Será necessário apenas um voto para eleger o prefeito ou prefeito de 213 municípios brasileiros em 2024.
Isso acontece em locais onde há apenas um candidato concorrendo ao cargo. Ou seja, a vitória é garantida mesmo que apenas o candidato vote em si mesmo.
Um elevação da Confederação Nacional de Municípios (CNM) revela que o número de municípios com candidatos únicos praticamente dobrou em relação a 2020: passou de 107 para o maior número registrado nos últimos sete eleições municipais.
A BBC News Brasil ouviu Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios, e o cientista político Eduardo Grin, da FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), sobre os motivos do número recorde de candidaturas únicas nas eleições municipais deste ano. ano.
O que explica aplicações exclusivas
Um dos fatores mais evidentes, segundo Ziulkoski, está no Estado com maior número de municípios com apenas um candidato concorrendo, o Rio Grande do Sul.
“As prefeituras de muitos municípios do Rio Grande do Sul vivenciaram dois fenômenos gravíssimos neste mandato: a pandemia, que afetou a todos igualmente, mas também o devastação pela chuva que ocorreu recentemente.”
Para Ziulkoski, formado em Direito e foi prefeito de Mariana Pimentel (RS), os desafios a serem enfrentados pelas prefeituras de vários municípios do Rio Grande do Sul desencorajam potenciais candidatos a concorrer ao cargo.
“Os desastres geram muita pressão. Os cidadãos exigem quem conhecem mais de perto: as autoridades locais”.
Outro fator que pode desestimular a concorrência são municípios com prefeitos que contam com muito apoio local e são bem avaliados para permanecerem no cargo.
“Os candidatos da oposição muitas vezes não veem vantagem em enfrentar um prefeito popular, com boas chances de vitória. Além disso, essas situações ocorrem principalmente em cidades pequenas, onde é difícil formar uma segunda força política com estrutura suficiente para enfrentar o prefeito” , ele ressalta. cientista político Eduardo Grin.
“Outro fator importante é o aumento de recursos financeiros para prefeitos candidatos à reeleição, que muitas vezes vem de emendas parlamentares. Isso proporciona aos prefeitos mais recursos para campanhas, criando uma vantagem financeira significativa. menos recursos, desista de competir.”
Grin acrescenta que “nas cidades mais pequenas, como é o caso destas 214, muitas vezes não existe uma sociedade política organizada, com ONG, sindicatos, imprensa ou universidades que possam reproduzir ou criar um pólo político diferente daquele que domina a cidade”. “
O presidente da CNM destaca ainda a intensa polarização como algo que reflete a falta de mais candidatos — num cenário onde há, diz, “um baixo nível” de diálogo político na internet.
“As próprias famílias desencorajam seus entes queridos de ingressar na vida pública, o que é algo nobre e importante, por medo de exposição e ataques. Muitos que conseguiam se virar bem acabam não indo, e esse espaço é ocupado por pessoas que talvez não sejam tão competentes “, diz Ziulkoski.
O Brasil tem cerca de 59 mil vereadores, 5.570 prefeitos, 5.570 vice-prefeitos e cerca de 40 mil secretários municipais – um total de aproximadamente 110 mil agentes políticos nas prefeituras do Brasil, segundo a CNM.
O problema da falta de concorrência
A falta de oposição é preocupante, como destaca Grin.
“Num contexto democrático, é importante que a população tenha mais de uma opção política. Isso permite que os cidadãos considerem os candidatos e, se necessário, punam o prefeito pela má gestão. , alguém pode ser eleito sem competição”, diz Grin.
As consequências, segundo o cientista político, incluem um sentimento de acomodação política na cidade, enfraquecimento do debate político e exclusão de diferentes visões políticas, o que reduz o debate democrático e a transparência na administração pública, pois apenas um grupo político mantém o controlo.
“Eleições mais competitivas, com pelo menos dois candidatos, permitiriam um maior controlo da população, obrigando os candidatos a apresentar propostas mais viáveis e a evitar promessas que não possam cumprir, garantindo assim que a população tenha oportunidade de escolha”.
Ziulkoski acrescenta que um debate com vários candidatos ajuda a garantir um controlo mais eficiente do poder local.
“Quando há apenas uma candidatura, ela tende a se consolidar facilmente, mas a falta de oposição na Câmara Municipal pode gerar distorções e problemas ao longo do tempo, pois não há um equilíbrio que permita questionar e monitorar a atuação do governo local”.
Regiões e perfis de ‘candidatos únicos’
O levantamento da CNM mostra que, nos municípios unicandidatos, 72% são candidatos à reeleição, enquanto nacionalmente esse percentual é de 55%.
Entre as cidades com um único candidato, a população média encontrada foi de 6,7 mil habitantes, desde Borá (SP), com 907 habitantes, até Batatais (SP), com 58.402 moradores.
Avaliando as regionais, o Sudeste concentra 68 das 213 cidades com candidaturas únicas (32%), seguida da região Sul (66 candidaturas ou 31%), Nordeste (37 candidaturas ou 17%), Centro-Oeste (30 candidaturas ou 15%) e Norte (11 candidaturas ou 5%).
E qual o perfil dos candidatos únicos nas eleições autárquicas de 2024?
Comparativamente à média nacional, estes candidatos apresentam uma percentagem mais elevada de homens brancos (mais 4 pontos percentuais), homens casados (mais 4 pontos percentuais) e com menor nível de escolaridade (mais 2 pontos percentuais).
“Nestes locais, as mulheres estão significativamente sub-representadas na política, razão pela qual muitos presidentes de câmara se destacam como candidatos únicos”, diz Grin.
Além disso, a idade média dos candidatos solteiros é de 49 anos, inferior à idade média de 51 anos dos restantes candidatos.
“O estudo mostra também que predominam partidos do ‘centrão’, especialmente MDB, PSD e União Brasil, ou seja, nesses ‘currais eleitorais’ do interior, os partidos tradicionais dominam historicamente a política”, avalia Grin.
“Essas cidades são controladas por máquinas partidárias intimamente ligadas a partidos conservadores ou de direita, como o MDB, que até 2020 era dominante na política local”.
Os entrevistados acreditam que o número de candidaturas únicas poderá crescer ainda mais nas próximas eleições.
“Se o sistema de transferência de recursos federais via emendas parlamentares continuar a aumentar, como parece ser o caso, criaremos uma disputa política muito mais desigual nas cidades, uma vez que quem já é prefeito tende a receber mais dos diferentes tipos de emendas , o que desencorajará ainda mais outras aplicações”, diz Grin.
As emendas parlamentares permitem que deputados e senadores atuem na destinação de recursos públicos do Executivo às suas bases eleitorais — Estados e municípios.
“Isso cria um ciclo vicioso: partidos que criam máquinas locais dominam a política, elegem mais vereadores e formam maioria na Câmara Municipal, o que reforça o apoio ao governo”, afirma o cientista político da FGV.
Na ausência de candidaturas plurais, Grin sugere que a sociedade procure criar as suas próprias forças políticas, mobilizando grupos presentes nas pequenas cidades, como sindicatos, associações de bairro e movimentos sociais, para criar oposição e exigir autoridades locais.
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