Em entrevista com CorrespondênciaGeorge El Jallad, encarregado de negócios da Embaixada do Líbano em Brasília, admitiu que o ataque massivo a Beirute e o assassinato do xeque Hassan Nasrallah, na sexta-feira (27), aumentarão a complexidade do cenário no Oriente Médio. Ele alertou para o risco real de uma escalada do conflito e acusou Israel de realizar ações que remontam ao terrorismo e aos crimes de guerra no Líbano. Para El Jallad, uma possível incursão terrestre das forças israelitas em território libanês poderia ser acompanhada de violações do direito humanitário internacional por parte de Israel. Ex-cônsul libanês na Argentina, ex-chefe das Américas no Ministério das Relações Exteriores e Emigrantes (em Beirute), El Jallad também falou sobre a grave situação humanitária no sul do Líbano.
Como você vê o impacto da morte do Xeque Hassan Nasrallah?
O ataque massivo a Beirute e outras partes do Líbano, além do assassinato do Xeque Hassan Nasrallah, irá certamente aumentar a complexidade da situação. As autoridades libanesas ainda não conseguem saber com certeza o número de civis mortos neste atentado. Por esta razão, é necessário impor mais pressão diplomática para pôr fim ao banho de sangue imposto por Israel no Líbano.
Existe a possibilidade de uma invasão terrestre do Líbano?
Não posso ignorar a possibilidade de uma incursão terrestre israelita no Líbano, especialmente por parte de uma entidade que ataca civis e comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade para atingir objectivos políticos. Se tal plano for executado, poderá levar a situação à beira de uma guerra regional. Dado que qualquer invasão terrestre não seria uma tarefa fácil para as forças israelitas, dado o que aconteceu em 2006, podemos esperar mais violações do direito humanitário internacional por parte de Israel neste cenário. Isto complicará ainda mais o conflito actual e criará problemas para possíveis soluções que possam resolvê-lo diplomaticamente.
Na sua opinião, existe um risco real de escalada no Médio Oriente?
Infelizmente, a contínua agressão israelita irá agravar o conflito no Médio Oriente. Vimos isso em Gaza. Se as partes tivessem concordado com um cessar-fogo em Gaza, o conflito não teria escalado para o Líbano e a Cisjordânia. E para definir o que está acontecendo no Líbano, listo abaixo algumas das coisas que vêm acontecendo nos últimos dias (além da morte de Nasrallah): Israel detonou aparelhos de telecomunicações que estavam em locais públicos, matando e ferindo milhares de pessoas em segundos ; Israel utilizou bombas de fósforo contra civis e infra-estruturas civis, uma utilização que é proibida internacionalmente; Israel matou mais de 550 pessoas num dia, atacando estruturas civis; Israel tem atacado continuamente todas as áreas do Líbano, sem distinguir entre alvos militares e civis, matando milhares de civis, incluindo mulheres e crianças. Matar milhares de pessoas em locais públicos remonta ao terrorismo, e atacar milhares de civis sem respeitar os princípios da distinção e da proporcionalidade é considerado um crime de guerra e uma violação grave do direito humanitário internacional.
Qual é a situação humanitária no sul do Líbano?
Desde o início das ofensas de Israel, o número de mártires aumentou para 1.540, além dos 5.410 feridos – espera-se que este número continue a aumentar, à medida que os ataques de Israel continuam. O Brasil perdeu um menino de 15 anos e uma menina de 16 que, junto com os pais, foram atingidos por ataques na semana passada. A ONU também perdeu alguns dos seus funcionários durante os ataques israelenses. O número de deslocados internos registados em abrigos atingiu 77.100. O sector da saúde foi levado ao limite devido ao elevado número de mortes, e o governo libanês pediu ajuda internacional para fornecimento de material médico e medicamentos. Agradecemos a iniciativa da Fundação Unidos pelo Líbano, que busca recursos para aquisição de medicamentos e insumos solicitados pelo governo. Mais informações sobre esta iniciativa podem ser encontradas nas redes sociais da Embaixada.
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