumentando os gastos. alto risco com o dólar no seu nível atual e não deveria cair tão rapidamente porque este é um fenômeno externo.”
O economista destaca ainda que o novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos tornará o mundo mais complicado e as moedas emergentes, como o real, mais fracas. “Não sabemos para onde vai o dólar e ele poderá se valorizar ainda mais e isso exigirá que o Banco Central aumente ainda mais os juros”, destaca.
Não à toa, as projeções para a taxa Selic ao longo de 2025 já ultrapassam os 15% ao ano e algumas estimativas colocam os juros básicos em 16%.
Alto nível
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, por exemplo, passou a trabalhar com o câmbio em torno de R$ 6 até o final de 2026. E, nesse novo cenário, a expectativa é que a taxa de juros chegue a 15,25% ao ano em primeiro semestre de 2025. Com isso, elevou a projeção para a Selic ao final de 2025 de 12% para 14,75% ao ano. Ele prevê corte da Selic apenas na última reunião do Copom, no ano que vem, e os juros até 2026 ainda estão na casa dos dois dígitos, em 11,25% ao ano. “Ainda assim, os riscos são para taxas de juros ainda superiores a estas, se o objetivo for buscar com firmeza o centro da meta”, alerta. “O Banco Central decidiu reafirmar seu compromisso com a meta de inflação, buscando influenciar a taxa de câmbio e as expectativas. Apesar da enorme volatilidade nos preços dos ativos nos últimos dias, não há evidências inequívocas de que esta estratégia esteja servindo a esses objetivos neste momento. dada a ausência de uma política fiscal mais consistente”, destaca Honorato.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o mercado financeiro está apreensivo porque o governo chegou ao limite no ajuste da base de receitas e precisará ser mais agressivo no controle dos gastos, mas isso deve ficar para o próximo governo, ou seja , a partir de 2027. “Vale dizer aqui que há dúvidas sobre a reforma do Imposto de Renda, pois o governo sinalizou que poderia ser uma reforma neutra, em que a população mais rica seja mais tributada, o que é correto, mas reduz a tributação da população mais pobres, que tem apelo político, mas não resolve a questão fiscal. Com isso, o BC continuará tendo dificuldade de ver redução da taxa de juros neutra”, afirma.
A sintonia na fala de Campos Neto e Galípolo na apresentação da RTI foi bem recebida pelos analistas em geral, mas resta saber como será sua gestão na prática, segundo especialistas. “Tentaram diminuir o ruído presente no mercado. E o Galípolo não aumentou o nível de incerteza e fez isso de duas maneiras. A primeira elogiando a autonomia do Banco Central e a segunda ideia foi que ele não comprou a teoria do governo que há um choque especulativo do mercado frente ao real. Ele disse que há movimentos específicos e o BC está agindo para controlar os exageros”, destaca Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV.
“Ambos mantiveram o discurso habitual do Banco Central sobre as ações cambiais. Não sei se o discurso dele melhora a situação, mas diminui o ruído. Acho que nesse sentido foi importante”, afirma.
Na avaliação de Padovani, Galípolo vem fazendo um excelente trabalho e ganhou reputação ao reforçar a independência do BC ao lado de Campos Neto. “O discurso dele tem sido muito positivo, reforçando a trégua nas críticas de Lula. Mas todos estão desconfiados de como ele reagirá num ambiente de baixo crescimento nos próximos anos e a que reagirá a política do governo”, destaca.
Mudança na regra
Segundo o economista do BV, o novo presidente do BC terá muito mais trabalho do que Campos Neto para conduzir a política monetária daqui para frente. “A situação fiscal é mais preocupante e continua no radar e isso não altera o trabalho do BC, apesar do governo estar momentaneamente mais tranquilo em relação à meta de inflação, que a partir de 2025 será móvel”, afirma Padovani. Ele destacou que, no próximo ano, terminará a regra da meta de inflação para o ano-calendário. “Com a meta móvel, a convergência da inflação poderá ser mais lenta e, talvez, seja a opção do Banco Central com esta nova regra que terá que justificar novamente o descumprimento da meta em 2025”, acrescenta.
A questão fiscal continuará pesando no aumento da volatilidade cambial e, segundo analistas, não fará sentido o BC intervir no mercado com muita frequência. Na avaliação deles, o pacote fiscal aprovado pelo Congresso continua sendo visto como insuficiente para reverter a trajetória de crescimento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Segundo projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI), divulgadas ontem, poderá chegar a 90% do PIB em 2027. E, para evitar isso, o governo precisará eliminar o buraco fiscal e registrar superávits primários (poupança para pagar juros sobre a dívida pública) de 2,4% do PIB para estabilizar o crescimento da dívida bruta.
História do regime alvo
Desde o início do regime de metas para a inflação, em 1999, o Banco Central escreveu uma carta aberta ao presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN) pelo descumprimento da regra em sete anos: em 2001, em 2002, em 2003, em 2015, em 2017, em 2021, em 2022 e caminha para a oitava vez.
O documento visa explicar detalhadamente as causas do descumprimento da meta, e indica as medidas para garantir o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo dentro do qual as medidas deverão entrar em vigor.
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