“Em 10 de janeiro de 2025, o presidente eleito Edmundo González Urrutia tomará posse como presidente constitucional do Venezuela.”
Com estas palavras, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, reagiu quando o candidato da oposição de 75 anos deixa o paísque estava sob um mandado de prisão pelas autoridades.
No sábado, a Espanha concedeu asilo político a González, o candidato da oposição nas eleições de 28 de julho.
Logo após a votação, a oposição divulgou uma série de supostos registros de votação que indicariam que ele havia vencido com 70% dos votos.
No entanto, o Conselho Nacional Eleitoral, órgão eleitoral da Venezuela e controlado por um aliado do presidente Nicolás Maduro, declarou vencedor o atual presidente, decisão ratificada pelo Supremo Tribunal de Justiça, instância máxima do Poder Judiciário, também alinhado com o governo .
A saída de González tira da disputa aquele que muitos consideram o verdadeiro presidente eleito. A princípio, isto parece uma vitória do chavismo.
A vice-presidente Delcy Rodríguez afirmou que a saída de González foi permitida “em prol da tranquilidade e da paz política no país”.
Por outro lado, a oposição vê o asilo político do seu candidato como um movimento estratégico na luta para remover Maduro do poder.
Machado, que permanece na clandestinidade no país, transmitiu uma mensagem de esperança aos milhões que querem mudanças, dizendo que o presidente eleito deveria tomar posse em 10 de janeiro.
A oposição espera que, até essa data, surjam condições para que Maduro ou um dos grupos políticos e militares que o apoiam promovam uma transição em plena crise económica e social do país.
‘Até o fim’
Em sua mensagem, Machado reiterou o lema desta campanha: “Venezuelano, essa luta é ATÉ O FIM e a vitória será nossa”.
Em conferência de imprensa virtual na quinta-feira (9/5), a líder da oposição afirmou que, embora algumas mudanças não sejam visíveis, acredita que a comunidade internacional está a aumentar a pressão sobre o regime, embora esta precise de ser mais significativa.
Machado continua convencido de que há descontentamento dentro do círculo de Maduro.
A situação atual colocou mais uma vez o presidente venezuelano no centro das atenções internacionais como um “ditador”, o que poderá aumentar o isolamento do país e intensificar as sanções financeiras contra os líderes chavistas.
“O regime está muito preocupado porque sabe que perdeu toda a legitimidade dentro das Forças Armadas”, disse Machado.
Acrescentou que a oposição continua aberta à negociação, reiterando que não procura perseguição ou vingança contra quem está no governo.
A estratégia da oposição é combinar pressão diplomática, mensagens conciliatórias às Forças Armadas e protestos ocasionais nas ruas, com o objectivo de causar fissuras no governo.
Conta também com o apoio de países como os Estados Unidos, que tem o poder de impor sanções, e a Colômbia, que mantém canais de comunicação com o chavismo, para tentar influenciar uma mudança de posição por parte de Maduro ou dos seus aliados.
Manutenção do status quo
Apesar das declarações de Machado, os especialistas não veem sinais de que o bloco chavista esteja fragmentado ou à beira de uma rebelião interna, o que seria essencial para uma possível transição de poder.
“O chavismo está profundamente enraizado há 25 anos e está determinado a não abrir mão do poder, com altos custos de saída que nunca foram realmente negociados”, afirma Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis e professor da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB). e do Instituto de Estudos Superiores de Administração, ambos em Caracas.
Segundo ele, o chavismo conseguiu manter a unidade e o apoio militar, apesar das dificuldades.
Após anos de perseguição e divisões internas, a oposição venezuelana está agora centrada em Machado, que lidera um grupo diversificado de forças políticas.
Embora o desejo de mudança seja forte entre os venezuelanos, os partidos que os representam estão desgastados, perderam muitos dos seus líderes e enfrentam agora o desafio de decidir o próximo passo.
As próximas eleições regionais, locais e legislativas estão marcadas para 2025.
Depois do que aconteceu no dia 28 de Julho, quando o Conselho Nacional Eleitoral perdeu credibilidade, a oposição precisa de decidir se participa ou não nestas eleições, lembrando que a abstenção no passado levou à irrelevância política e ao desinteresse dos eleitores.
Luis Vicente León prevê que, a médio e longo prazo, haverá um aumento da apatia e da necessidade de novas negociações, não focadas na saída de Maduro, mas na preservação do país e do seu povo.
Se houver novas negociações, é provável que Maduro resista em reconhecer os resultados de 28 de Julho, mas poderá considerar outras concessões, como não perseguir opositores, libertar manifestantes detidos ou implementar políticas económicas que aliviem a crise.
Embora a oposição tenha demonstrado força organizacional e amplo apoio popular no dia 28 de julho, a saída de González parece ter trazido de volta um cenário inicial, sem muitas opções.
A oposição precisa agora de pressionar a comunidade internacional para isolar Maduro e manter a pressão interna para que alguém dentro do chavismo quebre o status quo.
Faltam 123 dias para 10 de janeiro de 2025 e, nesse período, tudo pode acontecer na política venezuelana.
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