Economistas do mercado financeiro elevaram as projeções para a taxa básica da economia (Selic) no primeiro boletim Focus de 2025. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), a estimativa para a taxa Selic no final deste ano passou de 14,75% para 15% ao ano, o que indica que as taxas de juros podem ultrapassar esse patamar ao longo do ano. E, segundo projeções do relatório semanal do BC, os juros básicos permanecerão acima dos dois dígitos, pelo menos, até 2027.
A mediana das expectativas para a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, caiu de 4,90% para 4,84%. Foi a 12ª semana consecutiva de piora nas estimativas. Os dados do IPCA de dezembro e final do ano serão divulgados na próxima sexta-feira.
Os dados que acompanham o horizonte do BC na decisão das taxas de juros, a estimativa do IPCA para 2025 e 2026, foram revisados para cima. A taxa deste ano passou de 4,96% na semana passada para 4,99%. E no ano que vem, de 4,01% para 4,03%.
A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e 2025. A margem de tolerância para que seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. Com a inflação acima da meta, as estimativas para as taxas de juros ao final de 2026 foram mantidas em 12% ao ano, após quatro semanas de subida. A previsão para a Selic ao final de 2027 permaneceu em 10% ao ano.
Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, as projeções da Selic de alta mais agressiva continuam a reforçar o compromisso do BC em conter a inflação, o que poderá fortalecer a confiança dos investidores na política monetária brasileira. “Mas vale lembrar que taxas de juros mais altas tendem a encarecer o crédito e desacelerar a economia, impactando negativamente os setores dependentes de financiamento. Internamente, o dinamismo da atividade econômica e do mercado de trabalho, combinado com expectativas de inflação que permanecem inconsistentes, e com novos aumentos a cada lançamento do Focus, exigem uma postura mais restritiva”, alertou Lima.
Outro ponto importante a ser destacado, segundo ele, é que a situação econômica dos Estados Unidos acrescenta incerteza ao cenário global, influenciando a política monetária brasileira. “Essa expectativa de aumento de pelo menos 1,0 ponto percentual na taxa Selic reflete a determinação do BC em controlar a inflação, mesmo diante de possíveis efeitos adversos no crescimento econômico. próximos passos da política monetária brasileira”, afirmou.
PIB
A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, por sua vez, foi mantida em 3,49%. Para 2025, a estimativa passou de 2,01% para 2,02%. As projeções para 2026 e 2027 também foram mantidas em 1,80% e 2,00%, respectivamente.
“O pequeno aumento nas expectativas do PIB não traz alívio, e o Banco Central deve aumentar a Selic em mais 1% em janeiro”, ponderou Volnei Eyng, presidente da gestora Multiplike. “A previsão é de uma Selic de 15% ao final de 2025. Esse remédio amargo pesa no bolso das empresas, vai encarecer ainda mais o crédito, aumentando os custos para empresas e consumidores”, reforçou. Segundo o analista, o país precisa de uma ação mais coordenada para controlar a inflação sem prejudicar o crescimento económico. “Ação governamental mais forte para conter gastos, com medidas reais que restaurem a confiança dos investidores no Brasil”, acrescentou.
Câmbio x imposto
Em relação ao câmbio, as expectativas para o dólar para 2025 voltaram a subir, passando de R$ 5,96 para R$ 6,0, como nas últimas semanas. Para o final de 2026, a previsão permaneceu em R$ 5,90, assim como para 2027, permanecendo em R$ 5,80. João Kepler, presidente do Equity Fund Group, avalia que o aumento da projeção para a Selic, agora em 15%, e a contínua escalada das estimativas para o IPCA e o dólar indicam que persistem desafios fiscais e inflacionários. “Esse ambiente de altas taxas de juros afeta diretamente o custo de capital das empresas brasileiras, principalmente daquelas que dependem de crédito para seu funcionamento e expansão”, destacou.
“Empresas resilientes e bem estruturadas tendem a se destacar nesse contexto, principalmente em setores menos sensíveis ao custo do crédito. É um momento de avaliar cuidadosamente os fundamentos e priorizar negócios que demonstrem capacidade de adaptação e crescimento sustentável, mesmo face à adversidade económica”, aconselhou.
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