As perdas de 10,36% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em 2024, e a indicação de que a taxa básica da economia (Selic) deve continuar subindo ao longo deste ano são alguns dos fatores que jogam a favor da escolha da taxa fixa renda como porto seguro para quem quer investir e/ou fazer reserva para realizar um sonho sem correr riscos. E, nesse contexto, o Tesouro Direto é uma das opções mais atrativas para investidores conservadores e que desejam começar a montar sua própria carteira de investimentos.
Em 2024, foram lançados dois novos títulos do programa Tesouro Nacional, voltados para pessoas físicas. E, neste ano, a primeira novidade da plataforma é a mudança na cobrança da taxa de custódia para manter o dinheiro investido. A cobrança, de 0,2% do saldo que foi debitado semestralmente, só será cobrada quando o papel vencer ou o investidor resgatar o dinheiro antecipadamente ou quando o Tesouro pagar juros e amortizações.
Após ultrapassar a marca de 30 milhões de cadastros em outubro, no mês seguinte, a plataforma bateu novo recorde e atingiu 30,5 milhões de investidores, o que representa um aumento de 14,8% nos últimos 12 meses. Porém, apenas 2,7 milhões de investidores estão ativos, ou seja, possuem operações abertas.
Por género, os homens ainda representam a grande maioria dos investidores no Tesouro Direto, com 73,4% do total face a 26,6% das mulheres, embora esta diferença tenha vindo a diminuir nos últimos anos, com a entrada de mais investidores neste mercado. Além disso, quase um terço (32,9%) de todos os inscritos na plataforma tem entre 26 e 35 anos.
Em outubro, o Tesouro Direto registrou o maior valor de emissões líquidas da história, quando a diferença entre vendas e resgates atingiu R$ 2,5 bilhões em um único mês. O segundo maior valor foi registrado em novembro, quando as vendas líquidas atingiram R$ 2,4 bilhões. O estoque total do Tesouro Direto atingiu R$ 150,8 bilhões no penúltimo mês do ano, o que representa um aumento de 2,5% em relação ao mês anterior.
Os títulos públicos mais procurados pelos investidores pessoa física em novembro foram aqueles vinculados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, quando o colegiado elevou a taxa básica Selic para 12,25% ao ano, os títulos do Tesouro Direto indexados à inflação, o Tesouro IPCA, passaram a pagar o prêmio recorde de 8 % em 19 de dezembro, rendendo 8,25% sobre os papéis com vencimento em 2029. No mês anterior, os títulos indexados à inflação representavam 43,4% do total buscado.
Os títulos indexados à taxa básica, o Tesouro Selic, tiveram participação de 40,4% nas vendas, apesar de, na maioria dos meses, essa modalidade ser a mais forte, como lembra o coordenador do Tesouro Direto, Paulo Marques. “Observamos que quanto mais o programa se democratiza, maior é o acesso das pessoas ao Tesouro Selic, que é o título de entrada dos investidores, aquele que não tem uma volatilidade muito grande na marcação a mercado e é como se fosse um tesouro onde você coloca seus recursos e está sempre aumentando é a sua reserva de emergência”, enfatiza o técnico do Tesouro Nacional.
Para o coordenador do programa, além de saber qual título é mais procurado, o investidor deve ter em mente o motivo de começar a aplicar os recursos.
“Primeiro você tem que definir o seu objetivo e, a partir disso, poderá fazer a melhor escolha”, aconselha Marques, que destaca: “E se você não tem nenhum objetivo, o Tesouro Selic é sempre uma boa opção, pois você pode tomar a qualquer momento sem grandes riscos de perda”, aconselha Marques.
Novos programas
De acordo com a 7ª edição do Raio X do Investidor, publicada em 2023 pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 25% da população investe em cadernetas de poupança, mas apenas 2% investe em títulos do Tesouro Diretamente, eles geralmente apresentam maior rentabilidade dependendo do tipo de aplicação. Diante disso, o Tesouro decidiu inovar nos últimos anos com novos programas para atrair diferentes públicos para investir em renda fixa.
Em 2022, o Tesouro lançou o programa RendA, com opções de investimentos de longo prazo voltados para a aposentadoria. Até 30 de dezembro, a modalidade com vencimento em 2050 pagava IPCA mais 7,21%. No ano seguinte, foi lançado o Educa, que oferece vantagens para o planejamento da educação dos seus filhos. “Todos esses títulos que foram criados vieram com esse viés de um objetivo específico, o que facilita a escolha do investidor”, explica o coordenador.
No ano passado, o Tesouro Nacional, em parceria com a B3 e o Banco Central, lançou uma opção para quem quer comprar ou investir no mercado imobiliário: o TD Garantia.
