Depois as explosões ocorridas na noite de quarta-feira (13/11) em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que “grupos extremistas estão ativos”.
Rodrigues disse que o episódio “não é um acontecimento isolado” e está “ligado a diversas outras ações que a PF tem investigado nos últimos tempos”.
Nesta quinta-feira (14/11), Rodrigues também declarou que a situação exige que a Polícia Federal e todo o sistema de justiça criminal atuem “com energia”.
Foi instaurado inquérito policial, sob sigilo, e as autoridades trabalham na hipótese de ataque ao Estado Democrático de Direito e atos terroristas, segundo a PF. O caso também será investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Ordenei a abertura de inquérito policial, que inicialmente foi realizado aqui na superintendência da Polícia Federal, e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, em razão das hipóteses criminais de atos que violam o Estado Democrático de Direito e também de atos terroristas”.
Rodrigues disse que “há sinais de planejamento de longo prazo”.
Boletim de Ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal identificou o homem falecido como Francisco Wanderley Luiz. Ele próprio jogou artefatos contra o STF, segundo as investigações, e depois se deitou sobre um explosivo, que foi detonado.
O diretor da PF afirmou que Wanderley Luiz já esteve em Brasília outras vezes, inclusive no início de 2023, quando ocorreram ataques às sedes dos três poderes por parte de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Ainda é cedo para dizer se houve participação direta nos atos de 8 de janeiro. A investigação irá revelar isso”.
Rodrigues disse ainda que os artefatos utilizados foram construídos manualmente, mas com grande poder de dano.
Segundo o diretor, o homem também carregava um extintor carregado com gasolina, que simulava um lança-chamas. As autoridades também encontraram fogos de artifício montados em tijolos no porta-malas de um veículo.
“Vamos tentar estudar o processo de produção para tentar identificar a origem deste material explosivo”, disse.
As autoridades apreenderam um telefone celular e explosivos na casa de Luiz. Ele contou que a equipe fez buscas com um robô eliminador de bombas e que, ao abrir uma gaveta para fazer buscas, houve uma explosão. “O uso do robô salvou a vida de alguns policiais”.
Imagens das câmeras de segurança do Supremo mostram o homem identificado como Wanderley Luiz se aproximando do prédio do Supremo. Ele joga algo na estátua da Justiça.
Um segurança do STF se aproxima e aborda Wanderley Luiz, que recua. Porém, pouco depois, ele joga um artefato em direção ao STF. Então ele lança outro, que explode momentos depois. Ele então acende outro e deita-se com a cabeça sobre o explosivo, que é detonado.
Ex-candidato a vereador pelo PL
Wanderley Luiz disputou as eleições de 2020 na cidade de Rio do Sul, em Santa Catarina, pelo Partido Liberal (PL), partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas Wanderley Luiz não obteve votos suficientes para ser eleito vereador.
Nas urnas, ele se identificou como Tiü França.
Um perfil do Facebook com esse nome, que não está mais disponível, mostrava uma foto dele dentro do STF e o texto: “Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho da presa ou é realmente estúpido.” Ele também deixou mensagens alegando ter colocado bombas nas casas de um jornalista e de políticos.
Em outra mensagem, ele faz mais ameaças. “Cuidado ao abrir gavetas, armários, prateleiras, armazenamento de materiais, etc. Começa às 17h48 do dia 13/11/2024…O jogo termina dia 16/11/2024. Boa sorte!!!”
Entre as mensagens publicadas, houve críticas ao STF. “Tudo que já foi feito para obter melhorias em nosso país e nada deu resultado!!! É hora de mudar nossos caminhos e ações!!! Onde está o grande problema? No Judiciário (STF).”
Crescente preocupação com a segurança do STF
A segurança do STF tem sido uma preocupação frequentemente levantada pelo órgão e seus ministros desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que em diversas ocasiões ameaçou desconsiderar decisões judiciais e maltratou ministros, especialmente Alexandre de Moraes, que vem conduzindo investigações que visam propagadores de notícias falsas e milícias digitais.
Nos protestos bolsonaristas, cartazes e manifestantes pediam frequentemente o fechamento do STF.
No dia 8 de janeiro de 2023, a situação culminou na invasão e vandalização de prédios na Praça dos Três Poderes por apoiadores de Bolsonaro, que havia sido derrotado nas eleições do ano anterior. O STF foi um dos prédios mais destruídos nos ataques.
Moraes já havia sido ameaçado de morte por pelo menos dois homens, que foram presos em 2021.
O ministro também afirma ter sido assediado junto com a família no aeroporto de Roma, na Itália, em 2023. Um casal e o genro, acusados de xingar Moraes, respondem ao caso na Justiça.
Em novembro de 2022, após a derrota de Bolsonaro nas eleições, o ministro Luís Roberto Barroso foi abordado de forma hostil por brasileiros nos Estados Unidos. A um deles, que questionou a confiabilidade do sistema eleitoral, Barroso respondeu com a frase “você perdeu, idiota, não se preocupe”, que virou manchete.
O Tribunal conta com uma Secretaria de Segurança e policiais próprios, que atuam nas dependências do STF e acompanham os ministros em viagens ou em suas próprias residências. A sua segurança foi reforçada nos últimos anos.
“Até recentemente, os ministros do Supremo Tribunal Federal circulavam inteiramente sozinhos em agendas pessoais e até institucionais. Infelizmente, nos últimos anos, fomentou-se um tipo de agressividade e hostilidade que passou a exigir o reforço da segurança em todas as situações. de todos os poderes circulam com esse tipo de proteção, seja em eventos privados ou públicos”, escreveu o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em nota de junho.
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