Por Didier LAURAS com Youssef HASSOUNA em Gaza, Louis BAUDOIN-LAARMAN em Ramallah e Adel ZAANOUN no Cairo – O chefe do Estado-Maior israelita apresentou a sua demissão, esta terça-feira (21), pela sua responsabilidade no “fracasso” de 7 de outubro de 2023, quando comandos do Hamas atacaram Israel, anúncio que surge três dias após o início de uma frágil trégua em Gaza.
Na sua mensagem, o general Herzi Halevi reconheceu a sua “responsabilidade pelo fracasso do exército em 7 de Outubro” e declarou que pediu para encerrar as suas funções “num momento em que as forças armadas estão a alcançar sucessos significativos em todas as frentes”.
Halevi, cuja demissão entrará em vigor em 5 de Março, colocou a situação em perspectiva, no entanto, dizendo que “nem todos” os objectivos de guerra foram alcançados após mais de 15 meses de conflito.
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O ataque dos milicianos do Hamas, em 7 de outubro de 2023, deixou 1.210 mortos no sul de Israel, a maioria civis, segundo um relatório da AFP e dados oficiais israelitas.
Em resposta, Israel lançou uma ampla ofensiva na Faixa de Gaza, que deixou pelo menos 47.107 mortos, principalmente civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que governa o território palestiniano. A ONU considera estes dados confiáveis.
O líder da oposição israelita Yair Lapid, do partido centrista Yesh Atid (Há um Futuro), aproveitou a demissão do general Halevi para pedir a demissão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e de “todo o seu governo catastrófico”.
No ataque de 7 de Outubro, milicianos islâmicos raptaram 251 pessoas em Israel. Destes, 91 permanecem em cativeiro em Gaza, dos quais 34 morreram, segundo o exército israelita.
No início da ofensiva, Netanyahu prometeu aniquilar o Hamas e resgatar os reféns.
Após meses de negociações, o Catar e os Estados Unidos anunciaram um acordo de trégua, que entrou em vigor no domingo e permitirá a libertação dos reféns israelitas detidos durante 15 meses na Faixa de Gaza em troca da libertação dos palestinianos presos em Israel.
– O Hamas libertará quatro reféns no sábado –
Esta terça-feira, o Hamas anunciou que vai libertar mais quatro mulheres israelitas no sábado, depois de três mulheres raptadas terem regressado a Israel na primeira troca, que beneficiou 90 prisioneiros palestinianos.
Taher al Nunu, um alto líder político do Hamas, informou à AFP na terça-feira que o movimento libertará outras “quatro mulheres israelenses” no sábado em “troca de um segundo grupo de prisioneiros palestinos”.
O presidente americano, Donald Trump – que se deu crédito pelo acordo de cessar-fogo – afirmou duvidar que o pacto seja mantido.
“Não é a nossa guerra, é a guerra deles. Mas não confio nela”, declarou Trump.
No primeiro dia do seu segundo mandato, o republicano revogou, na segunda-feira, a ordem executiva do seu antecessor, o democrata Joe Biden, que estabelecia sanções aos colonos israelitas acusados de atos violentos contra palestinianos na Cisjordânia.
A Autoridade Palestiniana, que administra parcialmente este território ocupado por Israel desde 1967, criticou esta terça-feira a decisão, argumentando que encoraja “colonos extremistas” a cometerem “mais crimes”.
Ao mesmo tempo, o exército israelita anunciou que lançou uma operação militar em Jenin, na Cisjordânia, que deixou nove mortos, segundo a Autoridade Palestiniana.
– “Apenas ruínas” –
A primeira fase do acordo de trégua prevê a libertação de cerca de 1.900 palestinianos detidos por Israel em troca de 33 reféns israelitas detidos em Gaza, bem como a entrada de ajuda humanitária na Faixa.
Na segunda-feira, 915 caminhões entraram na Faixa de Gaza, segundo a ONU. Gaza está sob cerco israelense quase desde o início do conflito e sofre de escassez aguda.
No entanto, há incerteza sobre o que virá a seguir, pois nesta fase serão negociadas as modalidades da segunda fase, que deverá permitir a libertação dos últimos reféns.
Desde domingo, milhares de residentes de Gaza deslocados pelos combates fizeram a dolorosa viagem de regresso às suas casas e muitos encontraram apenas ruínas. “Não sobrou nada da nossa casa, apenas escombros, mas é a nossa casa”, lamentou Rana Mohsen, de 43 anos, ao regressar a Jabaliya, no norte do território.
Segundo a ONU, a reconstrução do território, onde quase 70% da infraestrutura foi danificada ou destruída, levará até 15 anos e custará mais de 50 bilhões de dólares (R$ 302 bilhões, a preços atuais).
Se as duas primeiras fases do acordo correrem conforme o planeado, a terceira e última fase prevê a reconstrução de Gaza e a devolução dos corpos dos reféns mortos.
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