O governo federal busca uma solução ágil para conter a alta dos preços dos alimentos nos mercados. Como mostrou ontem o Correio, com a pressão da inflação, alimentos básicos para os brasileiros, como arroz, feijão, leite e carne, registraram aumentos significativos nos últimos meses. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou ontem que o governo federal tomará medidas para reduzir o preço dos alimentos. Segundo ele, a gestão adotará ações sugeridas pelas redes de supermercados, além de procurar produtores e ministérios para discutir o tema.
Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, os preços dos alimentos ficaram 8,23% mais caros em 2024, acima dos 4,83% do índice geral. Isso preocupa o governo, pois impacta o bolso da população, principalmente dos mais pobres, e gera insatisfação no principal eleitorado petista. “Inicialmente vamos fazer algumas reuniões com o Ministro da Agricultura, com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, que cuida das pequenas propriedades, e com o Ministério da Fazenda, para que possamos buscar um conjunto de intervenções que sinalizem uma redução nos preços dos alimentos”, declarou Rui Costa no programa Bom dia, Ministro, da estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A utilização do termo “conjunto de intervenções” pelo ministro, no entanto, levantou temores sobre a adoção de ações diretas para forçar a redução de preços, como preços ou congelamento, o que não funcionou no passado e gerou uma hiperinflação que só foi contida com o Plano Real, em 1994. O governo, porém, negou essa possibilidade após a repercussão negativa do discurso do ministro. “A Casa Civil informa que não está sendo discutida intervenção de forma artificial para reduzir os preços dos alimentos”, diz a nota divulgada pelo ministério. “Ainda não é possível avançar no detalhamento de tais medidas antes que ocorram as reuniões que tratarão do assunto”, acrescentou. À noite, o ministro também concedeu entrevista à CNN e reforçou que o governo “vai trabalhar em medidas para baratear os principais alimentos sem queda artificial dos preços”.
Na reunião ministerial desta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu aos seus auxiliares uma solução rápida para a inflação dos alimentos. “Todo ministro sabe que a comida é cara e é nossa tarefa fazer com que a comida chegue à mesa dos trabalhadores, das donas de casa”, enfatizou o Chefe do Executivo.
Costa atribuiu o aumento dos preços a questões climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul, que destruíram parcela considerável da produção de arroz. Na verdade, os eventos extremos foram a causa principal, com impacto na produção de café, carne, leite, fruta, entre outros produtos, mas há outros motivos. O desequilíbrio fiscal, por exemplo, aumentou a desconfiança do mercado e deu trabalho extra ao Banco Central, que não conseguiu entregar a inflação abaixo do limite-alvo de 4,50% no ano passado, e é improvável que o faça novamente. este ano, de acordo com as projeções atuais.
O ministro disse que as redes de supermercados sugeriram algumas medidas e o governo irá implementá-las nos primeiros dois meses deste ano. “Vamos, a partir destas primeiras reuniões, ouvindo também os produtores, procurar medidas que possam reduzir o preço dos alimentos”, disse. Disse ainda esperar que, com a colheita de 2025, vários alimentos fiquem mais baratos. Mas, na entrevista à CNN, ele descartou a proposta das emissoras de vender produtos não perecíveis e com prazo de validade vencido.
Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, o Executivo também enfrenta obstáculos no seu plano de recuperação económica, pois as taxas de juro são mais elevadas, encarecendo o crédito e limitando os investimentos privados. “Neste cenário, a condução de uma política fiscal responsável será crucial para equilibrar o controlo da inflação com o estímulo ao crescimento económico”, disse ele.
Segundo o presidente do Equity Fund Group, João Kepler, a previsão de inflação acima do teto da meta neste ano preocupa o mercado financeiro. “Esse resultado é um sinal claro de que as pressões inflacionárias persistem e afetam diretamente o consumidor, desgastando o poder de compra e aumentando o custo de vida”.
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Propostas de rede
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) se dispôs a colaborar com o governo federal para enfrentar os desafios econômicos do Brasil, com foco na redução do custo de vida, na promoção da segurança alimentar e no fortalecimento do varejo alimentar, um dos principais geradores de empregos no país. As propostas foram detalhadas ao presidente Lula no final do ano passado e incluem ações concretas para baratear os alimentos e controlar a inflação.
Em linha com a recente declaração do ministro-chefe da Casa Civil, que destacou a prioridade do governo em tornar os alimentos mais acessíveis, a entidade reforçou a importância de medidas específicas para aliviar a pressão inflacionária. Entre as principais propostas está a reestruturação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) por meio do PAT e-Social, em parceria com a Caixa Econômica Federal, o que poderá gerar uma economia de cerca de R$ 10 bilhões anuais.
O presidente da Abras, João Galassi, destacou o alcance das propostas. “As medidas que apresentamos podem ter um impacto significativo no controlo da inflação, na criação de empregos e na construção de uma economia mais justa e sustentável. Com o apoio do governo, acreditamos que estas ações beneficiarão diretamente as famílias, especialmente as famílias de baixos rendimentos”.
Em nota, a Abras comemorou a recente sanção da reforma tributária, que criou a Cesta Básica Nacional isenta de impostos. A entidade acredita que esta medida será um divisor de águas na redução do custo dos alimentos essenciais e no alívio financeiro às famílias brasileiras. “O alívio da cesta básica é um avanço histórico que vai aliviar o orçamento dos brasileiros. Mas, para que isso seja ainda mais efetivo, precisamos continuar promovendo políticas que fortaleçam a cadeia produtiva e o varejo”, afirmou Galassi. “Acreditamos que as ações propostas, se adotadas em conjunto com as políticas públicas já em curso, poderão trazer resultados significativos no controle da inflação e na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros”, acrescentou. Com estas medidas, a associação espera criar um ambiente mais favorável para as famílias enfrentarem os desafios económicos, ao mesmo tempo que promove o crescimento sustentável do retalho alimentar.
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