Os preços dos itens essenciais de volta às aulas aumentaram significativamente nos últimos anos. A inflação média das mensalidades e materiais escolares subiu quase 35% de 2020 para 2025. Analisando a cesta completa de produtos, todos os itens juntos aumentaram 34,85% no período.
Os dados são resultados de um levantamento feito pela analista de pesquisa Maria Giulia Figueiredo, da Rico, do grupo XP. Prediletos na hora das compras para a volta às aulas, os custos dos cadernos e dos produtos de papelaria, que incluem canetas, lápis e borrachas, subiram 24,28% e 34,63%, respectivamente. Segundo a pesquisa, esse aumento é reflexo do aumento no custo de insumos, como papel e plástico, que impactam diretamente no preço desses produtos.
“Cadernos, canetas, lápis e borrachas são itens que não podem faltar na bolsa do aluno, a menos que ele ainda seja um bebê na creche. Se antes era fácil renovar o estojo todo ano, agora, essa decisão exige mais planejamento e pesquisa preço”, aponta o especialista.
À medida que o início do ano letivo se aproxima, muitos pais e encarregados de educação enfrentam problemas para cobrir os custos dos materiais escolares, que continuam a aumentar. Para quem tem filhos em idade escolar, esse é o momento de garantir que tudo esteja pronto para a volta às aulas, sem apertar ainda mais o bolso.
A engenheira florestal Luciana Bergamaschi, de 38 anos, estima que a conta do material escolar dos dois filhos, um de sete e outro de nove, tenha aumentado cerca de R$ 100 em relação ao ano passado. Segundo ela, aumentaram os pedidos de materiais da escola dos filhos, inclusive de itens não tão comuns, como agulhas de crochê. “Eles estudam em escola pública, é uma escola diferente. Pediram até uma agulha de crochê no material escolar para ensiná-los a fazer correntinhas”, conta.
Luciana conta que não conseguiu reaproveitar o material do ano anterior, pois os filhos, além de utilizarem o material nas aulas, também brincam com ele em casa. “Esses materiais escolares são uma forma de dar prazer aos meus filhos, aproveitando tudo que é novo e também me divertindo estudando.”
Taxas mensais
As propinas nas escolas privadas, desde o ensino pré-primário até ao ensino secundário, também registaram um aumento real. Os valores subiram significativamente nos últimos anos, sobretudo no ensino secundário e no ensino básico, que aumentaram 43,16% e 43,98%, respetivamente. A pré-escola aumentou 36,70% e a creche aumentou 35,42%.
O transporte escolar também registou um aumento significativo de custos nestes cinco anos. De 2020 até hoje, o preço do serviço aumentou 24,26%. Segundo o analista de pesquisas da Rico, fatores como o aumento dos preços dos combustíveis e da manutenção dos veículos fizeram com que o preço do serviço subisse.
“Na correria do dia a dia, os pais podem não conseguir levar os filhos à escola e optar pelo transporte escolar. Mas com o aumento do preço deste tipo de serviço, podemos considerar o transporte escolar como um artigo de luxo nos dias de hoje”, ele afirma. “Portanto, para as famílias, levar e buscar pessoalmente os filhos tornou-se uma tentativa de poupar dinheiro, embora nem sempre seja uma solução viável”, acrescenta.
A cesta de materiais escolares cresceu ligeiramente acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por exemplo, se em 2020 você gastou em média R$ 2 mil com despesas escolares, hoje esse valor é de aproximadamente R$ 2.654,20. “Quando olhamos o panorama completo, fica claro que educar uma criança no Brasil tem se tornado um desafio cada vez maior. Itens básicos para a aprendizagem, do caderno ao transporte para a escola, refletem um panorama econômico que impacta todas as áreas da vida”, avalia Resende.
Apesar dos preços elevados, o salário mínimo também foi corrigido de 2020 até o início de janeiro, em 35,12%, considerando também o valor do salário mínimo do ano passado, de R$ 1.412, já que o novo valor, de R$ 1.518, começará a ser pago a partir de fevereiro. “Isso reforça a ideia de que, apesar do aumento dos preços, os salários seguiram o ajuste necessário”, destaca.
Como economizar
Para economizar nas compras é fundamental estar organizado. Algumas estratégias simples, como comprar livros usados e formar grupos de compras coletivas, podem fazer toda a diferença. Segundo a educadora financeira Aline Soaper, um dos primeiros passos é fazer um balanço do que realmente é necessário, evitando compras impulsivas ou desnecessárias. “Além disso, é importante pesquisar preços em diferentes lojas, pois as variações podem ser grandes entre uma loja e outra”, afirma.
