Yahya Sinwar, designado nesta terça-feira (6) como o novo líder político do Hamas, é um ativista radical e pragmático que passou muitos anos na prisão, conseguiu escapar de múltiplas tentativas de assassinato e é considerado o mentor dos ataques de 7 de outubro contra Israel.
Passou 23 anos nas prisões israelitas e depois juntou-se ao aparelho de segurança do movimento islâmico palestiniano, onde foi responsável pelas purgas. Hoje, Israel o considera um “homem morto”.
O ex-líder do Hamas na Faixa de Gaza, de 61 anos, foi o mentor do ataque de 7 de outubro, quando centenas de milicianos palestinos atacaram kibutzes, bases militares e uma festa rave em Israel, no pior ataque contra civis desde a criação do o Estado israelense em 1948.
Naquele dia, 1.198 pessoas morreram e cerca de 240 foram feitas reféns, segundo dados israelenses.
“Foi a estratégia dele, foi ele quem organizou a operação” provavelmente durante um período de um ou dois anos, explica à AFP Leïla Seurat, pesquisadora do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos (CAREP) de Paris.
Sinwar substitui Ismail Haniyeh, que foi assassinado em Teerão em 31 de julho num ataque com explosivos, que tanto o Hamas como o Irão atribuem a Israel, que por sua vez não assumiu a responsabilidade pelo ataque.
Este homem simples e de cabelos brancos “impôs a sua agenda para mudar o equilíbrio de poder no terreno e surpreendeu a todos”, afirma o especialista.
Sinwar não é visto em público desde outubro. “Ele é o homem de segurança por excelência (…) com o carisma de um líder”, disse à AFP Abu Abdallah, membro do Hamas que estava com ele na prisão em 2017, quando Sinwar assumiu o comando.
Radical e pragmático
Em 1987, quando eclodiu a primeira Intifada (revolta contra a ocupação israelita) num campo de refugiados no norte da Faixa de Gaza, Sinwar, nascido em Khan Yunis, juntou-se ao Hamas, que acabava de ser criado.
Aos 25 anos, ele já chefiava a Organização da Jihad e da Pregação, uma unidade de inteligência do Hamas que punia os “colaboradores” palestinos com Israel.
Em 1988, fundou o Majd, serviço de segurança interna do Hamas. Um ano depois, ele foi preso e se tornou o líder dos presos.
Apesar de ter sido várias vezes condenado à prisão perpétua, foi libertado em 2011, juntamente com outros mil detidos, ao abrigo de um acordo com Israel em troca da libertação de Gilad Shalit, um soldado israelita mantido refém pelo Hamas durante cinco anos.
Sinwar viu Israel eliminar os seus mentores, como o Xeique Ahmed Yassin e Salah Chehadé, fundador das brigadas Ezzedin Al Qasam, o braço armado do Hamas.
Seu nome está na lista americana de “terroristas internacionais” e já foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato.
Em 2017, foi eleito líder do Hamas em Gaza e promoveu uma estratégia “radical a nível militar e pragmática a nível político”, aponta Leïla Seurat.
Estrangulado “com um kufiya”
A mídia israelense publicou trechos de seus interrogatórios. Em um deles, Sinwar falou sobre o sequestro de um “traidor”. “Nós o levamos ao cemitério de Khan Yunis (…), colocamos ele em uma cova e o estrangulamos com uma kufiya (…). Eu tinha certeza que ele sabia que merecia morrer”.
No campo político, Sinwar defende uma liderança palestiniana unificada para todos os territórios ocupados: a Faixa de Gaza, actualmente sob o controlo do Hamas, a Cisjordânia, administrada pela Fatah de Mahmoud Abbas, e Jerusalém Oriental.
Em 2017, o Hamas aceitou o princípio de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967, mas manteve como objectivo final a “libertação” de todo o território da Palestina de 1948, incluindo o actual território israelita.
Mas quando a estratégia de “respeitabilidade” do Hamas falha, transforma-se em violência.
Em 2018-19, quando ninguém no mundo parecia interessado na questão palestiniana, promoveu as Marchas de Retorno, que deixaram quase 300 pessoas mortas em confrontos ao longo da barreira de separação com Israel.
Em 7 de Outubro de 2023, o Hamas lançou o seu ataque explodindo o posto de controlo que guardava a fronteira com a Faixa de Gaza, bloqueada desde 2007. A resposta israelita já custou quase 40.000 vidas, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
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