A iniciativa permite que investidores em títulos públicos os utilizem como garantia para operações financeiras, como empréstimos bancários e aluguéis de imóveis. Pessoas físicas que já investem em títulos do programa podem optar pelo serviço. “Já tem muita gente, hoje, alugando imóveis no Brasil usando títulos do Tesouro Direto como garantia em vez de depósito ou fiador. Essa é uma possibilidade que não se restringe a isso. Qualquer instituição financeira, hoje, tem condições de plugar na B3 e usar nossos títulos como garantia para qualquer operação de crédito Basta quererem, e já temos algumas instituições interessadas para 2025”, relata.
Outra novidade em 2024 foi o lançamento de um Cartão Presente que pode ser utilizado na compra de títulos públicos negociados no Tesouro Direto, também em parceria com a B3. “É muito comum vermos pessoas que já conhecem o Tesouro Direto e gostariam de presentear pessoas que gostam, que tenham um certo carinho, e o Vale Presente é uma forma muito fácil de fazer isso”, sustenta Marques.
Para 2025, o coordenador do Tesouro explica que deverão ser anunciados novos programas — e são muitos — para públicos específicos, embora não tenha dado mais detalhes além da mudança na taxa de custódia, que entrou em vigor em 1º de janeiro. Agora, será debitado apenas na venda antecipada, no vencimento da posição ou no pagamento de juros dos títulos, o que ocorrer primeiro.
“Nosso objetivo é trazer o maior número de investidores e com ticket menor, e essa mudança ocorre após 20 anos de reclamações. A cobrança continua, mas só vai ocorrer no vencimento. o investidor, às vezes, não quis vender o título para pagar, mas tive que fazer um novo depósito, esqueci, a corretora cobrou, entre outras coisas.”
Menos risco
Lançado em 2002, em parceria com a B3, o Tesouro Direto é uma das principais opções de investimento em renda fixa do país, como Certificado de Depósito Bancário (CDB) e cartas de crédito. Nos últimos anos, essa modalidade se tornou a principal opção para aplicações financeiras voltadas para pessoas físicas, conforme avalia o sócio e economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
“Em primeiro lugar, há a questão da segurança, dado que os títulos do Tesouro são as opções de menor risco do mercado. Em segundo lugar, há liquidez para investimentos, considerando que os títulos podem ser vendidos ao próprio Tesouro — mesmo nas condições vigentes no mercado no momento, o que pode gerar perdas em alguns casos”, explica.
O economista destaca ainda que, com o Tesouro Direto, é possível encontrar títulos que atendam aos objetivos e interesses do investidor, seja em termos de prazos ou de indexadores. “É possível, por exemplo, adquirir um título que pague basicamente a taxa Selic, ou um papel pré-fixado com o objetivo de travar as altas taxas atuais até o vencimento, ou ainda se proteger da inflação com um papel que pague um real alíquota além de ser corrigida pelo IPCA”, destaca.
Os títulos de renda ficaram ainda mais atrativos neste ano por fatores internos, conforme explica o economista-chefe da MoneYou, Jason Vieira. Ele lembra que no início do ano havia a expectativa de que o governo cumprisse as metas fiscais estabelecidas para 2024 e anos seguintes. Essa projeção, porém, mudou a partir de março, quando o governo decidiu flexibilizar alguns pontos da lei fiscal aprovada no ano anterior, como a mudança do objetivo de superávit para déficit zero neste ano.
“O reflexo começou a ficar cada vez mais presente com o governo ficando muito confuso nessa questão fiscal, aliás, os impactos na curva de juros ficaram cada vez mais claros. taxas subindo cada vez mais, o Tesouro Direto acabou se tornando uma grande alternativa de investimento para pequenos investidores”, destaca Vieira.
Neste sentido, o investidor deve estar atento aos títulos mais vantajosos, tendo sempre em conta o objetivo principal desse investimento. Para o próximo ano, o professor de finanças do Insper Ricardo Rocha avalia que as tendências de investimento em renda fixa estão convergindo para títulos como CBD e outros DIs, para quem está começando a investir. Essas aplicações funcionam como um depósito interbancário. Entre as opções do Tesouro Direto, o especialista acredita que é interessante avaliar títulos RendA+, com boas opções para o longo prazo. “E os custos são relativamente baixos quando comparados aos fundos de investimento. Então acho que há muitas alternativas”, destaca.
E, para Vitória Saddi, sócia da SM Futures, investir no Tesouro Selic para 2025 ainda é uma opção atrativa também no médio prazo. “Quando o investidor compra títulos do Tesouro, ele está dando crédito ao governo. E, como fica cada vez mais caro para o governo se financiar, as taxas longas são altas, refletindo o prazo de financiamento desses títulos cada vez mais curtos, mostrando, em suma, que há é um retorno maior para o investidor E, como as taxas longas estão subindo, é nesse contexto que recomendamos investir no Tesouro Selic”, avalia o economista.
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