Bob Marleyque viria 80 em 2025, estava na gravação do estúdio Revolta – Aquele que se tornaria seu último álbum lançado na vida – quando recebeu um convite além da inegável Ramón Segura, diretora geral de Ariola: participe da festa de lançamento da gravadora alemã no Brasil.
Fã apaixonado da seleção nacional na época, três campeões do mundo, o cantor jamaicano, então com 34 anos, nem sequer pensaram em recusar o convite. “Rivelino, Jairzinho, Pele… o Jamaica Ele gosta de futebol por causa do Brasil: “Ele explicaria, dias depois, já em solo brasileiro.
Convite aceito, um dos maiores nomes do reggae de todos os tempos embarcou em Port of Spain, Trinidad e Tobago, em direção ao país do futebol. Marley não veio sozinho.
A bordo de um jato particular fretado pela Island Records, uma gravadora jamaicana fundada em 1959, que hoje pertence à coleção de música universal, também veio o guitarrista Marvin dos Wailers; O cantor Jacob Miller (1952-1980), do The Inner Circle Group; O executivo Chris Blackwell, fundador da Island Records, e sua esposa, atriz e modelo Nathalie Delon (1941-2021).
E a comitiva seria ainda maior se o cantor e compositor Barry Manilow, também convidado a homenagear o evento, não mudou de idéia na véspera do embarque.
De acordo com Marco Mazzola, fundador da Ariola Discos no Brasil, o vôo de Bob Marley teve duas escalas: uma em Manaus, uma em Brasília, ambas por reabastecimento.
Em Ouvindo estrelas – a luta, a ousadia e a glória de um dos maiores produtores musicais do Brasil (2007), Mazzola diz que em Manaus, os militares desconfiavam daquelas “figuras estranhas” e pediram explicações sobre o motivo da viagem.
Depois de um tempo, eles lançaram seus passaportes, mas não concederam vistos de trabalho. “Isso nos causou muita frustração”, admite Mazzola. “Tanto nós quanto nós sonhamos com uma geléia na festa de lançamento”.
Por volta das 18h30 da terça -feira, 18 de março de 1980, a aeronave pousou no Rio de Janeiro. No lobby do aeroporto de Santos Dumont, Bob Marley – vestindo uma boina de tricô chamada Tam – falou do desejo de conhecer Gilberto Gil.
Em agosto de 1979, Gil não havia lançado mais, sua versão para nenhuma mulher, em Cry, um dos maiores sucessos do repertório do artista jamaicano. “Reggae tem a mesma raiz, o mesmo calor e o mesmo ritmo que o samba”, disse ele a repórteres. Do aeroporto, Marley e sua comitiva foram para o Palácio Copacabana.
Fanático por futebol, Bob Marley não era um fã de um clube. Na Jamaica, o garoto que aprendeu a jogar bola nas ruas de Trenchtown, o pobre bairro de Kingston, a capital do país, aplaudiu a cidade de meninos. Mas na Inglaterra, seu “time do coração” era o Everton; Na Escócia, era Celtic e, no Brasil, Santos.
Na quarta -feira, 19, dia após a chegada ao Rio, o rei de Reggae venceu por Pelé, o rei do futebol, uma camisa 10 da equipe de Vila Belmiro.
Em sua visita ao Rio, Marley fez outro sonho: conhecer Paulo Cézar Lima, também conhecido como Paulo Cézar Caju, companheiro de Pelé na seleção que ganhou a Jules Rimet Cup no México, em 1970.
“O futebol fez parte da vida e da música de Bob Marley”, diz o biógrafo Gerald Hausman, organizador da antologia The Future Is the Beginning (2013). “Eu adorava acordar cedo para correr e jogar bola. Quando estava em campo, me senti revigorada”.
A única vez que ele esteve no Brasil, Bob Marley não entrou no estúdio ou subiu ao palco. Mas o bloqueador incorrigível não desistiu de mostrar suas habilidades como jogador.
