São Paulo – O presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, manifestou otimismo em relação ao mercado de crédito e elogiou o trabalho do Banco Central na condução da política monetária.
“O Banco Central tem feito o seu trabalho de garantir que conseguiremos manter a inflação dentro da meta”, disse Sidney, nesta terça-feira (25/6), após participar da abertura do primeiro dia da edição 2024 da Febraban Tech, feira de tecnologia bancária organizada pela entidade que acontece até o dia 27, em São Paulo.
O ex-diretor do BC demonstrou mais uma vez otimismo com o compromisso do governo em buscar o equilíbrio fiscal, apesar do aumento da incerteza no mercado em relação ao apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu ministro da Economia, Fernando Haddad, que tenta zerar a perda de recursos públicos contas, sem muito sucesso. “É um trabalho que também conta com apoio governamental. O governo está empenhado em garantir o cumprimento do quadro fiscal”, acrescentou Sidney.
A meta de inflação para 2024 e próximos dois anos é de 3%, com teto limitado a 4,5%, conforme decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN). Depois que o governo alterou a meta fiscal para este ano e para o próximo, o mercado ficou desconfiado do compromisso de que o presidente Lula conseguirá fechar o rombo nas contas públicas e as expectativas de inflação se desgarraram, e tanto o mercado quanto o próprio BC já projetam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderia encerrar o ano em torno de 4% ou até acima.
Não à toa, a questão fiscal foi um dos problemas destacados na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta manhã, e que ajudou na decisão unânime do colegiado de manter a taxa básica da economia (Selic) em 10,50%. por ano e, assim, interromper o ciclo de queda dos juros básicos, iniciado em agosto de 2023.
No documento, o Comitê elevou de 4,5% para 4,75% a taxa neutra da economia, que é o nível dos juros, descontada a inflação, que não afeta a atividade econômica. O aumento desse indicador sinaliza que os juros devem permanecer em patamar mais elevado por mais tempo, já que as projeções de inflação pioraram em relação à última reunião do Copom, realizada em maio.
Para Sidney, é importante que o governo continue perseguindo as metas fiscais, conforme orienta o BC na ata e no comunicado. “Se conseguirmos manter, do ponto de vista macroeconômico, buscando o equilíbrio das finanças públicas, facilitaremos muito o trabalho do Banco Central. Hoje, o Banco Central divulgou sua ata, prestando maiores esclarecimentos sobre a decisão”, afirmou o presidente da Febraban.
Ao comentar o fim do ciclo de corte da taxa Selic, Isaac Sidney ainda acha que será possível o Copom reduzir novamente os juros, mas com um freio de arrumação. “Não foi uma decisão de fechamento possível, foi uma interrupção para analisar os cenários externos e internos. Esse freio de arrumação, por assim dizer, revelou-se necessário. Foi uma decisão unânime do Copom, o que mostra que é hora de analisar os dados para saber quando poderemos continuar novamente a queda da alíquota básica”, afirmou.
O executivo garantiu ainda que os bancos esperam que o BC reduza novamente a taxa básica. “Os bancos querem taxas de juros mais baixas. Temos interesse que o Brasil tenha taxas de juros estruturais mais baixas, porque isso facilita o acesso ao crédito”, destacou.
Mercado de crédito em ascensão
Isaac Sidney também destacou qualquer movimento de retração no mercado de crédito, apesar da decisão do Copom de manter a taxa Selic na última reunião.
“Não acredito que haverá uma crise de crédito. Estamos no quarto mês consecutivo do ano com aceleração, ainda que gradual, do crédito. Nossa expectativa é que o crédito cresça, em 2024, no patamar de 10%. Este é um crescimento forte, um crescimento robusto”, disse ele. “Estamos vendo o crédito para as famílias crescendo em torno de 11% ao ano, o crédito para as empresas crescendo em um patamar menor, historicamente é assim. Em 2023, tivemos momentos muito difíceis para o crédito corporativo, para o crédito para empresas, devido, por exemplo, ao que aconteceu em Americanas, depois também vivemos a recuperação judicial da Oi e da Light. Isso trouxe maior aversão ao risco ao crédito corporativo”, acrescentou.
