Pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprova que a diferença salarial entre homens e mulheres no país persiste. Estatísticas do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) mostram que, em 2022, os homens receberam R$ 3.791,58 de salário médio mensal, e as mulheres, R$ 3.241,18, uma diferença de 17,0%.
Além disso, no geral, ganham menos que eles em 82% das áreas de atividade. “Por outra perspectiva, ainda destacando essa diferença observada nos salários quando se analisa o gênero, é possível dizer que as mulheres recebiam, em média, o equivalente a 85,5% do salário médio mensal dos homens”, afirmou Eliseu Oliveira, analista da pesquisa.
Ao desagregar por gênero, os dados observaram que os empregados assalariados nas empresas eram compostos por 54,7% de homens e 45,3% de mulheres. Em termos de ocupação por setor, os homens tinham a maior participação na Construção (87,6%), Indústrias extrativas (84,2%) e Transportes, armazenamento e correio (81,7%), enquanto as mulheres eram maioria nas ocupações de Saúde humana e serviços sociais ( 74,8%), Educação (67,3%) e Alojamento e alimentação (57,2%).
A advogada Priscila Catarcione, coordenadora trabalhista do Boing Vieites, explicou que, nos últimos anos, houve avanços globais em termos de direitos das mulheres, mas ainda há muito a ser conquistado no setor profissional. “Como mostra a pesquisa do IBGE, as mulheres ainda ganham significativamente menos que os homens e ocupam muito menos cargos de liderança em comparação a eles”, disse ela.
“O fato demonstra que as mulheres continuam enfrentando não apenas os desafios naturais do mercado profissional, mas que ainda precisam combater continuamente um certo nível de misoginia velada no mundo corporativo”, afirmou. “A esperança é que a cada dia a sociedade tome mais consciência de que as diferenças profissionais entre homens e mulheres devem, de facto, ser valorizadas pelo trabalho que desenvolvem e entregam e não pelo seu sexo”, apontou a advogada.
“Vale ressaltar que, mesmo em áreas onde são maioria, as mulheres recebem, em média, menos que os homens. Isso pode indicar diferenças de oportunidades que levam a mais homens em cargos de liderança e, portanto, mais bem remunerados, do que as mulheres. isso acontece? A maternidade, a economia do cuidado e as diferenças nos papéis de gênero construídos culturalmente em nossa sociedade impactam questões subjetivas na trajetória profissional dos indivíduos, como networking, disponibilidade, estar no lugar certo, que afetam tanto suas carreiras quanto eles? . do que questões objetivas como desempenho, produtividade e mérito”, declarou Rachel Rua, diretora do iO Diversidade.
Salários mais baixos
A pesquisa mostra ainda que, em 2022, as empresas sem pessoal assalariado, ou seja, formadas apenas por sócios e proprietários em 31 de dezembro, representavam 69,6% (6,6 milhões) do total de 9,4 milhões de empresas e outras organizações formais ativas. Ao final daquele ano, ocupavam 13,5% do total de 63,0 milhões de pessoas ocupadas. Além disso, pagaram R$ 8,6 bilhões em salários ao longo do ano, 0,4% do total de R$ 2,3 trilhões, registrando um salário médio mensal de R$ 2.454,36, ou 2,0 salários mínimos.
Por outro lado, havia 2,9 milhões de empresas e outras organizações com pessoal assalariado, 30,4% do total. Essas empresas empregavam, em 31 de dezembro, 86,5% do pessoal ocupado total e 32,6% dos sócios e proprietários. Além disso, pagavam 99,6% dos salários e alcançavam salário médio de R$ 3.548,12, ou 2,9 salários mínimos.
Nível de educação
A pesquisa do IBGE também mostrou que, ao analisar as ocupações por nível de escolaridade, 76,6% dos assalariados não tinham ensino superior e 23,4% tinham. Os ocupados assalariados sem ensino superior recebiam, em média, R$ 2.441,16 e os com ensino superior, R$ 7.094,17, aproximadamente três vezes mais.” Sob outra perspectiva, é possível avaliar que os ocupados assalariados sem ensino superior recebiam, em média, , dois salários mínimos, enquanto as pessoas com ensino superior recebiam 5,9 salários mínimos”, acrescentou Eliseu Oliveira, analista da pesquisa.
Apenas duas atividades apresentaram maior participação de pessoas com ensino superior: Educação (64,3%) e Atividades financeiras, seguros e serviços relacionados (60,6%), Administração pública, defesa e seguridade social (47,4%) completam o ranking dos três setores que empregam o maior número de pessoas com esta formação. Quanto aos empregados sem ensino superior, os setores que mais ocupam são Alojamento e alimentação (96,1%), Agricultura, pecuária, produção florestal e aquicultura (94,1%) e Construção (92,6%).
Para o economista Cesar Bergo, a desigualdade salarial não é um problema sério e persistente no Brasil. “Os dados do IBGE mostram que existe uma grande disparidade de renda entre os diferentes grupos sociais. Uma parcela significativa da população recebe salários muito baixos em comparação com uma minoria que concentra a maior parte da riqueza”, disse.
“Essa desigualdade é influenciada por vários fatores, entre eles: o acesso à educação de qualidade, porque, mesmo que o Brasil tenha alguns programas para ajudar nesse acesso, ainda não é razoável; há discriminação no mercado de trabalho; sabemos que as diferenças regionais entre o sul, o nordeste, o norte, acaba criando também muitos problemas em relação à renda”, pontuou o economista.
Bergo destacou que esta disparidade salarial afeta a qualidade de vida das pessoas e também o seu bem-estar. “É fundamental, com o apoio desta investigação, que sejam implementadas políticas públicas para reduzir esta desigualdade. Mesmo tendo conhecimento dos vários programas governamentais, muitos deles não são eficazes”, explicou.
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