O governo brasileiro informou neste sábado (25/1) que cidadãos brasileiros foram algemados em um voo para deportar imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Com a posse do novo presidente, Donald Trump, esta semana EUA começaram a deportar imigrantes que não têm permissão para estar no país – uma das principais promessas de campanha de Trump durante a eleição do ano passado.
Na noite de sexta-feira, um voo vindo dos EUA chegou a Manaus com 88 brasileiros a bordo. Também estavam no voo 16 agentes americanos e 8 tripulantes. A aeronave tinha como destino a cidade de Belo Horizonte, mas apresentou problema técnico e precisou pousar em Manaus.
Segundo o governo brasileiro, alguns brasileiros chegaram ao voo algemados e foram imediatamente liberados pelas algemas pela Polícia Federal.
A Polícia Federal proibiu que brasileiros fossem novamente detidos pelas autoridades americanas.
O governo disse ainda que os passageiros foram recebidos e acomodados na área restrita do aeroporto e que receberam bebidas, alimentos, colchões e foram disponibilizados banheiros com chuveiros.
O Brasil desdobrou uma aeronave KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) para completar a viagem de 88 brasileiros a Belo Horizonte. Essa aeronave chegou ao aeroporto de Confins às 21h10 de sábado.
Alguns passageiros relataram ao site G1 que foram atacados por agentes americanos durante o voo, e que o avião estava em condições precárias e ainda teve outra parada técnica no Panamá.
O que o governo brasileiro disse?
O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que o incidente é um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.
O Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, deu as boas-vindas aos brasileiros na chegada a Belo Horizonte.
“Bem-vindo ao nosso país, bem-vindo a Minas Gerais. Estou aqui a pedido do presidente Lula para acompanhar sua chegada, para fazer esta recepção. Nossa posição é que os países podem ter suas políticas de imigração, mas nunca violar os direitos humanos de ninguém e, principalmente, estou de olho nas crianças. Por isso, gostaria de pedir que as famílias com crianças tenham prioridade aqui no desembarque”, disse o ministro dentro da aeronave, segundo o governo brasileiro.
Leia a nota completa do governo brasileiro.
Na manhã deste sábado (25), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, informou ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil . A situação foi comunicada pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues.
O voo, que tinha como destino o Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte, teve que fazer um pouso de emergência, na noite de sexta-feira (24), em Manaus (AM), devido a problemas técnicos.
Seguindo instruções de Lewandowski, a Polícia Federal deu as boas-vindas aos brasileiros e ordenou às autoridades e representantes do governo norte-americano que retirassem imediatamente as algemas.
O ministro destacou ao presidente o flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.
Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula ordenou a mobilização de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar os brasileiros até o destino final, para garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública destaca que a dignidade da pessoa humana é princípio básico da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis.
O que o governo americano disse?
O governo americano não comentou oficialmente o assunto.
A BBC News Brasil solicitou um posicionamento ao Immigration and Customs Enforcement Agency (ICE) — departamento americano responsável pela imigração — e recebeu resposta automática informando que alguém do departamento responderá o mais rápido possível.
No site do departamento há duas notícias sobre prisões de imigrantes ilegais esta semana.
Esta semana, o ex-agente da Patrulha de Fronteira dos EUA, Tom Homan, foi incumbido por Donald Trump de cumprir sua promessa de realizar a maior campanha de deportação da história do país.
Como “czar da fronteira” da nova administração, Homan disse que já iniciou operações do ICE em busca de imigrantes ilegais.
“Eles sabem exatamente quem procuram. Sabem muito bem onde encontrá-los”, disse ele em entrevista à emissora norte-americana CNN.
A imprensa americana noticiou outras deportações realizadas pelos EUA esta semana.
Dois aviões militares pousaram na Guatemala na sexta-feira transportando migrantes deportados de Tucson, Arizona, e El Paso, Texas, de acordo com autoridades locais de migração e a Embaixada Americana na Guatemala.
Outra medida contra a imigração tomada por Trump em seu primeiro dia de mandato foi a assinatura de uma ordem executiva determinando o fim do direito à cidadania automática para filhos de estrangeiros nascidos nos EUA.
O que acontece agora?
O Ministério das Relações Exteriores disse que pedirá ao governo americano que explique o “tratamento degradante dado aos passageiros do voo que partiu dos Estados Unidos”.
“A decisão ocorreu após reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o brigadeiro-mor Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional”, diz um nota do governo brasileiro.
“Na ocasião, Vieira ouviu um relato detalhado sobre os incidentes no aeroporto Eduardo Gomes [em Manaus] envolvendo cidadãos brasileiros deportados.”
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