A Venezuela mergulhou na escuridão às 4h40 (3h40 em Brasília) desta sexta-feira (30/8), durante um apagão que afetou “total ou parcialmente” os 24 departamentos (estados) do país. O Palácio Miraflores não perdeu tempo, culpando o “fascismo” pelo apagão e denunciando uma ação deliberada. “Como sempre, estou com o povo e me encontro na vanguarda da situação, enfrentando este ataque criminoso contra o Sistema Elétrico Nacional”, escreveu o presidente Nicolás Maduro em seu canal no aplicativo de mensagens Telegram. “Eu disse e repito: calma e sanidade, nervos de aço! O fascismo desesperado ataca o povo. Juntos, superaremos este novo ataque. Venceremos sempre”, acrescentou. O fornecimento de energia começou a voltar ao normal à tarde, cerca de 12 horas depois.
Pela manhã, em meio ao apagão, havia expectativa se Edmundo González Urrutia, líder da oposição que se autoproclamou vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho, responderia à terceira convocação do Ministério Público para prestar depoimento. O ex-diplomata de 75 anos, que se transformou na véspera, não atendeu a ligação, apesar da ameaça de prisão. Nas outras duas vezes, Edmundo González atribuiu a ausência no depoimento à falta de garantias.
Também no meio da manhã, Diosdado Cabello, número dois do chavismo e ministro do Interior da Venezuela, informou que “a rede estava começando a ser energizada”. “É um processo que vai acontecendo aos poucos, mas é um processo com a certeza de que está sendo feito para não cometer erros”, disse ao canal VTV.
Histórias
Morador da cidade de Mérida, nos Andes venezuelanos, o freelancer Jesús —não quis ter nome revelado—, de 34 anos, disse ao Correspondência que o corte de energia começou às 4h30 (horário local) e começou a retornar seis horas depois. “Desde então, tivemos períodos intermitentes sem energia elétrica. Ficamos sem energia novamente das 11h às 15h. Mas amigos em outras regiões relataram uma falta constante de energia elétrica”, disse ele.
Em La Asunción, na Ilha Margarita, a advogada Luisa Muñoz, 38 anos, desabafou ao Correspondênciaàs 17h desta sexta-feira (horário local). “Estou sem bateria, a luz não voltou”, disse ela. “Maduro disse que foi sabotagem, mas sabemos que todos os que geriram a electricidade roubaram dinheiro e fugiram do país. Quem está ferrado somos nós e pagamos o preço”, lamentou. Segundo Luisa, os cortes de energia são diários. “Os aparelhos elétricos queimam e ninguém no regime se importa com isso”.
Na cidade de Maracaibo, a segunda maior da Venezuela, o líder político e social Edgar Izarra Terán, de 27 anos, explicou que o apagão afetou 90% do país. “É o segundo grande apagão desta semana. A diferença é que o actual foi prolongado e geograficamente extenso. Embora o regime alegue ‘sabotagem’ ao sistema eléctrico nacional, todos sabemos que são anos de falta de manutenção e corrupção que pode ter desviado US$ 10 milhões”, disse ele Correspondência. Terán relatou que sentiu ansiedade, desespero, estresse e “muita raiva” durante o apagão. “Foram 14 anos sofrendo apagões, oscilações e cortes ‘programados’. O dia foi muito estressante.”
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