Donald Trump desiste de novo debate contra Kamala Harris

O ex-presidente e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, de 78 anos, precisou de menos de 48 horas para decidir que não voltará a debater com Kamala Harris. O anúncio, feito por meio de sua plataforma Truth Social, seguiu a análise da mídia norte-americana de que a democrata manteve seu oponente na defensiva durante quase todo o duelo televisivo da última terça-feira (9/10).

“Ela (Kamala) não compareceu ao debate da Fox News e se recusou a participar de um na NBC e na CBS. Kamala deveria se concentrar no que deveria ter feito nos últimos quatro anos”, escreveu Trump. “Não haverá um terceiro debate”, acrescentou, usando todas as letras maiúsculas nesta frase. Na quarta, ele ainda disse que participaria de debates na Fox e na NBC.

“As sondagens mostram claramente que ganhei o debate contra a camarada Kamala Harris, a candidata da esquerda radical dos Democratas, na noite de terça-feira, e ela apelou imediatamente a um segundo debate”, disse na publicação de ontem. “Quando um boxeador perde uma luta, as primeiras palavras que ele diz são: ‘Quero uma revanche’.”

Ao contrário do que Trump referiu, uma rápida sondagem realizada pela CNN sugeriu que 63% dos telespectadores viram um melhor desempenho de Kamala, contra 37% da republicana. Outra pesquisa do instituto YouGov mostrou que 43% dos entrevistados acreditam que Kamala venceu o debate contra 37% da adversária.

Minutos depois da postagem de Trump, Kamala admitiu seu desejo de confrontar mais uma vez o magnata. “Acredito que deveríamos ter um novo debate porque esta eleição e o que está em jogo não poderia ser mais importante”, declarou ela, durante um comício em Charlotte, na Carolina do Norte, um dos principais estados, onde pretende encorajar os eleitores negros e jovens a apoiarem as suas propostas. Trump, por sua vez, subiu ao palco em Tucson, Arizona, também um dos locais decisivos para a votação de 5 de novembro.

A campanha de Kamala disse que ela está entrando em uma fase “mais agressiva” da corrida pela Casa Branca, “buscando capitalizar sua vitória decisiva no debate e aproveitar o impulso”. O democrata também pretende interagir mais com a mídia durante os próximos 53 dias, até as eleições.

Pesquisa nacional

Na primeira pesquisa com panorama nacional da corrida à Casa Branca desde o debate de 10 de setembro, Kamala aparece com 47% dos votos contra 42% de Trump. O levantamento feito pela agência de notícias Reuters e pelo instituto Ipsos coloca a democrata, pela primeira vez, com mais de quatro pontos percentuais em relação ao seu adversário. Para 52%, o democrata transmitiu uma imagem de “maior integridade moral” durante o debate, contra 29% que viram essa qualidade no republicano.

Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), alertou sobre os prováveis ​​danos políticos causados ​​pela retirada de Trump do debate sobre Kamala. “A sua recusa em participar noutro debate envia uma mensagem terrível aos eleitores. É, pelo menos, uma admissão tácita de que ele se saiu muito mal na terça-feira e não pretende expor-se novamente ao escrutínio. Normalmente, os EUA mantêm mais do que um debate entre os candidatos presidenciais”, explicou Correspondência.

Professora de ciência política na Northeastern University (em Oakland, Califórnia), Martha Johnson disse ao repórter que não ficou surpresa com a decisão de Trump. “Ele e a sua equipa de campanha devem saber que o debate de terça-feira não ajudou em nada o seu desempenho. Provavelmente estão preocupados que outros debates possam dar destaque a Kamala entre os eleitores e aumentar a aprovação ao candidato democrata”, observou ela. “Suspeito que a falta de um duelo adicional na televisão não afetará a avaliação que os eleitores fazem de Trump, embora fosse uma pena para Kamala, que provavelmente teria se beneficiado”.

Para David Karol — professor do Departamento de Governo e Política da Universidade de Maryland —, Trump sabe que o debate foi mau. “Ele não está ansioso para procurar outra oportunidade. Em qualquer caso, não creio que a decisão do republicano de debater uma vez afetará muitos eleitores indecisos”, disse ele, por e-mail.

“Não acredito que o debate da última terça-feira possa movimentar as sondagens mais do que um ou dois pontos percentuais”, explicou ao Correspondência Charles H. Stewart III, professor de ciência política no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele entende que um duelo tardio poderia ter mais influência, pois seria realizado próximo às eleições. “Mas tantas pessoas já se decidiram que é difícil imaginar que isso faça muita diferença.”

Casa Branca associa rumores sobre imigrantes a “vidas em perigo”

A falsa alegação de que migrantes haitianos estão a roubar e a comer animais de estimação num local no Ohio, no nordeste dos Estados Unidos, propagada, entre outros, pelo ex-presidente Donald Trump, “coloca vidas em perigo”, denunciou a porta-voz da Casa Branca . “É a propagação da sujeira (…) que coloca vidas em perigo” nas “comunidades que estão sendo difamadas”, disse Karine Jean-Pierre. Durante o debate da última terça-feira, Trump proferiu notícias falsas num momento em que parecia ter perdido a calma. “Eles estão comendo os cachorros, as pessoas que chegaram estão comendo os gatos”, disse o candidato do Partido Republicano, antes de ser corrigido pelo moderador da ABC News, que o informou que as autoridades municipais de Springfield disseram não haver registros disso. A declaração do republicano gerou diversos memes na internet e até no comércio. O Wieners Circle, uma das mais tradicionais lanchonetes de cachorro-quente de Chicago, colocou uma placa com a frase “Imigrantes comem nossos cachorros” (foto).

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