Kamala e Trump no esforço final pelo voto

A apenas 10 dias das eleições, a candidata democrata Kamala Harris e o desafiante republicano Donald Trump escolheram o mesmo estado, num esforço para inclinar a balança das sondagens a seu favor. Praticamente empatados nas sondagens recentes, ambos concentram a sua energia nos chamados estados pêndulos – aqueles que podem inclinar-se para um partido ou outro.

“Temos muito trabalho a fazer”, declarou Kamala Harris, logo após ser apresentada por Michelle no palco do Event Center em Kalamazoo, Michigan. Em determinado momento, o candidato brincou com um apoiador, apontando diretamente para o eleitor. “Eu sei que você disse ‘Kamalazoo’, eu ouvi”, disse ele, sem conter o riso. Depois, a democrata lembrou que atuou como senadora, como procuradora-geral da Califórnia e como promotora. “Em todas essas funções, lidei com criminosos de todos os tipos: predadores sexuais, fraudadores e reincidentes. Eu os venci. Bem, Michigan, em 10 dias, será a vez de Donald Trump.”

Kamala alertou que Trump aumentará a inflação e lançará os Estados Unidos numa recessão em meados de 2025, se for eleito. Em Kalamazoo, a táctica dos Democratas foi traçar um contraste visível entre as visões Democrata e Republicana para a economia.

Michelle Obama iniciou seu discurso às 16h35 (17h35 em Brasília) com um apelo aos eleitores de Michigan: “Estou aqui porque sei que se quisermos que este país vire a página da política de ódio e divisão , temos que fazer alguma coisa.” “Se quisermos liderar a próxima geração de líderes americanos, precisamos de fazer alguma coisa”, disse Michelle. “Se quisermos eleger alguém digno do Salão Oval da Casa Branca, alguém com força para guiar o país numa direção melhor, devemos eleger a minha querida amiga Kamala Harris.”

“Pessoa adulta”

A ex-primeira-dama enfatizou que Kamala mostra o que deveria ser “um líder estável e são”. “Ela faz tudo com vigor e graça. Isso porque Kamala é adulta. Qualquer um sabe que precisamos de um adulto na Casa Branca”, acrescentou, arrancando risadas da plateia.

Moradora de Kalamazoo, a diretora artística Julie Fernández, 45, estava no comício de Kamala. “Ela mostrou suas propostas com muita clareza. O clima ali era incrível. O sentimento que tenho é de esperança. O comício me lembrou o de Barack Obama, durante a campanha”, disse ao repórter.

Trump falou na cidade de Novi, também no estado de Michigan, a duas horas de carro de Kalamazoo. À noite, ele realizou um comício na cidade de State College, na Pensilvânia, outro estado indeciso. Na noite de domingo (27), o republicano reunirá seus apoiadores no famoso Madison Square Garden, no coração de Nova York, cidade de maioria democrata. Em Novi, ele zombou da presença da cantora Beyoncé no comício de Kamala na sexta-feira. “Então Beyoncé apareceu e falou por alguns minutos e depois saiu e o lugar enlouqueceu”, disse ele. “Eles pensaram que ela iria se apresentar. Agora, eu não estaria interessado nisso.”

Vincent L. Hutchings, cientista político da Universidade de Michigan, disse Correspondência que a participação de Michelle Obama no comício de Kamala deveria ter um efeito prático. “Michelle continua popular entre os eleitores democratas, especialmente entre os eleitores negros”, destacou. Quando questionado sobre as táticas de Kamala e Trump para conquistar eleitores na reta final da campanha, Hutchings respondeu que quase todos os americanos que pretendem votar, e ainda não o fizeram, sabem quem irão escolher. “O objetivo de ambas as campanhas é fazer com que os eleitores saiam e votem, ao invés de tentar converter os indecisos. Isso porque provavelmente essa parcela do eleitorado não votará no dia 5 de novembro”, avaliou.

EU PENSO…

“Trump está a sair-se bem nas sondagens porque muitos americanos abraçaram a sua posição sobre a democracia, o racismo, a misoginia e o radicalismo. Nesta altura da corrida eleitoral, não está claro o que pode ser feito para persuadir os eleitores. Tudo dependerá de qual lado mobiliza seus apoiadores de forma mais eficiente.”

Vincent L. Hutchings, professor de ciência política na Universidade de Michigan

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