O estudante brasileiro Lucas*, 25 anos, às vezes acorda no meio da noite com sirenes altas e mensagens em seu celular pedindo para que ele se proteja: “Perigo de mísseis. Não chegue perto das janelas”, diz a mensagem.
O receio é que os destroços dos mísseis Ucrânia interceptado pela Rússia poderia chegar ao seu quarto.
Lucas mora em Kursk, cidade da região russa de mesmo nome onde As tropas ucranianas avançam dia após dia há uma semana, capturando soldados inimigos. A cidade de Kursk fica a mais de 100 km da região fronteiriça, mas já teve prédios atingidos por mísseis ucranianos e sente cada vez mais os efeitos da guerra.
Isso é A incursão militar mais profunda e significativa da Ucrânia desde que a invasão em grande escala do território ucraniano pela Rússia começou em Fevereiro de 2022.
A Ucrânia afirma controlar cerca de 1.000 km² da Rússia e 74 cidades e vilas. A Rússia diz que impediu que as forças ucranianas avançassem ainda mais na região e enviou tropas.
O jogador de 25 anos não é o único brasileiro em Kursk. A cidade pouco conhecida, com cerca de 500 mil habitantes, é uma espécie de “reduto” dos brasileiros na Rússia – principalmente dos estudantes de medicina.
“Um pedacinho do Brasil em um país europeu”, diz em seu site a Aliança Russa, empresa responsável por levar a grande maioria dos estudantes à cidade e “representante das principais universidades russas no Brasil desde 2005”.
Segundo o Itamaraty, a comunidade brasileira na Rússia é “relativamente pequena”, distribuída principalmente entre as grandes cidades de Moscou e São Petersburgo. Nó último relatório do Itamaraty, com dados de 2022, estimou que havia cerca de 900 brasileiros no país.
Em 2024, “em Kursk, há cerca de 30 estudantes brasileiros, a maioria matriculados na Universidade Federal de Kursk, no curso de medicina”, disse o Itamaraty em nota.
Segundo Lucas, que mantém relacionamento com toda a comunidade local brasileira, o número é maior. “Tem cerca de 50 alunos aqui. Mas no momento, como estamos de férias, são apenas 15 na cidade”, afirma. No passado, esse número era bem maior, segundo o brasileiro: “Cerca de 500”.
Relatório recente de Folha de S.Paulo no Exame Nacional de Revalidação de Diploma Médico mostrou que, só em 2024, 164 profissionais formados na Rússia realizaram o teste. A principal instituição, segundo os estudantes, é a Kursk State Medical University.
A BBC News Brasil tentou contato com a Aliança Russa, responsável por levar brasileiros ao país, para obter dados e saber se estão prestando algum apoio aos estudantes, mas não obteve resposta. Os alunos também dizem que não conseguiram entrar em contato.

‘Sensação de perigo’
Ao conversar com Lucas nesta quarta-feira (14/8), o repórter ouviu a sirene tocando e uma mensagem no alto-falante de seu quarto, no alojamento da universidade. O pedido, segundo o aluno, foi para se afastar da janela.
“O anúncio de perigo de míssil toca em um alto-falante de emergência o tempo todo, ouvimos ruídos de explosão, notícias de prédios residenciais sendo atingidos por destroços de mísseis, pessoas gravemente feridas. É como o som de Silent Hill [filme de terror em que toca uma sirene]”, diz o aluno.
“Quem é brasileiro não tem ideia [o que é uma guerra]só sabemos disso ouvindo nas aulas de história.”
Para Lucas, apesar dos avisos e barulhos, a vida na cidade continua com certa normalidade. “A sirene toca, mas as pessoas continuam fazendo o que querem. Ninguém fica desesperado.”
A internet, no entanto, tem estado instável.
“Sabemos que o exército russo é bom na interceptação de mísseis, mas o medo é que os estilhaços atinjam edifícios”, afirma.
“Então causa preocupação porque pode cair alguma coisa na nossa cabeça e não teremos para onde correr. É uma sensação de perigo físico”, descreve Lucas. O jovem conta que, em caso de crises de ansiedade, precisa ligar para os pais no Brasil.

O brasileiro diz que escolheu ir para a Rússia porque, desde criança, admirava a cultura do país — e também pelos preços mais baratos que uma universidade privada de medicina no Brasil. Ele paga cerca de R$ 17 mil por semestre de hospedagem.
Lucas pretende concluir o curso de medicina de 6 anos em Kursk, mas diz que agora a “vontade é ir para um lugar onde me sinta mais seguro”.
“Não tenho dinheiro para sair da cidade, para pagar hospedagem em outra cidade e ir para o Brasil é inviável, porque além da passagem ser cara, as aulas poderiam ser retomadas em um futuro próximo e eu teria que interromper o curso “, explica ele.
O estudante diz esperar um plano do Itamaraty para brasileiros em Kursk, como hospedagem em outra cidade.
A Embaixada em Moscou teria se reunido com dois estudantes que deixaram Kursk e apresentado as demandas dos residentes da região. Teriam ouvido falar que há necessidade de liberação de recursos de Brasília, mas que existe um plano de evacuação caso seja necessário.
Fonte do Itamaraty disse que a instituição está atenta aos acontecimentos na região de Kursk e “pronta para agir”.
O Itamaraty informou ainda em nota que “desde fevereiro de 2022, com o início do conflito entre Ucrânia e Rússia, tem prestado regularmente apoio à comunidade brasileira residente em Kursk”. “Em diversas ocasiões, diplomatas, incluindo o próprio Embaixador, deslocaram-se a Kursk para se reunirem e prestarem apoio e orientação aos estudantes residentes naquela cidade”, acrescenta a nota.
Símbolo da cidade da Segunda Guerra Mundial

A cidade e oblast (tipo de estado na Rússia) de Kursk são um dos símbolos do orgulho russo.
Foi nesta região que a então União Soviética conquistou o maior batalha de tanques da históriacontra o exército alemão nazista na Segunda Guerra Mundial, em 1943.
O conflito é considerado um “ponto de viragem” na história da guerra, quando o Exército Vermelho frustrou um contra-ataque nazista massivo depois que as tropas de Adolf Hitler sofreram uma derrota colossal em Stalingrado (atual Volgogrado) no inverno de 1942-43. .
A cidade também possui monumentos de importância federal, como a Catedral Znamensky, e é considerada um dos centros culturais e religiosos da Rússia.
Localizada perto da fronteira com a Ucrânia, Kursk é também uma cidade muito cosmopolita, segundo os estudantes, justamente pela atratividade de suas instituições de ensino.
“A cidade em si é muito internacional, tem muita gente do Uzbequistão, do Azerbaijão e, principalmente, da Índia”, diz Lucas.
O aluno diz que se sente “em casa” nesta “cidade pequena com cara de cidade grande, onde me sinto seguro”.
*O nome foi alterado a pedido do entrevistado, por questões de segurança
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