O governo vai importar 300 mil toneladas de arroz, que serão distribuídas aos comerciantes de todo o país, com o objectivo de baixar o preço. O produto será vendido com a logomarca do governo, com preço final fixado em R$ 4 o quilo. Ontem, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou o leilão de compra para a próxima quinta-feira, 6 de junho.
Para baixar o preço, foi zerado o Imposto de Importação de três tipos de arroz. Foram liberados R$ 6,7 bilhões para a compra pública de arroz beneficiado importado. O produto deve chegar ao consumidor até setembro, já que o prazo de entrega para a Conab é de até 90 dias, sem cobrança de multa.
A autorização inicial do Executivo era para a importação de até 1 milhão de toneladas para garantir que o produto fosse oferecido a “preços justos”. Em coletiva de imprensa, o presidente da Conab, Edegar Pretto, afirmou que a intenção do governo não é confrontar os produtores nacionais, mas garantir o equilíbrio do mercado. “Não queremos que as compras importadas concorram com a produção nacional. Vamos avaliar o comportamento do mercado. Se percebermos que a medida já equilibrou os preços, avaliaremos se há ou não necessidade de realizar outro leilão”, afirmou.
Sobre o preço, Pretto explicou que o valor foi definido com base nos preços ao consumidor final apurados em janeiro, quando estava próximo de R$ 5 o quilo. “Se pegarmos parâmetros de preço no varejo, antes do problema climático no Rio Grande do Sul, o que podemos dizer é que estava em torno de R$ 25 a saca de 5 quilos. Estabelecemos um desconto de 20% com base nesse parâmetro e chegamos nesse valor de R$ 4 o quilo”, explicou.
Em evento promovido pelo Grupo de Liderança Empresarial de Brasília (Lide/DF), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil é autossuficiente na produção para atender o consumo interno e que 80% da colheita da região Sul isso já havia sido feito antes das enchentes. “Mas, diante da especulação, de tantas notícias maldosas e falsas de que haveria escassez de arroz, os preços aumentaram de 30% a 40%. Absurdo. Então, para acalmar o mercado, estamos abrindo o edital de importação”, disse.
O Brasil produz 10 milhões de toneladas de arroz por ano. Cerca de 70% da colheita vem do Rio Grande do Sul e 15% de Santa Catarina. “Precisamos levar essa produção para outras regiões. Diversificar. Continuaremos estimulando a produção no Sul. Mas é preciso descentralizar não só o cultivo do arroz, mas também do feijão, da mandioca, do trigo e do milho”, afirmou o ministro.
Interferência
Entidades do setor produtivo afirmam que a medida causará prejuízos à cadeia nacional, que já sofre com problemas climáticos. Dos 131 mil hectares de arroz plantados no estado, cerca de 90% já foram colhidos. Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), a produção do país é suficiente para o consumo interno. “Apesar das grandes dificuldades a serem superadas no Rio Grande do Sul, a expectativa das indústrias e cooperativas é que a cadeia produtiva do arroz possa ser 100% normalizada em breve, garantindo abastecimento e segurança alimentar para todo o país, além de evitar disparada do preço do produto”, destacou em nota.
Representantes do setor agropecuário gaúcho definiram a medida como a “maior intervenção” no mercado desde o início do Plano Real, há 30 anos, “que já se mostrou ineficaz no passado”. Segundo Farsul, os incentivos à importação podem acabar desencorajando os produtores gaúchos de semear a próxima safra (2024/25) e gerando um problema futuro de abastecimento.
“É uma medida intervencionista, na verdade”, destacou a economista Rica Mello, especialista em gestão empresarial. “Quando o governo entra no jogo e mostra ao mercado internacional que vai comprar um grande volume, já causa certo impacto. Tanto que o produto acabou subindo após o anúncio do governo”, explicou. Mello lembra que a importação de grãos já é comum no país, mas geralmente é feita pela própria indústria.
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
ge esporte
globo online
globo esporte site
uol melhor conteúdo
globo noticias de hoje