A primeira rodada de eleições municipais este ano chegou ao fim e trouxe um resultado ambíguo para o PTpartido do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O partido aumentou o número de prefeituras conquistadas —251 no primeiro turno de 2024 ante 182 no total de 2020.
Em São Pauloapesar de não ter candidato, partido é visto como principal garantidor da candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL)que disputará o segundo turno com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
Por um lado, analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que essa recuperação numérica revela uma estratégia bem-sucedida de aumentar o número geral de candidaturas e escolher onde o partido tinha maiores chances de vitória.
Por outro lado, segundo eles, o cenário ainda deve inspirar preocupação entre dirigentes petistas.
Os principais motivos de preocupação, segundo eles, seriam: a expansão e consolidação da direita e do Centrão responsável pela maioria das cidades brasileiras; a pequena presença do partido em cidades com mais de 200 mil eleitores; o não surgimento de uma nova geração de líderes em meio ao que classificam como o esgotamento do ciclo político de Lula.
Além disso, o PT também viu o PL, liderado pelo ex-presidente JairBolsonaroaumentar em 179 o número de prefeituras por enquanto —523 no primeiro turno de 2024 ante 344 no total em 2020.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o PT teve sucesso em sua estratégia de aumentar o número de candidaturas este ano e que o partido parece ter iniciado sua recuperação nas eleições municipais após o pior resultado em 2020.
Mesmo assim, avaliam, o partido vem enfrentando dificuldades para se conectar com as demandas de um eleitorado que não estaria mais tão ligado ao discurso de reivindicações trabalhistas que marcou o início da trajetória da sigla.
Para o pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Grin, a situação é paradoxal.
“O PT perdeu ao vencer. Ganhou mais do que tinha, mas perdeu porque se tornou menos relevante politicamente do que imaginava, principalmente nos grandes centros urbanos”, disse à BBC News Brasil.
Subir e cair
Para compreender o conceito de “perder para ganhar” elaborado por Grin, é necessário relembrar um pouco da trajetória do PT nas eleições municipais.
Nos últimos 24 anos, o PT viveu um histórico de ascensão e queda no número de prefeituras comandadas pelo partido.
Em 2000, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT venceu em 189 prefeituras (contando os dois turnos e as eleições suplementares). Em 2004, após o primeiro mandato de Lula, o partido viu sua participação aumentar em 117% e conquistou 412 prefeituras. Quatro anos depois, o PT deu mais um salto e conquistou 561 prefeituras.
Em 2008, com Lula já no segundo mandato e com a popularidade em alta, o PT voltou a crescer e venceu em 561 cidades. Em 2012, com Lula já fora do governo mas ainda popular, o PT alcançou o maior número de vitórias municipais de sua história: 651.
A trajetória descendente do PT nas eleições municipais petistas teve início em 2016. Naquele ano, o auge da crise política provocada pela Operação Lava Jato foi responsável pelo impeachment do então presidente Dilma Rousseff (PT).
Além disso, o país vivia uma crise económica atribuída à gestão do ex-presidente do PT.
Em meio a esse cenário, o PT teve uma queda de 60% no número de prefeituras conquistadas em relação a 2012. Das 651 prefeituras conquistadas naquele ano, o partido subiu para 257.
Quatro anos depois, porém, o cenário ficou ainda pior. Em 2020, o PT elegeu apenas 185 prefeitos em todo o país, uma queda de 28% em relação ao número de 2016.
Outro indicador preocupante para o comando petista foi o fato de que em 2020, pela primeira vez desde a redemocratização do país em 1985, o partido não elegeu nenhum prefeito nas capitais.
Em 2004, um ano depois de Lula assumir seu primeiro mandato como presidente, o PT elegeu nove prefeitos nas capitais.
Outro fenômeno que marcou as eleições municipais do PT em 2020 foi a consolidação da importância do Nordeste como reduto eleitoral.
Em 2012, por exemplo, ano do maior triunfo petista nesse tipo de disputa, as prefeituras de cidades do Nordeste representavam 28% das cidades onde o PT havia vencido. Em 2020, as prefeituras nordestinas representaram 50% de todas as vitórias partidárias.
Estratégias para ganhos
Para tentar reverter esse cenário, o PT investiu numa estratégia de aumentar o seu número de candidaturas.
Em relação a 2020, o PT aumentou em 11% o número de candidatos a prefeitos. O número passou de 1.263 para 1.412 cabeças.
“Parece óbvio, mas para vencer, antes de tudo, é importante competir”, resumiu o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leonardo Avritzer.
Outra estratégia adotada pelo partido foi atrair políticos que estavam em outros partidos para formar o seu plantel nestas eleições.
É o caso, por exemplo, do candidato do partido a prefeito de Manaus, o ex-deputado federal Marcelo Ramos, que já foi filiado ao PCdoB, PSB e mais recentemente esteve no PSD antes de ingressar no PT. Em Fortaleza, o PT atraiu Evandro Leitão, que estava no PDT.
Ao mesmo tempo, o partido adotou postura estratégica em algumas cidades ao não lançar candidaturas e apoiar aliados com maiores chances de vitória, como em São Paulo.
Para o professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antônio Teixeira, os resultados das pesquisas deste primeiro turno mostram que, em parte, a estratégia do PT neste ano foi acertada.
“O que vimos foi uma recuperação significativa, ainda que muito baseada na participação do PT no Nordeste. Vemos que o PT continua muito frágil no eixo Sul-Sudeste”, afirmou o professor.