Segundo o presidente da Febraban, o nível de inadimplência atualmente é “adequado” e, mesmo com a taxa Selic mais elevada, será possível que o setor de crédito termine o ano com crescimento de 10% em relação a 2023. “Já voltou aos níveis pré-pandemia, e acreditamos que o mercado de crédito tem todas as condições para se desenvolver, para crescer a um nível razoável, em torno de 10% em 2024”, afirmou.
Inteligência artificial
O presidente da Febraban reforçou a importância do tema principal do evento, que é o avanço da Inteligência Artificial (IA), e defendeu a responsabilidade não só das empresas, mas também do governo e dos legisladores no processo de regulamentação desta tecnologia que é sendo discutido no Congresso Nacional.
“Estamos vivenciando transformações muito relevantes, transformações que vêm do Banco Central, como regulador, para fomentar a competitividade, transformações dos nossos clientes que exigem cada vez mais serviços e produtos mais eficientes e acessíveis, mais baratos, e também estamos vendo uma transformação tecnológica, que inclui inteligência artificial, tudo com foco no foco principal, na centralidade do nosso cliente”, afirmou.
Na avaliação de Sidney, o PL de regulamentação da IA, que tramita no Congresso e é relatado pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), é um projeto de princípio, que prevê a figura de uma espécie de agência reguladora. “A reivindicação que temos, não só nós, mas outros setores que são regulados, já temos reguladores que estão cientes da atuação de cada setor regulado”, afirmou.
Segundo ele, os bancos pediram ao relator que ele possa deixar a regulamentação do direito artificial para os atuais reguladores, deixando o projeto de lei como um quadro de princípios, um quadro conceitual, evitando constrangimentos para empresas e investimentos. “Isso é importante para que o PL não se transforme em uma regulamentação adicional, fazendo com que os setores regulados tendam a observar marcos e regulamentações em diferentes espaços que acabam prejudicando o seu trabalho”, afirmou.
Desenvolvimento
Isaac Sidney destacou ainda que os bancos “estão muito engajados no desenvolvimento do Brasil”. “Isso envolve uma série de iniciativas e ações voltadas para aspectos sociais, climáticos e ambientais, aspectos do desenvolvimento sustentável”, afirmou. “O que significa que somos bancos mais que emprestadores de recursos, mais que emprestadores de dinheiro, somos, efetivamente, canais para o desenvolvimento da economia brasileira e somos também pontos de conexão globais”, acrescentou.
Na opinião do presidente da Febraban, para a economia crescer é preciso ter bancos sólidos, “bancos fortes, capitalizados, rentáveis, bancos que possam devolver à sociedade a confiança que nossos clientes têm, que nossos investidores fazem ao depositar seus poupança, seus recursos em todos os bancos do Brasil”. “Também estamos muito satisfeitos por podermos integrar a rede do Sistema Financeiro Nacional, que não é só constituída por bancos, é também constituída por instituições financeiras não bancárias”, acrescentou.
Edição histórica
A Febraban Tech é a maior feira de tecnologia e inovação do setor financeiro nacional e internacional. A edição 2024 do evento promete ser histórica, segundo os organizadores. A feira conta com 19,7 mil m2 de área construída, um aumento de mais de 50% em relação ao ano passado.
A área expositiva aumentou 20%, atingindo 6.630 m². No total, serão 226 áreas de exposição, muito mais que as 188 de 2023. Além da IA responsável, Open Finance, Pix e a visão de futuro dos bancos na garantia da cibersegurança são alguns dos temas do evento. O público esperado é de 16 mil pessoas por dia, totalizando 58 mil visitantes nos três dias de evento. Em 2023, a média foi de 15 mil visitantes diários.
*O jornalista viajou a convite da Febraban
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