O mercado financeiro iniciou a semana em ritmo mais moderado, apesar das incertezas quanto ao início do governo de Donald Trump — que tomou posse ontem. Os agentes financeiros trabalharam na expectativa das primeiras decisões da futura administração, que impactaram diretamente o dólar, que caiu frente ao real. Além disso, a ação do Banco Central (BC) ajudou na desvalorização da moeda norte-americana.
Ao final do dia, a cotação do dólar caiu 0,4%, a R$ 6,04. O movimento foi na mesma direção do índice monetário do mercado internacional, o DXY, que caiu ainda mais fortemente (1,14%). Segundo Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, o discurso de Trump teve impacto limitado nos mercados globais devido ao feriado nos EUA, mas o compromisso de evitar ações protecionistas desde o início contribuiu para reduzir a volatilidade cambial.
“O mercado não reagiu nem muito positiva nem negativamente. No exterior não houve grande movimentação por conta do feriado, permitindo que aqui as maiores variações do dia sejam mais voltadas para notícias corporativas, e não macroeconômicas”, explicou.
O Banco Central (BC) realizou dois leilões de dólares pela manhã, o que também ajudou a pressionar os preços para baixo. Lelis destacou que esta ação da autoridade monetária, aliada a fatores externos, reforçou a queda da moeda norte-americana.
“O dólar caiu hoje, continua em canal descendente e o Banco Central injetou US$ 2 bilhões no mercado, ajudando a controlá-lo”, disse.
Controle de câmbio
As intervenções específicas do BC fazem parte de uma estratégia para suavizar a volatilidade no mercado de câmbio. Actualmente, o país dispõe de cerca de 330 mil milhões de dólares em reservas internacionais, utilizadas não só para garantir a estabilidade da taxa de câmbio, mas também para reforçar a confiança dos investidores estrangeiros na economia nacional. Com os leilões de ontem, a autoridade monetária demonstrou seu compromisso em mitigar as pressões de curto prazo sobre a moeda brasileira.
O movimento foi bem recebido pelos agentes econômicos. A liquidação das operações está prevista para esta semana, com recompras previstas para novembro e dezembro de 2025.
No início da noite, o BC anunciou um novo leilão de swap cambial tradicional previsto para começar hoje. Diferentemente da operação de ontem, que foi extraordinária e com o objetivo claro de conter uma possível alta do dólar devido à posse de Trump, esse tipo de leilão é periódico e servirá para negociar contratos de swap cambial com vencimento previsto para 5 de março. No total, serão leiloados 279 mil contratos, totalizando US$ 14 bilhões.
Expectativas
Especialistas, porém, acreditam na valorização da moeda no segundo mandato de Trump. Na visão do economista José Alfaix, da Rio Bravo Investimentos, isso já se reflete na desvalorização das moedas emergentes, principalmente no caso de economias com alta dependência das exportações para os EUA.
“A valorização do dólar frente ao real se deve, em grande parte, às expectativas de juros mais elevados no governo Trump, especialmente pelo lado fiscal expansionista de seu governo, com os ambiciosos cortes de impostos”, prevê Alfaix.
A percepção de dólares elevados também se reflete entre gestores e executivos. Para o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, o retorno de Trump reforça um ambiente de tensão no comércio internacional.
“Para o Brasil, os impactos podem ser mistos: embora o aumento das tarifas sobre produtos chineses possa criar oportunidades para o agronegócio brasileiro, o dólar fortalecido e a desvalorização do real tendem a pressionar a inflação e os custos de importação”, destaca.
Monteiro também acredita que a resposta do mercado internacional, com possíveis revisões das estratégias comerciais e dos fluxos de capitais para os EUA, reforça a necessidade de o Brasil adotar políticas fiscais e cambiais sólidas para proteger o ambiente doméstico.
Na opinião de Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o mercado internacional deverá reagir com cautela, sobretudo até que as medidas preconizadas pela administração Trump se concretizem. “No curto prazo, a postura mais assertiva de Trump poderá levar a uma reavaliação dos ativos, especialmente em mercados emergentes como o Brasil, que dependem de um fluxo de capital estável para sustentar a recuperação económica”, observa.
Ao final do dia, o Ibovespa registrou leve alta de 0,41%, aos 122.855 pontos, impulsionado pelo moderado otimismo do mercado em relação ao médio e longo prazo. A queda nos juros futuros foi outro fator positivo, mas o especialista alertou que continua sendo um cenário desafiador no curto prazo, principalmente com projeções mais altas para a inflação no Brasil.
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