Uma série de “acasos” marcou a iniciação de Rebeca Andrade na ginástica artísticaainda aos 6 anos, em Guarulhos (SP).
Estávamos no início dos anos 2000 e o novo grupo de crianças do projeto social da prefeitura da Grande São Paulo já estava praticamente selecionado? sem o nome Rebeca, filha de mãe solteiratrabalhadora doméstica, que tinha pouco tempo para pensar numa carreira desportiva dentro da família.
Mas a tia de Rebeca, Cida, tinha acabado de começar a trabalhar como cozinheira na academia de esportes. E pediu à professora e treinadora Mônica dos Anjos que “dá uma olhada” naquela sobrinha animada que já gostava de pular os móveis de casa.
“Quando vi aquele corpo forte, tonificado e cheio de músculos que a gente procura nas crianças da ginástica, já sabia que tinha algo especial”, lembra Mônica sobre a decisão de abrir espaço para mais um aluno nas turmas.
O resto é história.
Rebeca Andrade se tornou nesta segunda-feira (5/8) a maior medalhista da história olímpica brasileira, ao conquistar o ouro na ginástica de solo, superando a americana Simone Biles. No total, ela já subiu a seis pódios olímpicos.
A medalha histórica da ginasta de 25 anos em Paris se somou à prata no salto e no individual geral, além do bronze pela seleção brasileira.
Nos Jogos de Tóquio, em 2021, Rebeca conquistou prata no individual geral e ouro no salto.
Com as conquistas em Paris, Rebeca também se tornou a maior medalhista brasileira em uma única edição dos Jogos.
Para a professora que acompanhou os primeiros saltos de Rebeca, as subidas cada vez mais frequentes ao pódio rebobinam um filme.
“Isso me vem à mente quando ela veio ainda pequena com a tia. Segurei a mão dela e pedi para ela pular na plataforma. Pensei: temos um novo Daiane dos Santos“, diz Mônica dos Anjos, lembrando de outra vitoriosa ginasta brasileira, também negra e de periferia, que vivia seu auge na época.
Tanto o sucesso de Daiane quanto de Rebeca, duas “mulheres carismáticas que trazem a alegria do esporte”, têm consolidado cada vez mais o Brasil na ginástica mundial, diz Luisa Parente, a primeira ginasta do país a participar de duas Olimpíadas: Seul 1988 e Barcelona 1992.
No projeto social de Guarulhos, onde ia com o irmão mais velho, um dos oito filhos de Dona Rosa, o talento de Rebeca se destacou e ela passou a ser acompanhada pelo técnico Chico Porath, que está com ela até hoje.
“Era difícil mantê-la focada, porque ela achava tudo fácil. Eu colocava as meninas na fila e dizia ‘cadê a Rebeca?’ Ela ficava observando os mais velhos, imitando os passos da dança, os movimentos”, lembra Mônica dos Anjos
A ginasta mudou-se então aos dez anos para Curitiba e, posteriormente, para o Rio de Janeiro, onde ingressou no Clube de Regatas do Flamengo, do qual é atleta até hoje.
Mas ? além da coincidência de morar em uma cidade com um projeto social relevante na ginástica, ter o “empurrão” do sucesso de Daiane e ter uma tia que cozinhava para os jovens atletas? o que faz de Rebeca uma atleta tão “gênio”, a ponto de ser a única atualmente enfrentando Simone Bilesa superginasta americana?
Existem três fatores principais destacados pelas técnicas anteriores: força física e potência; equilíbrio mental; e carisma.
Pouco depois de conquistar a medalha de prata nesta quinta-feira, Rebeca respondeu a uma pergunta feita pela BBC News Brasil: qual dessas três características mais a ajudou a chegar onde está?
“Os três me ajudaram, o equilíbrio de tudo. E claro, todo o trabalho da minha equipe, Chico [técnico] Você olha para mim e eu sei que você confia em mim. Eu olho para ele e confio nele. Se acontecer alguma coisa, sempre nos sentiremos orgulhosos. Isso me tranquiliza”, disse Rebeca.
1 – Um corpo poderoso

