A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acelerou em maio e registrou alta de 0,46%, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado reforça a preocupação do Banco Central com a desancoragem das expectativas, que deverão continuar a piorar, o que dificultará qualquer redução da taxa básica da economia (Selic) na próxima semana.
A variação do IPCA de maio ficou acima da alta de 0,38% de abril e acima da mediana das projeções de mercado, coletadas pelo Banco Central no último boletim Focus, de 0,40%. Segundo dados do IBGE, oito dos nove grupos pesquisados registraram aumentos de preços, mas a propagação da fome permaneceu em 57% dos itens pesquisados. O aumento do indicador foi impulsionado, segundo o órgão, pela maior escassez de alimentos e bebidas, de 0,62%, em relação a abril, com impacto de 0,13 ponto percentual no IPCA.
A alta nos preços dos tubérculos, raízes e hortaliças, de 6,33%, foi destaque no grupo e a vilã da vez foi a batata, cujo preço subiu 20,61% no mês, —maior impacto individual no índice geral . No ano, o aumento acumulado foi de 36,08%, e, em 12 meses, de 57,94%. Cebola e cenoura entraram na lista dos vilões, com altas mensais de 7,94% e 6,05%, respectivamente.
Analistas reconhecem que a principal surpresa do IPCA de maio ficou por conta do forte aumento dos preços dos alimentos, principalmente em um mês onde a tradição é de desaceleração ou mesmo deflação. E, houve a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, a tendência é que a escassez de alimentos não diminua tão cedo neste primeiro semestre, já que Porto Alegre registrou a maior variação entre as 16 capitais pesquisadas pelo IBGE , em 0,87%.
“O mercado esperava uma desaceleração mais forte dos preços dos alimentos, mas isso não aconteceu. A inflação acabou num patamar bem superior e se olharmos hoje o que esse grupo registrou no ano passado, a variação foi negativa, tanto em maio quanto em junho. Agora, estamos vendo taxas muito longe de serem negativas neste ano”, explicou o economista Andre Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). O especialista em política monetária e inflação lembrou que o evento climático no Sul ajudou a agravar este cenário. “Tanto que o Sul teve a maior inflação do mês, principalmente em alimentos. E foi uma pressão que eles já tinham em abril antes da tragédia e que se agravou com a tragédia. Esse efeito pode continuar daqui para frente, tanto que já afeta as expectativas de inflação para este ano e para o próximo”, destacou Braz, lembrando que as projeções para o IPCA continuam sendo reajustadas para cima.
Na opinião do economista do Ibre, os alimentos continuarão sendo os principais protagonistas da inflação até o final deste primeiro semestre, e, quem sabe, até o início do próximo, pelo fato do fenômeno El Niño ser muito complicado este ano. “É uma situação que deve continuar a desafiar a inflação este ano. Acho que esta é a questão principal. Esperávamos uma trégua do El Nino a partir do final de Abril e isso trouxe esta tragédia para o Sul. E esta é uma situação que será corrigida com o La Nina, que já tem seus próprios desafios climáticos”, alertou Braz.
Fabio Romão, economista sênior da LCA Consultores, reconheceu que, embora o IPCA de maio tenha ficado em linha com sua projeção, de 0,46%, ele estima que, em junho, a variação do IPCA apresente novo aumento, de 0,33%, conforme resultado da desaceleração projetada nos grupos de habitação, vestuário, transportes e saúde e cuidados pessoais.
Segundo ele, o aumento dos preços dos alimentos é preocupante, pois esta subida vai contra a sazonalidade devido à crise climática no sul do país. “Acabamos ajustando novamente as projeções por conta da alimentação em casa e agora temos uma previsão de 3,9% para o IPCA deste ano. Antes eram 3,7%”, destacou Romão.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, classificou o resultado do IPCA de maio como incômodo, e não só pela forte alta dos preços dos alimentos, mas também pela aceleração dos preços dos serviços, que, em 12 meses , passou de 4,60% para 5,09%. “O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, considera relevante a ancoragem das expectativas e não a inflação corrente. O resultado do IPCA de maio não melhora a dinâmica da inflação”, afirmou.
Para o economista e consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, ele reforçou que os dados do IPCA reforçam a tese mais cautelosa na condução da política monetária do BC, devido à aceleração dos preços dos serviços, que, na variação mensal saltou de 0,5% em abril para 0,40% em maio. “O destaque é a inflação em Porto Alegre, que variou 0,87% no mês, influenciada pela batata-inglesa, botijão de gás e gasolina. A primeira leitura dos dados reforça a perspectiva mais hawkish (mais dura com a inflação) do Banco Central e deve aumentar as apostas por apenas mais um corte na taxa Selic”, afirmou.
hIPER >> O IPCA acumulou alta de 2,27% no ano e, nos 12 meses encerrados em maio, subiu 3,93% — acima dos 3,69% registrados no mesmo período até abril e cada vez mais próximo do teto da meta para a inflação de 4,5%. Em maio do ano passado, a variação do indicador foi bem menor, de 0,23%.
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