Existe a possibilidade de os passageiros do voo Voepass, que caiu em Vinhedo no dia 9 de agosto, terem sido avisados pela cabine de comando sobre o acidente iminente.
A suspeita foi relatada por Mauricio Freire, diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), no estado de São Paulo, durante coletiva de imprensa na manhã da última quinta-feira (15).
“A maioria das vítimas encontradas estava com as mãos preservadas. Não sei se houve comando da tripulação de que estavam em emergência ou se as pessoas perceberam, com essa queda brusca, mas muitos corpos estavam naquela posição [de “brace”]o que não aconteceu na TAM. [Naquele caso,] eles estavam em sua posição normal quando a aeronave entrou no prédio”, afirmou Mauricio Freire.
A hipótese ainda precisa ser confirmada por um relatório preliminar que será emitido pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Qual é a posição da cinta e ela realmente ajuda a salvar vidas?
A posição é geralmente recomendada para reduzir movimentos descontrolados e minimizar o impacto durante uma cair. Em inglês, o nome vem de ‘Brace for impact’ (prepare-se para o impacto).
Pesquisas e testes para estabelecer posições de “proteção contra colisões” para passageiros e comissários de bordo foram conduzidos pelo Instituto Médico Aeroespacial Civildo Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA.
Segundo o instituto, para determinar a melhor posição de proteção para cada pessoa, seria necessário conhecer o tamanho e as limitações físicas do indivíduo, a configuração dos assentos, o tipo de emergência e muitos outros fatores.
Porém, o engenheiro aeronáutico Jorge Leal Medeiros explica que, em geral, as instruções são semelhantes.
“O principal é se preparar para o impacto, evitar movimentos bruscos, principalmente da cabeça, que podem causar lesões”.
O impacto causado por uma queda ou pouso de emergência pode ser reduzido posicionando o corpo (principalmente a cabeça) contra a superfície que seria atingida durante o impacto (o assento da frente, por exemplo).
Além disso, os movimentos descontrolados podem ser reduzidos flexionando, dobrando ou inclinando o corpo sobre as pernas de alguma forma.
Medeiros afirma que o cargo pode sim salvar vidas em tempos de emergência. Mas o sucesso da manobra depende também das condições em que o avião cai ou pousa.
“No caso do avião que caiu em Valinhos, pelos danos na aeronave, e também pelo fato dos passageiros terem morrido por politraumatismo craniano, sabemos que a queda foi muito forte”.
Mauricio Pontes, investigador de acidentes aéreos e conselheiro executivo da ABRAPAC (Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil), explica que a manobra também é recomendada para pouso ou queda na água.
“Em 2015, a FAA concluiu que esta manobra atenua lesões na cabeça e pescoço”.
Mas é importante deixar claro que o acesso às investigações é restrito e como ainda estamos em um longo período de análise de provas, não arrisco relacionar as informações com o que pode ter acontecido nos minutos finais do voo Voepass. As hipóteses estão sendo avaliadas criteriosamente pelas investigações, notadamente a do Cenipa.”
Como realizar a posição de cinta
O Grupo TÜV Rheinlanduma empresa alemã de serviços técnicos e de segurança, realizou um estudo com o objetivo de otimizar as orientações para a posição “brace”. O documento fornece o seguinte passo a passo:
- Deslize para trás no assento o máximo possível, apoiando firmemente as nádegas no encosto;
- Certifique-se de que o cinto de segurança esteja bem preso e sem torção.
- Aperte bem o cinto de segurança à volta das ancas;
- Incline o tronco para a frente, coloque as mãos espalmadas à esquerda e à direita da cabeça e coloque-a no assento à sua frente;
- Estenda as pernas e, se possível, apoie-as completamente na estrutura rígida do assento da frente;
- Coloque qualquer bagagem de mão sob o assento à sua frente e empurre-a para frente. Apoie os pés na bagagem;
- Se você estiver na primeira fila, segure as pernas abaixo dos joelhos com as mãos;
- Mantenha esta posição até que a aeronave pare completamente.
“Os passageiros não devem usar travesseiros ou cobertores entre o corpo e o objeto contra o qual estão se protegendo (seja o encosto do banco ou o próprio corpo)”, recomenda a publicação do Instituto Médico Aeroespacial Civil.
Travesseiros e cobertores proporcionam pouca ou nenhuma absorção de energia e aumentam a possibilidade de lesões secundárias por impacto.
“Além disso, travesseiros e cobertores podem criar obstáculos adicionais nos corredores, o que pode ser prejudicial em uma evacuação de emergência”.
A instituição afirma ainda que as crianças nos bancos dos passageiros devem utilizar a mesma posição de proteção dos adultos.
“Os adultos que seguram os bebês devem fornecer o máximo de apoio possível à cabeça, ao pescoço e ao corpo do bebê, inclinando-se sobre o bebê para minimizar a possibilidade de lesões por movimentos descontrolados.”
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