Milhares de mulheres e menores deslocados pela violência de gangues criminosas no Haiti estão ameaçados por um “aumento” de agressões sexuais, alertou a ONU nesta terça-feira (27), denunciando as deploráveis condições de vida nos campos improvisados da capital, Port-au. -Príncipe.
“O risco de violência sexual para mulheres e menores que vivem em áreas de deslocamento em Porto Príncipe está aumentando rapidamente, em parte devido às suas condições de vida deploráveis”, alertou o Fundo de População das Nações Unidas num comunicado de imprensa. (FNUAP).
“Entre Março e Maio de 2024, o número de casos de violência sexual e de género registados pelo UNFPA e seus parceiros aumentou mais de 40%, mas estes casos notificados são apenas uma pequena parte do total”, destacou.
Segundo dados da ONU, esta violência aumentou de 250 casos em Janeiro-Fevereiro para mais de 2.000 em Abril-Maio.
Entre as cerca de 185 mil pessoas que tiveram de fugir das suas casas em Porto Príncipe, muitas vivem em campos improvisados visitados pela agência da ONU.
Em 14 destes acampamentos avaliados, mais da metade dos banheiros e muitas cabines com chuveiros não são separadas para homens e mulheres, não trancam com chave ou não são iluminadas à noite.
“Como resultado, muitas mulheres e meninas correm o risco de serem abusadas sexualmente sempre que vão ao banheiro ou tomam banho”, informou o UNFPA.
“Com o que sofri, teria preferido morrer”, afirmou, citada no comunicado, uma mãe de sete filhos, agredida sexualmente enquanto dormia num parque depois de fugir de gangues. “Quando viram que não havia nenhum homem comigo, me atacaram quando eu estava grávida de quatro meses. Vivo com dores, tenho dificuldade para respirar, sinto medo pela minha filha de 11 anos”.
No total, de Janeiro a Maio de 2024, foram denunciados 3.949 casos de violência baseada no género, incluindo 65% de violação e 7% de outros tipos de agressão sexual, cometidos principalmente por membros de gangues. Esta violência afetou 75% das mulheres adultas e 20% das meninas menores, e 61% das pessoas deslocadas.
O Haiti há muito sofre com crises políticas, humanitárias e de segurança, incluindo violência de gangues armadas. Mas a situação deteriorou-se ainda mais no final de Fevereiro, quando grupos criminosos lançaram ataques coordenados em Porto Príncipe contra edifícios da polícia e do governo, forçando o questionado Primeiro-Ministro Ariel Henry a demitir-se.
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