O canoísta baiano Isaquias Queiroz, de 30 anos, conquistou nesta quinta-feira (8/8) a medalha de prata no C1 1000m, nas Olimpíadas de Paris. Esta é sua quinta medalha nos Jogos Olímpicos.
Em Tóquio 2020, foi campeão no C1 1000m — o ‘c’ vem de canoa, o primeiro número refere-se ao número de atletas e o segundo, à distância da prova em metros.
Além da prata em Paris 2024 e do ouro em Tóquio 2020, Isaquias conquistou prata nos C1 1000m e C2 1000m e bronze no C1 200m no Rio 2016 —na ocasião, tornou-se o primeiro atleta brasileiro a conquistar três medalhas em uma só edição dos Jogos Olímpicos.
Porta-bandeira do Brasil na abertura dos jogos de Paris 2024, Isaquias cresceu em Ubaitaba (cerca de 370 km ao sul de Salvador), cidade de 20 mil habitantes localizada em uma região que no passado foi habitada por indígenas Tupiniquins.
Atravessada pelo Rio das Contas, que deságua no destino turístico Itacaré, a cidade leva até a canoa no nome: seu nome resulta da união das palavras indígenas ubá (pequena canoa), y (rio) e taba (aldeia). , cidade).
Foi lá que Isaquias deu as primeiras braçadas.
Aos 19 anos, em 2013, o atleta alcançou pela primeira vez o topo do mundo da canoagem, com ouro no C1 500m e bronze no C1 1000m no Mundial de Canoagem.
Naquele ano, começou a trabalhar com o espanhol Jesús Morlan, treinador obcecado por números que já contava com cinco medalhas olímpicas, a maioria delas com David Cal, o atleta espanhol com mais pódios olímpicos da história.
O maior canoísta do Brasil teve que superar uma série de obstáculos para participar com sucesso das Olimpíadas de Paris 2024.
Conheça cinco momentos-chave da trajetória do atleta.
1. Queimaduras
Aos três anos, ele sofreu um acidente com água fervente.
Uma jovem que cuidava de Isaquias enquanto sua mãe trabalhava como frentista colocou água para ferver, a panela tombou e bateu na criança.
Sofrendo com queimaduras graves, Isaquias passou um mês internado e quase foi abandonado pelos médicos, mas acabou se recuperando.
2. Sequestro
O pai de Isaquias faleceu quando ele tinha apenas dois anos e sua mãe, Dilma, cuidava dele e de outros nove irmãos (cinco biológicos e quatro adotivos).
Ao trabalhar, às vezes deixava os filhos trancados em casa.
Um dia, Dilma foi chamada para trabalhar porque Isaquias estava desaparecido.
Ela estava preocupada porque uma mulher já havia ameaçado levar o menino, que mais tarde foi encontrado, sozinho e chorando, numa plantação de cacau.
3. Perda de um rim
Em 2004, aos dez anos, um ano antes de começar a praticar canoagem, Isaquias tentou subir numa mangueira para ver uma cobra morta.
Ele perdeu o equilíbrio e caiu de costas em uma pedra.
Sofrendo de hemorragia interna, o menino precisou ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e teve um dos rins retirado, o que o obriga a beber muito mais água do que o normal atualmente.
O fato também deu origem ao apelido “Sem-Rim”, como passou a ser chamado na cidade.
4. Fora do Pan 2011 e Londres 2012
Em julho de 2011, com apenas 17 anos, Isaquias conquistou seu primeiro feito histórico na canoagem brasileira: foi campeão no C1 200m e vice-campeão no C1 500m no mundial júnior, disputado naquele ano na Alemanha.
Foi o ano em que Isaquias deixou Ubaitaba e foi morar no Rio de Janeiro, e enfrentou problemas de adaptação à nova rotina de treinos, poucos amigos e pouco dinheiro.
Acabou não sendo incluído na equipe que disputaria os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (México), em outubro.
Revoltado, voltou para sua cidade natal sem autorização e foi suspenso da seleção.
Ele só voltou a treinar no ano seguinte e também ficou de fora dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
5. Queda na reta final
No Mundial de Canoagem de 2014, em Moscou, Isaquias liderou quase toda a prova individual dos 1.000 m, mas acabou perdendo o título porque mergulhou na água comemorando antes da linha de chegada.
Resultado: o ouro ficou com o alemão Sebastian Brendel (campeão do evento em Londres-2012 e também no Rio).
A organização chegou a dar a medalha de prata a Isaquias, mas após atualização do sistema o resultado foi alterado para “não completou a prova”.
“Meu mundo desabou, só precisei chorar”, disse ele mais tarde, sobre o episódio, à revista Isto É.
Acabou dando a volta por cima no mesmo mundial, conquistando o bicampeonato no C1 500m e o bronze no C2 200m com Erlon de Souza.
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