Um ônibus, um trailer e um carro se envolveram no um acidente grave na madrugada deste sábado (21/12) no km 286 da BR-116, próximo a Lajinha, distrito de Teófilo Otoni, Minas Gerais. Pelo menos 38 pessoas morreram.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o ônibus saiu de São Paulo com destino a Elísio Medrado, na Bahia. O trailer já transportava granito. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirma que informações preliminares e vestígios no local indicam que uma pedra de granito se desprendeu do caminhão e atingiu o ônibus, provocando um incêndio.
A BR-116, cenário da tragédia e que liga a capital cearense ao Rio Grande do Sul, é a rodovia mais letal do país, segundo dados da PRF. Em 2023, foram registradas 740 mortes. Este ano, o número já superou o total do ano anterior, com 763 mortes até o momento.
A taxa supera a da BR-101, que liga o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, que registrou 716 mortes este ano. Em terceiro lugar no ranking está a BR-163, que liga o estado do Rio Grande do Sul ao Pará, com 254 vítimas fatais em acidentes.
Dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) apontam Minas Gerais, onde ocorreu o acidente, como o estado com maior número de mortes nas rodovias. Foram 628 mortes entre janeiro e outubro, o que corresponde a 12,5% do total em todo o país.
O Estado também é campeão de acidentes e acidentes com vítimas. Foram 7.600 acidentes, dos quais 6.600 tiveram vítimas.
Com uma extensa malha rodoviária e intenso fluxo de caminhões pesados, principalmente nas regiões produtoras de granito do norte de Minas Gerais, acidentes graves são frequentes, explica Thyrso Guilarducci, especialista em Segurança Viária da Safethy Consultoria.
“O transporte dessas cargas envolve regulamentações específicas, como fixações mais seguras, mas ainda há muitos incidentes de frenagens bruscas e ultrapassagens perigosas”.
Segundo ele, a BR-116 sofre com problemas estruturais e fiscalização insuficiente.
“As simples faixas de mão dupla, comuns nas rodovias, incentivam ultrapassagens arriscadas. Além disso, o contingente da PRF é insuficiente para cobrir trechos críticos, principalmente à noite”, afirma.
‘Duplicação da estrada é essencial’
A duplicação da BR-116, que conta com trechos de pista única e outros de pista dupla, é uma medida urgente para aumentar a segurança e melhorar a infraestrutura de transporte, segundo o especialista.
Apesar do progresso em algumas áreas, especialmente no Nordeste, ainda existem pontos críticos, como em Minas Gerais.
“A BR-116 já está ultrapassada. Precisamos de uma nova rodovia, com traçado mais moderno e menos sinuoso. Atualmente, muitas curvas e subidas acentuadas aumentam o risco de acidentes, principalmente em regiões como Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha”, disse o especialista.
Embora a duplicação traga benefícios, como a redução de colisões frontais, o alto custo, principalmente nas áreas serranas de Minas Gerais, dificulta o progresso. “A desapropriação e movimentação de solos tornam o processo complexo e caro”, explicou.
Outro ponto de preocupação é a manutenção dos radares de controle de velocidade.
De acordo com o site g1exatamente no trecho da rodovia onde ocorreu o acidente havia um radar que limitava a velocidade dos veículos a 60 km/h. Este e outros radares foram recentemente retirados deste trecho da BR-116 porque sua documentação estava vencida.
Guilarducci aponta falhas na renovação de contratos com empresas responsáveis pelos equipamentos. “Há períodos em que os radares ficam inoperantes por burocracia ou falta de licitação. Isso compromete a segurança e aumenta os riscos nas rodovias”, disse.
Ele cita ainda a modernização de equipamentos, como a instalação do radar Doppler, que, com tecnologias baseadas em cálculos de imagens, permite captar dados mais precisos, como tempo de passagem e presença de veículos.
“Esse modelo é muito mais eficiente e pode reduzir drasticamente os acidentes de trânsito no Brasil”, destacou. A instalação desse tipo de radar começou no Brasil em 2019.
Movimento intenso e imprudência
O aumento do movimento no final do ano, impulsionado por festas e viagens interestaduais, também contribui para o maior número de acidentes.
“Neste momento, há um aumento nas viagens de ônibus, tanto regulares quanto ilegais, além de motoristas imprudentes que não mantêm distância segura, aumentando os riscos”, afirma Guilarducci.
Ele cita também trechos críticos, como o que liga Belo Horizonte a Governador Valadares (MG), na chamada Rodovia do Aço.
“A exposição ao risco é alta, principalmente em áreas com tráfego intenso de carretas e fiscalização limitada. São recorrentes situações de colisões traseiras e ultrapassagens mal calculadas”, ressalta.
A PRF informou que já começou a intensificar a fiscalização nas rodovias federais com a Operação Natal 2024. O objetivo é aumentar a fiscalização de trânsito, com foco na prevenção de ultrapassagens e outras condutas de risco. As multas podem chegar a R$ 2.934,70.
A EMTRAM, empresa responsável pelo ônibus envolvido no acidente, emitiu nota e afirmou que o veículo estava em dia, tinha pneus novos e sistema de monitoramento.
“Enviamos equipas ao local para prestar todo o apoio necessário aos sobreviventes, às vítimas e aos seus familiares. Entre as medidas estão o apoio psicológico, o reconhecimento dos corpos e os serviços funerários”, refere a nota.
A EMTRAM afirmou que está colaborando com as investigações realizadas pela PRF, que já conta com imagens de câmeras de trânsito para ajudar a determinar as causas do acidente.
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