A greve dos servidores do ensino superior chama a atenção para o funcionamento do diálogo entre o governo federal e o serviço público como um todo. Segundo o convidado do CB.Power – parceria entre Correspondência Isso é TV Brasília — nesta terça-feira (6/11), a presidente do Sindicato dos Empregados do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis), Alison Souza, o serviço público brasileiro passou por um período de forte interdição no diálogo com o Executivo Poder durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro (PL). Aos jornalistas Vinicius Doria e Renato Souza, ele defendeu a necessidade de o atual governo dar a devida atenção às reivindicações dos servidores, especialmente no que diz respeito aos reajustes salariais —que permaneceram congelados durante o último governo.
“Passamos muitos anos com demandas engarrafadas em um governo no qual, pelo menos na esfera federal, não tínhamos diálogo possível. Não houve mesas de negociação e, naturalmente, isso representou um conjunto de exigências — sobretudo remuneratórias — por parte dos servidores. Mas não apenas remunerações, houve muitos relatos de assédio institucional a funcionários no governo anterior. São situações muito difíceis, principalmente porque vivemos uma pandemia, um momento em que o serviço público era fundamental para o nosso país. Então, como resultado de toda essa contenção, hoje estamos vivendo uma situação que resultou nesse governo, que é um governo mais ligado aos trabalhadores, e temos, portanto, todas essas reivindicações sendo colocadas na mesa”, disse. explicou.
Questionada sobre a possibilidade de mais setores do serviço público entrarem em greve caso o governo não cumpra as reivindicações dos servidores, Alison Souza argumentou que é impossível concretizar essa previsão. No entanto, reforçou a convicção de que o governo deve dar “atenção muito especial” principalmente às exigências decorrentes dos sectores com maior impacto na sociedade — como a saúde, a educação e a segurança.
“É difícil saber o que de fato vai acontecer, porque há muitas carreiras, dentro do serviço público, em situações muito diferentes. Mas principalmente nas principais carreiras — do ponto de vista do impacto na sociedade — educação, saúde e segurança, acredito que o governo precisa dar uma atenção muito especial a esses colegas. Porque, na verdade, eles estão sofrendo há muito tempo. São pessoas que sofreram muito durante a pandemia. Eles não decepcionaram os brasileiros e por isso merecem receber um carinho muito especial do governo e de toda a nossa sociedade neste momento de negociação”, destacou.
A possibilidade de haver greves no serviço público durante o atual governo — com o qual os servidores mantêm diálogo constante — depois de quatro anos de outro em que, apesar da falta de diálogo, não houve, não representa uma contradição para o presidente de Sindilegis. Ele argumentou que o momento pandêmico exigiu que os servidores tivessem consciência de que seria necessário sacrificar as demandas pela saúde e pelo bem-estar da população brasileira e que, tendo retornado ao estado de normalidade, é preciso estar atento a essas exige novamente.
“Não era hora de reclamar. Foi um momento de muito sacrifício para todos nós, brasileiros, e para o serviço público, igualmente. Acredito que agora é mais um momento que estamos vivendo. A Economia cresceu 3% no ano passado, este ano deverá crescer mais 2%. Quer dizer, estamos voltando à normalidade e precisamos dar alguma satisfação por todo esse sacrifício que vem sendo vivido ao longo dos últimos anos. O governo tem feito isso corretamente em relação ao agronegócio e à indústria. O mesmo precisa ser feito em relação ao funcionamento do Estado brasileiro, porque senão a população — principalmente a mais pobre — sofrerá muito”, explicou.
“Tem que haver um concurso”
Alison Souza defendeu a necessidade de novos concursos públicos para renovar o contingente de servidores brasileiros. Ele argumentou que, embora o sindicato também represente os interesses dos comissionados — responsáveis por assumir esses cargos públicos na ausência de servidores —, a cultura organizacional das instituições públicas depende da presença de servidores públicos.
“Precisamos entender que existe — e a Constituição fez isso — uma divisão de responsabilidades. O servidor condicionado tem seu espaço mas, quando você pensa na Instituição e aqui estou falando da Câmara, do Senado e do TCU, por exemplo, você precisa de um servidor público. Disso dependem o trabalho técnico, o trabalho perene e a cultura organizacional para o bom funcionamento daquela instituição, até para evitar interferências políticas excessivas neste funcionamento. O servidor precisa ter estabilidade e impessoalidade para poder desempenhar bem a sua função”, afirmou.
*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes
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