Na avaliação de Teixeira, dois fatores principais ajudam a explicar o relativo sucesso do PT nas urnas.
“A primeira é que a prisão do presidente Lula pela Operação Lava Jato já está cotada pelos eleitores. A Lava Jato, de fato, não é mais vista como algo que só afetou o PT. 2016 e 2020″, disse.
“O outro motivo é o fato do PT estar na Presidência da República. Ter o comando da máquina ajuda a impulsionar as candidaturas, principalmente nos grandes centros urbanos”, disse Teixeira.
Avritzer aponta outra estratégia que, segundo ele, foi responsável por esse aumento.
“O PT adotou a estratégia de apostar onde tinha melhores chances. Não é surpresa que o candidato a prefeito de Fortaleza (Evandro Leitão) tenha crescido, já que o PT está no comando do governo do estado. coisa O PT está no comando do governo do Rio Grande do Norte”, disse.
Alerta ativado
Mas se numericamente o PT apresentou crescimento, do ponto de vista político, essa “vitória” deveria, na avaliação de Eduardo Grin, ter sabor de derrota.
“O PT aumentou (o número de prefeituras) porque, em relação a 2020, o partido estava no fundo do poço. Mesmo assim, o partido sairá menor politicamente, principalmente se considerarmos o fato de o partido ter o governo federal em seu poder. mãos”, avalia a professora.
Para Grin, o cenário entregue pelas pesquisas deste domingo antecipa um cenário difícil para o partido em 2026, quando serão escolhidos governadores, deputados estaduais, membros do Congresso Nacional e presidente da República.
“Embora o partido tenha crescido, o Brasil viu o crescimento e a consolidação desse condomínio de partidos de direita e do Centrão. O crescimento do Centrão e do PL ocorreu em todo o Brasil, mas principalmente em cidades com mais de 200 mil eleitores. assim como o União Brasil, o PP e o PL saíram muito fortes. O PT não se saiu bem nessas eleições e isso projeta uma disputa muito complexa em 2026”, explicou.
Centrão foi como ficou conhecido um grupo de partidos, geralmente designados como de direita ou centro-direita, que historicamente se aliaram ao governo federal em troca de participação na gestão de fundos ou ministérios.
O professor Leonardo Avritzer explica que embora as eleições municipais não sirvam como indicador imediato da escolha para Presidente da República, a disputa municipal está diretamente relacionada à composição do Congresso.
“As eleições para a Câmara (dos Deputados) são muito locais e, por isso, o apoio de um prefeito a um candidato específico é extremamente importante […] Isso significa que, pelo resultado de hoje, as forças de direita estão bem posicionadas na disputa pela Câmara em 2026 porque haverá mais prefeitos de direita capazes de indicar seus candidatos ao Congresso”, afirmou o professor.
Uma das estratégias do PT, segundo sua presidente, Gleisi Hoffmann, foi justamente “preparar o terreno” para as eleições de 2026. Por isso, segundo ela, o partido teria desistido de concorrer a prefeito de algumas cidades.
“Para nós é muito importante que o campo democrático saia fortalecido das eleições. Não precisa ser só o PT que tem candidato e ganha […] Portanto, a estratégia é muito diferente daquela de 2020, quando incentivamos muito as nossas próprias candidaturas e não tínhamos uma frente mais constituída […] Agora temos que defender a democracia, presidente Lula, preparar o terreno para 2026”, disse Hoffmann em entrevista ao SBT em abril deste ano.
Velhas dificuldades
Para o professor Eduardo Grin, o resultado das eleições deste ano reforça as evidências que o PT enfrenta há alguns anos no cenário nacional.
“Há uma incapacidade do partido de dialogar com uma sociedade que se vê menos como trabalhador e mais como empresário. Neste momento avançam nomes como Pablo Marçal (candidato a prefeito de São Paulo). para regular o trabalho dos motoristas de aplicativos que eles próprios rejeitaram”, afirmou.
Grin avalia também que o PT ainda enfrenta dificuldades de conexão com o público evangélico, considerado essencial para a vitória eleitoral na maioria das cidades do país.
Um ponto levantado tanto por Grin quanto por Marco Antonio Teixeira é o fato de que, mais uma vez, as eleições municipais não revelaram novas lideranças dentro do PT.
“Isso (não ter novos dirigentes) é preocupante para qualquer partido, mas principalmente para o PT, já que Lula pode estar chegando ao fim da carreira política. Lula é um exemplo de liderança que nasceu no partido, mas talvez seja o (Ministro da Fazenda Fernando) Haddad é um líder, mas forjado por Lula e contestado dentro do partido”, disse Teixeira.
O professor Eduardo Grin disse ter avaliação semelhante.
“O ciclo político de Lula está se encerrando e não há uma nova liderança dentro do partido capaz de chegar a consensos. Não existe um líder natural. O que há é uma disputa intensa entre o grupo da presidente e da deputada Gleisi Hoffmann e o grupo de Fernando Haddad”, disse o professor.
Grin também avalia que o resultado das eleições municipais deverá obrigar Lula a fazer uma reforma ministerial.
A ideia é que essa mudança no comando das pastas seja feita para refletir o peso político das chamadas legendas do Centrão, que ganharam novo impulso após o primeiro turno.
Grin disse que se Lula não calibrar corretamente essa reforma, sua governabilidade poderá ser afetada.
“Se o PT decidir fazer uma reforma ministerial que não agrade ao Centrão, esses partidos vão começar a precificar o governo e a apostar em quem vão apoiar em 2026 e isso enfraqueceria o governo”, disse Grin .
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