O “Naked” foi marcado para o Centro Recreativo de Vinícius de Moraes, no KM 18 de Avenida Lúcio Costa, anteriormente Sernambetiba, em Recreio Dos Bandeirantes. É aqui que o “estádio” de Politheama, o time de futebol do cantor e compositor Chico Buarque, que, a lenda, nunca perdeu uma partida oficial.
“Polytheama foi a equipe Chico, Blue e Green Button, que ele fundou aos 15 anos”, explica a jornalista Regina Zappa, autora de biografias Chico Buarque: para todos (1999) e Chico Buarque – para seguir minha jornada (2011). “Então ele foi promovido a um time de futebol real. Em grego, Politheama significa: muitos shows”.
‘Eu sou um pássaro, não ornitologista’
Ao contrário de Bob Marley, que aplaudiu por diferentes clubes, Chico Buarque é um fã de uma equipe: Fluminense Football Club -paixão que herdou de sua mãe, Maria Amelia (1910-2010). Mas os dois, Marley e Chico, têm algo em comum: sempre que saem em turnê, encontram um caminho antes ou depois dos shows de bater uma bola com seus músicos ou membros da equipe técnica.
Uma vez, na ausência de um campo de futebol e uma equipe adversária, Chico e alguns membros de sua banda, como o percussionista Chico Batera, eles improvisaram uma troca de passes e alguns chutes para o gol no corredor de um hotel em Brasília.
Mas Chico não gosta de jogar futebol. Também gosta de assistir jogos de TV e, de tempos em tempos, ser um cronista esportivo – em 1998 na Copa do Mundo da França, escreveu uma coluna para o jornal O Globo.
Até criar um jogo de tabuleiro sobre futebol, Chico Buarque já criou: Ludopedium em 1969 por Grow. A única coisa que ele não gosta é teorizar sobre o futebol. “Sou um pássaro, não ornitologista”, diz ele, citando o escritor chileno Antonio Skármeta.
Desde que a Polytheama foi inaugurada em 1979, Chico e outros assumidos “Peladeiros”, como o cantor Carlhonhos Vergueiro e produtor e empresário Vinícius França, costumavam se reunir três vezes por semana – às segundas -feiras, quintas e sábados – para jogar bola.
Questionado sobre quem seria o “ás” de Polytheama, Carlhonhos Vergueiro diz que não gostaria de cometer injustiças. “Politheama é, antes de tudo, uma equipe. O relacionamento favorece as individualidades”, ele filósofo.
Naquela tarde, os Politheama ganharam alguns reforços: Toquinho, Moraes Moreira e Alceu Valença, todos recém -contratados por Ariola. Bob Marley chegou às 15h50. “Para minha tristeza, não participei deste evento histórico”, lamenta Vinícius França. “Eu estava fazendo os exames finais na PUC.”
Uma estrela entre os Peladeiros
Evandro Mesquita compareceu, mas chegou tarde. Ele estava na praia com Regina Casé e Patricya Travassos, atingindo os últimos detalhes de um ensaio do grupo teatral Asdrúbal trouxe o trombone, quando Paulo Cézar Lima o convidou para jogar bola.
“Bob Marley está na casa de Chico e quer brincar conosco. Vamos lá?” PC perguntou. Evandro quase caiu de volta. “No começo, os dois eram estranhos. Mas, como sabiam da minha paixão por Bob Marley, eles me lançaram”, o líder de Blitz está entretido.
Na beira do campo, Evandro demorou a entrar. Nenhum dos jogadores, tão cansado quanto ele, queria ceder à vaga.
Com cerca de dez minutos para o apito final, a bola escapou ao lado, Evandro fez algumas “embaixadas” e a devolveu a Bob Marley. “Sim, cara! Muito bom!” Ele exclamou, sorrindo, o jamaicano. “Prazer em conhecê -lo, cara!” “Eu amo sua música!” “Bob Marley era lindo, gentil e maravilhoso. Um gigante, bem na minha frente”, o roqueiro derrete.