Outra boa alternativa é comprar alguns itens de segunda mão, além de economizar dinheiro é uma prática muito mais sustentável. “Vale ressaltar que é possível reaproveitar alguns materiais do ano anterior, sendo uma excelente alternativa do ponto de vista econômico e também ambiental. Sobras de cadernos, folhas, canetas, lápis de cor e tintas, além de outros os materiais devem ser reaproveitados, diminuindo assim a lista de itens e dando fôlego ao orçamento das famílias, que podem adiar por alguns meses essa compra”, orienta.
Mãe de um jovem de 15 anos prestes a ingressar no ensino médio, Valéria Souza, 53, considera que os livros didáticos são o maior peso do orçamento. Com a prática de repassar o material do filho do ano que terminou e comprar livros usados, ela diz que foi possível economizar cerca de R$ 1.500. No entanto, a prática não é mais permitida.
“Livros novos, que custam mais de R$ 2 mil, você compra por R$ 500. Então, vale a pena comprar e vender livros usados. Mas, neste ano, a escola não permitiu a compra de livros usados, porque você só pode ser pela plataforma Poliedro”, diz Souza, citando a escola. Segundo ela, a plataforma dá acesso aos livros de forma física e digital, o que impossibilita a compra de material usado. “Você só tem acesso comprando os livros físicos também. Então, não tive a opção de comprar livros usados, mas estou vendendo os livros dele do ano passado”, afirma.
Valéria Souza afirma ainda que outra alternativa para economizar foi procurar itens mais baratos em lojas online. “Aproveitei uma promoção na Amazon e comprei todos os cadernos com capa mais simples, por R$ 9,90 cada, com 98 páginas. E ficou muito barato, porque tem um caderno para cada matéria, então precisei de 14 cadernos. Na papelaria esses cadernos estavam custando em torno de R$ 20, então foi uma economia muito interessante dessa vez.”
Compras on-line
A compra de material escolar pelo e-commerce tem ganhado cada vez mais espaço. As papelarias visitadas pela reportagem do Correio estavam vazias, diferentemente das enormes filas que eram rotina em janeiro. O servidor público Lucas Paiva, 42 anos, adotou uma estratégia para tentar minimizar gastos. Ao antecipar a compra de material escolar em dezembro, antes do Natal, Lucas conseguiu aproveitar o 13º salário e preços mais baixos, evitando o aumento que normalmente ocorre após as festas de final de ano.
“Consegui economizar muito dinheiro com isso”, diz, destacando que, na espera da volta às aulas, os preços sobem ainda mais. Para Lucas, o aumento do custo de vida, que não vem acompanhado de aumento de salários, torna necessária a adoção de estratégias como essa. “O salário mínimo não acompanha o reajuste dos preços do material escolar. Temos que adotar essas estratégias para diminuir o impacto”.
Com os filhos matriculados em escola particular, o funcionário também denuncia os preços exorbitantes dos livros didáticos obrigatórios. Para reduzir o impacto financeiro, optou por comprar livros online, o que lhe permitiu obter um preço mais acessível. A combinação de custos com mensalidades, material escolar, uniformes e livros acaba se tornando um grande desafio financeiro para muitas famílias, principalmente quando o orçamento está cada vez mais apertado. “Os livros são os mais caros, depois vêm os cadernos e os materiais extras de arte. Adicione matrícula, materiais, uniforme, é tudo um incômodo”, expressa Paiva.
Muitos pais e responsáveis têm sido obrigados a adotar estratégias, como comprar antecipadamente ou buscar alternativas mais baratas, para não sobrecarregar ainda mais o orçamento familiar. “É importante negociar o preço, principalmente se for comprar em grandes quantidades, para duas ou mais crianças. Por isso, pesquise em lojas online que costumam ter preço mais baixo; evite marcas famosas, produtos de marcas menos conhecidas costumam ser mais baratos e com a mesma qualidade”, recomenda a educadora financeira Aline Soaper. “Se você tiver materiais em bom estado que não serão mais usados, troque com outros pais. Outra dica é se reunir com outros pais para comprar a granel e conseguir descontos”, completa.
*Estagiária sob supervisão de Rosana Hessel
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