O Ministro das Finanças, Fernando Haddadanunciou na noite de quarta-feira (27/11) a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR), que atingirá quem ganha até R$ 5 mil —promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O limite atual de isenção de IR é de R$ 2.259, mas o governo Lula adotou no início do ano um mecanismo de “desconto simplificado” que, na prática, dá isenção para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.824).
Haddad fez o anúncio em discurso na rede nacional de rádio e TV, que durou cerca de sete minutos.
O ministro afirmou que esta é a “maior reforma de renda da nossa história”.
“A nova medida não terá impacto fiscal, ou seja, não aumentará os gastos do governo. Porque quem tiver renda superior a R$ 50 mil por mês pagará um pouco mais. Tudo sem excessos e respeitando os padrões internacionais estabelecidos”, garantiu Haddad, afirmando que a medida de isenção beneficiará a classe média.
Ainda não está claro quando a mudança entrará em vigor e se precisará passar pelo Congresso. Em fevereiro, quando a isenção foi ampliada para R$ 2.824, isso foi feito por meio de uma Medida Provisória (MP) — que entra em vigor assim que publicada pelo Executivo, mas precisa ser aprovada pelo Congresso em até 60 dias, prorrogáveis por mais 60 dias. .
A nova faixa de isenção deve beneficiar 36 milhões de contribuintes, segundo levantamento da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal. Isso representa cerca de 78% dos contribuintes que declaram Imposto de Renda.
Segundo Haddad, o conjunto de medidas anunciadas nesta quarta, incluindo a ampliação da isenção do Imposto de Renda, vai gerar uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
Ao longo dos últimos meses, Haddad tem defendido que o objectivo é aumentar os impostos sobre os mais ricos e usar a receita extra para reduzir os impostos sobre os mais pobres e reduzir os impostos sobre o consumo – o que também tende a ter um impacto maior sobre os grupos de rendimentos mais baixos. .
Com a expectativa do anúncio do governo, o dólar disparou, atingindo nesta quarta o maior valor nominal (sem considerar a inflação) da história: R$ 5,91.
Isso porque muitos agentes de mercado veem o aumento da isenção como ineficaz no controle das contas públicas.
Um estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP) mostrou que o aumento dessa faixa de isenção deve aliviar principalmente o bolso da classe média (renda entre R$ 6.764 e R$ 35.673).
Para os mais pobres, a mudança não traz tantos impactos diretos, pois esse grupo já está isento do Imposto de Renda. No entanto, os autores do estudo da USP afirmam que os mais pobres poderão ser impactados se as perdas de receitas se refletirem em cortes nos gastos com programas de transferência de renda e serviços públicos.
Isso porque a ampliação da faixa de isenção reduziria a arrecadação para os cofres públicos em dezenas de bilhões de reais, embora o governo diga que haverá alguma compensação — não se sabe se na mesma medida — com o aumento da tributação sobre aqueles que ganham mais de R$ 50 mil por mês.
“Precisamos fazer as contas para saber se a remuneração proposta será suficiente”, afirma Alexandre Andrade, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI).
Lula já prometeu em diversas ocasiões ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda.
Em junho, o presidente escreveu na rede social Classe Média. Suba além do primeiro degrau, sem ser derrubado toda vez que subir um degrau.
Depois do aprovação da primeira etapa da reforma tributária no Congressofocada na estruturação de impostos sobre o consumo, está prevista uma segunda etapa, mais focada nos impostos que impactam a renda.
A isenção já estava prevista nesta segunda fase, que poderá ver mais medidas anunciadas nos próximos meses.
Nesta quarta-feira, Haddad anunciou outras iniciativas, além de elogiar a redução do desemprego no país e o aumento do salário mínimo, com ganhos reais —que o ministro descreveu como um direito “esquecido pelo governo anterior”.
Ele anunciou medidas que afetarão os militarescom o estabelecimento de uma idade mínima para reserva e a limitação das transferências de pensões.
Em relação ao abono salarial, o benefício será reduzido progressivamente para quem ganha um salário mínimo e meio —hoje, é válido para quem recebe até dois salários mínimos, entre outros critérios.
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