Dos “jogadores” em campo, o único profissional era Paulo Cézar Caju – na época, ele defendeu as cores do clube de regata de Vasco da Gama. Todos os outros eram “Peladeiros”. A propósito, o caju, a propósito, não foi o único jogador profissional a estar presente em Politheama – Zico, Junior e Romário, três dos mais famosos, já dobrou muitos marcadores e fez ótimos objetivos lá.
No momento da criação de ambas as equipes, mas um jogador estava faltando. Foi quando eles tiveram a idéia de se reunir, com pressa, alguns funcionários de Ariola e até o jornalista João Luiz de Albuquerque. “Free Lancer”, João Luiz foi contratado por Ariola para escrever o discurso do diretor, Marco Mazzola, apresentando a gravadora para a indústria da música e a imprensa.
Boa bola ou stick?
De acordo com o jornal O Globo, de 20 de março de 1980, o “Naked” teria durado apenas 20 minutos – “dadas as condições físicas dos” atletas “”, “enfatizou o repórter.
Toquinho, uma das “estrelas” do jogo, nega esta versão. E, desperdiçando modéstia, ele acrescenta: “O melhor em campo? Agora, bolas, fui eu! Eu joguei muito naquele dia”, diz ele categórico, antes de afrouxar uma risadinha.
E quanto a Bob Marley com a bola nos pés? “Muito ruim”, resume o parceiro eterno de Vinicius. A opinião de Toquinho é compartilhada por Evandro. “Foi trabalhador, mas os jamaicanos eram meio difíceis”, diz ele.
Carlhonhos Vergueiro discorda: “Eu joguei muito bem”. Controvérsias à parte, o amistoso terminou três a zero – gols de Bob Marley, Paulo Cézar Caju e Chico Buarque.
Durante a visita de Bob Marley ao Rio, Paulo Cezar Caju fez dois desejos do cantor: comer peixe cru – o proprietário de um restaurante em Baido Leblon, muito amigo do jogador, tirou uma bandeja de sashimi – e bebendo suco de frutas.
“Viemos caminhando pelo visconde de pirajá e paramos em uma lanchonete”, lembra o jogador da biografia que eu entrei (2006), referindo -se a uma das principais ruas de Ipanema. “Então misturamos manga, abacaxi, melão e mamão e ele levou tudo a tempo”.
Um rei no Rio de Janeiro
Na noite de quarta -feira, Bob Marley, Marvin Júnior e Jacob Miller escalaram Morro da Urca, na zona sul do Rio. Eles chegaram por volta das 22h15. “Marley chegou como rei. Cheirou a base, pegou Guarana e enlouqueceu com o olhar do Rio”, observou o jornalista e escritor Nelson Motta no livro Nights Tropical: Soles, Improvisação e Memórias Musicais (2000).
A estrela noturna estava usando jeans e camiseta azul. Adepto da religião Rastafári, não consumiu álcool.
A Casa das Noites do Rio de Janeiro, em Pão de Açúcar, foi escolhida para sediar a festa de inauguração de Arioola. O primeiro lançamento da gravadora no Brasil foi o álbum, um pouco de ilusão, para Toquinho & Vinícius.
Entre os mais de mil convidados, grandes nomes de MPB, como Ivan Lins, Simone e Marina. O show de Moraes Moreira começou às 23:20, com a participação de Baby Consuelo.
Na manhã seguinte, uma conferência de imprensa, programada para começar às 11h30, foi cancelada. Motivo: o voo de volta, de acordo com os jornais da época, havia sido antecipado.
Em sua bagagem, a estrela jamaicana levou mil dólares em equipamentos esportivos e alguns instrumentos musicais, como Cuíca, Atabaque e Maracas, que compraram em uma loja Copacabana.
Havia aqueles que esperavam que, em setembro, ele voltasse a um festival de reggae em Maracanínho. Este festival que acabou não acontecendo. Em 11 de maio de 1981, quase um ano e dois meses após sua visita ao Rio, Bob Marley morreu, uma vítima de câncer aos 36 anos.
Artigo publicado originalmente em 11 de maio de 2021
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