Aquelas características físicas que a professora Mônica dos Anjos notou ao olhar pela primeira vez para Rebeca acabaram se revelando a arma da brasileira.
“A força muscular que ela tem faz com que ela suba muito alto nos saltos e execute os elementos de forma mais limpa”, afirma Mônica.
A ex-ginasta e pioneira Luisa Parente, que trabalhou com Rebeca no Flamengo, dá o exemplo de uma bailarina para explicar Rebeca, que “parece uma pena, mesmo tendo que usar muita força”.
“Dá para perceber que tem ginastas que a gente percebe que estão se esforçando muito para realizar os movimentos. Mas a Rebeca, assim como a Simone Biles, não. e da habilidade técnica que adquiriu”, afirma.
“O vôo da Rebeca alcança o que toda ginasta almeja, que é o que chamamos de amplitude de movimento, que é altura mais distância.”
A força da brasileira a torna “explosiva” na hora de sair para correr, explica Mônica dos Anjos — é como um carro potente, que pode ir de 0 a 100 km/h em pouco tempo.
“No caso do salto, ele vem muito rápido e, quando bate na mesa, consegue subir alto. Isso faz com que ele caia com mais tranquilidade.”
Apesar de forte, o corpo de Rebeca também sofre com os esforços constantes do esporte. Ela já passou por três cirurgias no joelho direito, em 2015, 2017 e 2019.
Nesses períodos, ele pensou algumas vezes em abandonar a carreira, conforme relatou em entrevistas. Mas Rebeca contou com o apoio da mãe, dos treinadores e até de Simone Biles, que a aconselhou a “não desistir”, segundo a ginasta brasileira.
“Na última lesão, lembro que ela quase jogou a toalha. Lembro de conversar com ela na varanda do clube e eu dizer: ‘vai falar com sua mãe, depois volta porque seu lugar é no topo do pódio’”, lembra Luísa Parente.
2 – Concentração e cabeça no lugar

A ginástica não é um esporte fácil. Os treinos são pesados, repetitivos, com horas e horas repetindo o mesmo movimento.
“Quando chegam lá na hora da competição a pressão sobre eles próprios é enorme, não querem cometer erros”, explica Mónica dos Anjos.
Mas os erros acontecem inevitavelmente, independentemente das horas dedicadas ao treinamento. E é aí que entra o trabalho de concentração e com psicólogos.
“Se errar, tem que levantar. Vejo como as meninas estão centradas, focadas. Sei que estão recebendo apoio psicológico, o que faz toda a diferença”, afirma Mônica.
Nesta quinta-feira, após conquistar a medalha, Rebeca reforçou a importância de ter um profissional de saúde mental ao seu lado: “Teve um dia que eu estava mais ansiosa e fui conversar com minha psicóloga.
Além de saber lidar com falhas, Rebeca também consegue se colocar em uma “bolha” durante as provas, segundo seu primeiro treinador.
“Observo que ela finge que não tem nada por perto. Ela não fica olhando o placar ou se os outros erraram ou acertaram os movimentos. Ela só quer executar os dela”, diz.
Para Luísa Parente, atletas muito experientes como Rebeca – que, apesar de ter 25 anos, pratica ginástica há 20 anos – têm a vantagem de conhecer melhor o seu corpo.
“Dá para aproveitar mais o momento, não ficar tão tenso com a perfeição”, avalia.
“E tem também o entrosamento com o treinador (Rebeca e Chico Porath trabalham juntos desde criança) que também ajuda, porque ele é a pessoa que mais passa tempo com ela, tem intimidade com ela e sabe apoiá-la. .”

3 – O carisma que levanta a multidão
Na pista de ginástica, onde as atletas femininas se apresentam com música, a energia da ginasta conta, segundo os treinadores. E Rebeca tem isso de sobra.
“Se você comparar, os americanos fazem as acrobacias muito bem. Mas os nossos brasileiros, não só a Rebeca, eles levantam o público, dão show”, diz Mônica dos Anjos.
Para o técnico, que também atua como árbitro em competições internacionais, quando o atleta vê a torcida comemorando junta, “dá arrepios, ajuda a impulsionar o salto, é como se tivesse mais uma pessoa no palco”.
Ao ver Rebeca dar entrevistas hoje, com a voz fina e sempre sorrindo, a primeira treinadora diz que se lembra da criança que ainda vive na campeã olímpica feminina. “A maneira que nos conquistou ainda está lá.”
A escolha da música para o solo, feita em conjunto entre atleta e treinador, também auxilia na interação com o público. No caso de Rebeca, o ritmo que a empurra para cima conta um pouco da sua história.
Brasileiro se apresenta em Paris ao som de remix das músicas Fim do tempopor Beyoncé e Movimento de acordeão, de Anitta. Em Tóquio, ela já havia conquistado o público com seu Dança da Favelapor MC João.
“A atleta tem que estar gostando do que está apresentando. E a gente vê que ela está”, diz Mônica.
“Traduz-se em alegria, é divertido na competição”, acrescenta Luisa Parente.

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