Assim como eles fizeram os países nórdicos Recentemente, o governo espanhol está a preparar um guia com conselhos à população sobre o que fazer em caso de guerra. O projeto, que ainda não tem data de lançamento, enquadra-se na 2.ª Estratégia Nacional de Proteção Civil do país.
Segundo informações do Ministério do Interior do Espanhao material incluirá instruções sobre como os residentes devem proceder em caso de conflito militar ou quando entrarem em contato com substâncias químicas, biológicas, nucleares ou radioativas.
Com o actual aumento da instabilidade geopolítica e a ameaça de ataques com armas de destruição maciça, parte da população espanhola quer prevenir-se e proteger-se caso guerra entre Rússia e Ucrânia atravessar fronteiras ou a situação no Médio Oriente piora.
“Tivemos um aumento de 90% nas solicitações de orçamento para construção de bunkers aqui na Espanha. Atualmente recebo cerca de 20 consultas diárias”, afirma Fernando Diaz Llorente, CEO da empresa Bunker Vip.
O empresário acredita que essa procura está aumentando por conta das novidades. “As pessoas estão levando isso mais a sério e acreditam que existe uma ameaça real de que a guerra possa se espalhar.”
Outras empresas espanholas do sector também sentiram este aumento. “Nossa procura simplesmente triplicou nos últimos meses. Antes as pessoas pediam um orçamento e paravam para pensar se queriam ou não, agora muita gente está ligando diretamente para fazer o pedido”, revela Guillermo Ortega, dono da Bunker Mundo.
O empresário conta que um bunker como os que eles produzem, que são pré-fabricados, demora cerca de 75 dias para ficar pronto, e que devido ao atual aumento da procura já têm lista de espera para atender novos clientes. “Estou recebendo até pedidos de França, muitos da Alemanha e até recebi consultas de pessoas da Colômbia”, partilha.
A opção de ter um bunker privado não é para todos, pois construir um abrigo subterrâneo é caro. No Bunker World, um refúgio de 15 metros quadrados para até seis pessoas com banheiro, custa cerca de 60 mil euros (cerca de R$ 380 mil). Este preço inclui ainda uma antecâmara de descontaminação e um sistema de filtragem de ar que elimina gases tóxicos.
“Neste momento estamos construindo dois abrigos que custam meio milhão de euros (R$ 3,2 milhões) em Barcelona. As pessoas estão mais conscientes da instabilidade global que vivemos. bunkers caso aconteça outra pandemia”, explica Llorente.
Refúgios coletivos
Espanha dispõe atualmente de poucos refúgios públicos para a população — em Madrid existem apenas três. O maior de todos está localizado na base aérea militar de Torrejón de Ardoz e tem capacidade para proteger até 600 pessoas.
No Parque El Capricho, um refúgio que foi construído durante a Guerra Civil Espanhola, em 1937, tem dois mil metros quadrados, 15 metros de profundidade e pode acomodar até 200 pessoas, mas atualmente está desativado.
A terceira fica no Palácio da Moncloa, sede do Governo espanhol. Este bunker foi projetado para resistir a ataques nucleares e químicos e mede mais de sete mil metros quadrados.
De olho neste sentido, num futuro que não está longe de se tornar realidade, quem não tiver espaço ou dinheiro para construir um bunker privado no seu terreno poderá recorrer a um refúgio colectivo em algumas cidades espanholas. Llorente conta que sua empresa tem atualmente um projeto de construção de abrigos coletivos privados para que várias famílias possam se proteger simultaneamente.
“A ideia é que um grupo de pessoas possa alugar o espaço e ter acesso durante 25 anos, em caso de emergência militar, a um quarto com casa de banho dentro de um bunker. O custo deste serviço seria de aproximadamente 40 mil euros ( R$ 250 mil)”, explica.
A realidade espanhola é muito diferente da suíça. Neste país, este tipo de proteção é lei. Em 1963, a Suíça adoptou uma política que exigia que todos os seus cidadãos tivessem acesso a um abrigo subterrâneo. Durante muitos anos isto fez parte da estratégia de protecção civil deste país europeu, que actualmente dispõe de refúgios suficientes para albergar até nove milhões de habitantes.
Os brasileiros estão calmos
Se por um lado alguns espanhóis pensam em construir bunkers para se protegerem, os brasileiros que vivem na Espanha não acreditam que a guerra possa chegar ao país ibérico.
“Geopoliticamente falando, vivemos um momento delicado. O medo existe, sempre imagino (Vladimir) Putin (presidente da Rússia) com o dedo no botão prestes a lançar um ataque nuclear, mas no dia a dia esse medo não é palpável. Vamos seguir com nossas vidas. Mesmo numa situação em que a Espanha entrasse em guerra, eu não consideraria voltar ao Brasil, porque meu marido é espanhol, se eu não fosse casada, eu voltaria”, explica a jornalista e tradutora brasileira Alessandra. Ribeiro, que vive em Madrid há oito anos.
Alexandre Muscalu, historiador e guia turístico, ainda não acredita que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia possa escalar e chegar a Espanha. “Preocupo-me mais com a minha segurança económica do que com a minha segurança física. A minha maior preocupação é se perderia a possibilidade de ganhar dinheiro aqui para pagar as minhas contas. Se vivesse no Reino Unido ou na Polónia, por exemplo, teria medo e faço de tudo para ir embora, mas não aqui na Espanha”, diz o paulista que também mora em Madri.
Quem também acha que a região não será afetada diretamente é Simone Henrique Pirani, que mora na capital espanhola há quatro anos. “Estou no time de pessoas muito otimistas. Confesso que hoje não estou preocupado com isso. se a guerra realmente atingisse a Espanha ou acontecesse algo grave, eu e minha família voltaríamos correndo para o Brasil”, conta o paulista.
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