Ricardo Nunes (MDB) derrotado Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno da disputa para prefeito de São Paulo e foi reeleito neste domingo (27/10).
A chapa de Nunes incluía Ricardo de Mello Araújo, 53 anos, como candidato a vice-presidente.
Indicado pelo ex-presidente JairBolsonaro (PL), Mello Araújo apresenta-se nas redes sociais como licenciado em Direito e Educação físicacom pós-graduação em fisiologia do exercício pela Universidade de São Paulo (USP).
Ele também ficou conhecido por ocupar dois cargos de destaque em São Paulo nos últimos anos. Mello Araújo era comandante da Rodadas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota)batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo e também presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
Em ambas as posições, ele acumulou elogios e polêmicas, que explicaremos mais adiante ao longo da reportagem.
Tradição familiar
O vice-prefeito eleito representa a terceira geração de sua família a atuar na polícia paulista.
Segundo informações por ele divulgadas, seu avô ingressou na Força Pública e serviu durante o Revolução Constitucionalista de 1932.
Seu pai integrou o Batalhão de Choque e o Comando da Polícia da Capital em meados da década de 1980.
Mello Araújo formou-se na Academia Militar do Barro Branco no início da década de 1990 e trabalhou por muitos anos no interior do estado, na região de Bragança Paulista.
Alguns anos depois, em meados de 2012, mudou-se para a capital, onde atuou como assessor da Secretaria de Segurança Pública.
Em 2017, o policial assumiu o comando da Rota, cargo que ocupou até 2019, quando ingressou na reserva.
Quando liderou a divisão de elite da força paulista, Mello Araújo deu entrevista ao portal UOL em que defendeu diferentes abordagens policiais dependendo do bairro.
“É outra realidade. Há pessoas diferentes que viajam para lá. A forma dele abordar isso tem que ser diferente. Se ele [policial] aproximar-se de uma pessoa [na periferia]da mesma forma que ele aborda uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo]ele terá dificuldade. Ele não será respeitado”, declarou Mello Araújo em 2017.
“Da mesma forma, se eu colocar um [policial] da periferia para lidar, falar do mesmo jeito, com a mesma língua que uma pessoa da periferia fala aqui nos Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa dos Jardins que está lá, andando.”
“O policial tem que se adaptar ao ambiente em que se encontra naquele momento”, defendeu.
Alinhamento com o ex-presidente
Em diversas entrevistas concedidas nos últimos meses, Mello Araújo diz que abordou Bolsonaro a partir do Eleições presidenciais de 2018.
Na época, ainda como comandante da Rota, declarou publicamente que votaria no então deputado federal e candidato do extinto Partido Social Liberal (PSL).
Pouco depois, já eleito presidente, Bolsonaro foi visitar o quartel comandado por Mello Araújo. A partir desse momento, segundo depoimentos de ambos, criaram uma relação de amizade e confiança.
Esse vínculo rendeu ao ex-comandante da Rota a nomeação como presidente da Ceagesp em outubro de 2020.
Em vídeos divulgados na época nas redes sociais, Bolsonaro pediu a Mello Araújo “um voto de confiança”.
“Tenho ele como companheiro, como amigo. […] Pode ter certeza, ele fará um excelente trabalho. […] Acredite: a indicação é pessoal para mim”, disse o então presidente.
A gestão de Mello Araújo na empresa paulista de abastecimento recebeu muitos elogios, mas também foi cercada de polêmica.
Por um lado, apoiadores do ex-coronel argumentam que ele organizou as finanças da entidade e pôs fim a uma série de práticas criminosas que ali teriam ocorrido.
O próprio Nunes disse estar “encantado” com o trabalho de Mello Araújo na Ceagesp.
“Ele enfrentou o crime organizado, prendeu pessoas que exploravam sexualmente crianças, organizou as finanças e isso é algo que muita gente não sabia”, declarou o prefeito.
Por outro lado, a gestão do ex-policial no armazém é criticada pela militarização de postos estratégicos — segundo o jornal O Globonomeou 22 policiais para cargos comissionados na Ceagesp.
Segundo a Folha de S.Paulo, sindicalistas que trabalham no centro de distribuição também relataram abusos e intimidações durante a gestão de Mello Araújo.
O Sindicato dos Empregados dos Centros de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo, por exemplo, afirmou que três funcionários foram coagidos a pedir demissão.
O relatório, publicado em junhodestaca que o Ministério Público do Trabalho ajuizou ação contra a Ceagesp com base nesses relatórios.
Ainda sob a gestão de Mello Araújo, foi alugada uma sala na sede da Ceagesp, que fica na zona oeste da capital paulista, para instalação de um clube de tiro, relata o jornal O Globo.
Ele deixou a presidência do armazém no início de 2023.
Indicação para vice na chapa de Nunes
Desde o início da campanha eleitoral deste ano, Bolsonaro condicionou seu apoio a Nunes à indicação do nome que ocuparia o cargo de vice-prefeito na chapa.
Foi assim que Mello Araújo acabou sendo escolhido, apesar da resistência dos demais partidos que compõem a coligação emedebista.
Muitos temiam que o nome do ex-coronel pudesse afastar os eleitores centristas, menos alinhados com o bandeiras de direita assumido pelo grupo bolsonarista.
Em entrevista ao Estadão Conteúdo em junho, o deputado federal Coronel Telhada (PP-SP) disse que Mello Araújo “não tinha habilidade política nem voto”.
“A menos que Bolsonaro faça campanha por ele, será mais difícil a chapa decolar”, disse Telhada na época.
Na mesma reportagem, o deputado estadual Delegado Olim (PP) chegou a declarar que nem o próprio Nunes se entusiasmou com a indicação de Bolsonaro.
“Ele [Mello Araújo] Não acrescenta nada, mas, como partidário, vou fazer campanha e ajudar a vencer as eleições”, declarou.
Além do apoio explícito de Bolsonaro, a escolha de Araújo foi endossada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em vídeos divulgados nas redes sociais, o ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp sempre reforça o vínculo com Bolsonaro.
Em postagem feita no perfil de Mello Araújo no Instagram no dia 4 de outubro, o ex-presidente afirmou que o ex-policial é “meu vice”.
“Confio 100% nele, é uma pessoa fantástica”, disse Bolsonaro.
“Mello Araújo é uma pessoa que não será deputado para atrapalhar o prefeito ou para ficar no gabinete. Pode ter certeza que ele estará ativo”, projetou.
Durante a campanha, Mello Araújo prometeu atuar nas áreas em que tem mais experiência, como segurança pública e esportes.
“Você verá um vice-prefeito muito ativo, ajudando o prefeito a assumir o comando”, disse o vice-prefeito eleito em seu Instagram.
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