O China expandiu massivamente o comércio com África nas últimas duas décadas, investindo milhares de milhões de dólares na construção de estradas, caminhos-de-ferro e portos em todo o continente.
Estes investimentos foram feitos através do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), uma conferência realizada de três em três anos para decidir como os países africanos e a China podem trabalhar melhor em conjunto.
A última reunião ocorreu na capital chinesa, Pequim, entre os dias 4 e 6 de setembro do ano passado, com a participação do presidente Xi Jinping.
Qual é a magnitude dos negócios da China com África?
Ao longo dos últimos 20 anos, a China tornou-se o maior parceiro comercial de África, o maior investidor individual nos países africanos e, individualmente, o seu maior credor.
O comércio entre a China e os países africanos totalizou US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão) em 2022 (último ano completo com registros disponíveis). A China importou principalmente matérias-primas, como petróleo e minérios, e exportou principalmente produtos industrializados.
Em 2022, Pequim investiu 5 mil milhões de dólares (cerca de R$ 30 mil milhões) nas economias africanas, basicamente para a construção de novas ligações de transporte, instalações energéticas e desenvolvimento da mineração.
Naquele ano, as empresas chinesas lucraram com esses projetos cerca de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 242 bilhões).
O Fórum Económico Mundial indica que existem atualmente 3.000 empresas chinesas no continente africano. E, nos últimos tempos, a China mudou a sua estratégia, passando a oferecer a África a sua alta tecnologia e produtos para “economia verde”.
A China também tem 134 mil milhões de dólares (cerca de R$ 810 mil milhões) em empréstimos pendentes de países africanos. O dinheiro foi emprestado para fins de desenvolvimento e os chineses detêm cerca de 20% de toda a dívida africana com o resto do mundo.
Mas houve recentemente uma redução nos empréstimos chineses às nações africanas e nos seus investimentos em África. A razão foram os problemas enfrentados por muitos estados africanos no reembolso dos seus empréstimos para infra-estruturas construídas pela China, segundo o professor Steve Tsang, da Faculdade de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres.
“A China estava disposta a emprestar dinheiro para projectos em África, como os caminhos-de-ferro, que os países ocidentais e o Banco Mundial não financiaram porque não faziam sentido, comercialmente falando”, explica. “Agora, muitos países africanos perceberam que não estão a obter receitas suficientes destes projectos para pagar os empréstimos.”
“Atualmente, os investidores chineses em África são mais exigentes”, segundo Alex Vines, do grupo de reflexão sobre assuntos externos Chatham House, com sede em Londres. “Eles procuram projetos mais rentáveis.”
A China também não está a oferecer às nações africanas grandes projectos de infra-estruturas, como estradas, caminhos-de-ferro e portos. O país passou a fornecer alta tecnologia, como redes de telecomunicações 4G e 5G, satélites espaciais, painéis solares e veículos elétricos.
“A China foi acusada de despejar veículos eléctricos no mercado africano”, segundo Vines. “Para a China, esta é uma forma de exportar as suas novas tecnologias verdes de ponta.”
O comércio com a China ajudou ou prejudicou África?
A China começou a estabelecer fortes relações comerciais com os países africanos em 1999, quando o Partido Comunista Chinês lançou a sua estratégia de globalização. A primeira reunião do Fórum de Cooperação China-África (Focac) teve lugar em 2003 e a organização é hoje uma plataforma de parceria entre a China e 53 estados africanos.
Inicialmente, a China concentrou-se em importar o máximo possível de matérias-primas de África para oferecer produtos de exportação para todo o mundo, segundo Vines.
“A China emprestou avultadas somas de dinheiro para a construção de infra-estruturas em Angola, em troca do fornecimento de petróleo”, explica. “Estes projectos também proporcionaram empregos para profissionais chineses. A certa altura, havia mais de 170 mil trabalhadores chineses em Angola.”
A China descreve os seus investimentos em África como uma iniciativa vantajosa para todos.
Mas os projectos de construção chineses em África trouxeram muito poucos benefícios aos residentes locais, segundo Tsang. E esse resultado gerou ressentimento.
“As empresas chinesas contratam principalmente os seus próprios trabalhadores e não oferecem muitos empregos locais”, explica. “Há também a sensação de que empregam trabalhadores locais em cargos com condições de trabalho difíceis.”
Os empréstimos aos países africanos dispararam depois de 2013, quando a China lançou a sua iniciativa Nova Rota da Sedapara aumentar as redes comerciais em África e na Ásia. O pico foi em 2016, com mais de US$ 28 bilhões (cerca de R$ 169 bilhões).
A China tem sido acusada de oferecer empréstimos a África de forma predatória, convencendo os governos a emprestar grandes quantias de dinheiro e exigindo concessões quando surgem problemas de pagamento.
Angola acumulou 18 mil milhões de dólares (cerca de R$ 109 mil milhões) em dívidas com a China. A Zâmbia tem mais de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões) e o Quênia, US$ 6 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões), segundo números da Chatham House. Todos estes países concluíram que é muito difícil reembolsar estes empréstimos.
Em vários casos, a China emprestou dinheiro a estados africanos, vinculando os pagamentos às receitas provenientes da exportação de matérias-primas. Estes acordos ajudaram a China a obter o controlo da várias minasem países como o Congo.
O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, disse à agência noticiosa Associated Press que os governos deveriam evitar este tipo de empréstimo.
“Eles são ruins, em primeiro lugar, porque não é possível precificar adequadamente os ativos”, disse ele. “Se você tem minerais ou petróleo no subsolo, como definir o preço de um contrato de longo prazo? É um desafio.”
Mas Vines salienta que “a ‘diplomacia da armadilha da dívida’ chinesa não existe de facto”.
“A China por vezes age de forma predatória quando lida com um Estado fraco”, explica ele, “mas governos mais fortes podem fazer negócios com o país sem acumular dívidas elevadas”.
Quais são os planos para o futuro?
O Fórum de Cooperação China-África é a plataforma de parceria mais abrangente e estabelecida entre as nações africanas e qualquer potência mundial, segundo Shirley Ze Yu, da London School of Economics. O fórum define novos objetivos e prioridades a cada três anos.
Para Yu, o Focac “é, em grande parte, uma estratégia para envolver melhor a China como parceiro externo para África”.
“Até ao final do século, 40% da população mundial viverá em África. É fácil ver que África detém o futuro da economia global.”
Mas os interesses chineses em África não são apenas comerciais. Eles também são políticos, segundo Vines.
“Existem mais de 50 nações africanas na ONU”, destaca. “A China já convenceu quase todos eles a não reconhecerem Taiwan como um Estado.”
“Estamos agora a ver uma imagem mais clara do que a China quer de África”, explica Tsang. “Quer tornar-se o campeão do Sul Global e usar esta posição para aumentar a sua influência nas Nações Unidas e noutras organizações internacionais. A China quer que os países africanos sejam o seu ‘elenco de apoio’.”
O professor destaca que o Focac não é um encontro de iguais.
“Há uma enorme disparidade de poder. Se você concorda com a China, é bem-vindo. Ninguém dirá que discorda do que o país planeja fazer.”
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