Um dia depois de devastar o arquipélago de Mayotte – o território ultramarino da França no Oceano Índico – e supostamente ter deixado milhares de mortos, o ciclone tropical Chido causou destruição na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Até a noite de terça-feira (17/12), 37 corpos haviam sido resgatados.”O ciclone atingiu com muita força a nossa cidade. Várias pessoas perderam suas casas. A área empresarial foi muito afetada, como hotelaria, comércio, armazéns, quase tudo. A situação é grave”, disse ele aos repórteres. Correspondênciapor telefone, o empresário Júlio Sethy, residente em Pemba, 28km a norte da vila de Mecúfi, local mais afectado pelo Chido.
“Pemba, capital de Cabo Delgado, está quase completamente sem energia eléctrica. Nos primeiros dois dias, ficámos sem comunicação. Só quem tinha antena Starlink conseguia comunicar, porque as operadoras de telefonia móvel estavam inactivas”, relatou.
Ainda segundo Sethy, a zona de Mecúfi ficou “muito devastada”. “Temos um resort de luxo que está muito afetado. Vários hotéis e estabelecimentos comerciais fecharam as portas. Armazéns e pequenas indústrias também foram danificados”, acrescentou.
Explicou que, por volta das 2h de domingo (hora local), houve um alerta de ciclone, mas a intensidade do fenómeno não foi imaginada. “Os telhados começaram a voar. Por aqui usam-se muito chapas de zinco. As árvores caíram, assim como os postes de electricidade. Foi bastante assustador. Temos edifícios precários em Pemba e foram eles que mais sofreram.”
Hélia Seda, gestora de projectos da organização não governamental portuguesa Helpo em Moçambique e residente em Pemba, disse Correspondência que muitas famílias foram diretamente afetadas. “Algumas casas foram parcialmente destruídas, outras perderam os telhados. Em Mecúfi, 100% das casas estão devastadas. As famílias precisam de apoio em tudo, como doações de alimentos e fornecimento de água potável e serviços essenciais”, afirmou.
Horas depois de chegar a Lisboa vindo de Pemba, Carlos Almeida — coordenador nacional da Helpo em Moçambique — disse aos jornalistas que o escritório da ONG foi atingido por uma árvore. “Parte do edifício foi destruída. Felizmente não perdemos computadores e documentos, pois conseguimos recolher os materiais de imediato. Em toda a cidade de Pemba houve muita destruição de infra-estruturas. No distrito de Mecúfi, onde o entrou o ciclone, a destruição é praticamente absoluta. As casas são quase todas feitas de pau-a-pique, pedras e barro, com telhados de erva e chapas de zinco. Até os edifícios do governo, em alvenaria, sofreram danos”, relatou. “Além dos 37 mortos, pelo menos 319 pessoas ficaram feridas. Mas penso que estes números são muito preliminares, pois há dificuldades em medir os danos”.
Maiote
Uma avaliação provisória feita pelo Ministério do Interior francês na noite de terça-feira mostra que o ciclone Chido matou pelo menos 22 pessoas e feriu 1.737 em Mayotte. No entanto, as autoridades temem “dezenas de milhares de mortes” e acreditam que muitos corpos podem ter sido arrastados pela lama e levados pelo mar. A França decidiu impor um recolher obrigatório noturno ao arquipélago. A medida vigorará entre 22h e 4h e terá como objetivo coibir saques. O presidente francês, Emmanuel Macron, visitará Mayotte esta quinta-feira.
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